Hoje de manhã liguei a tevê no noticiário da Globo, aquele das sete e meia, e me deparei com uma notícia curta que disse muito - e que comprova mais uma vez que o politicamente correto, se é que assim se pode chamar, ou a ingenuidade, ou a estupidez, ou sei lá o que for - está invertendo tudo e beirando até mesmo o absurdo e o patético.
Acredito que tal notícia, de não mais do que trinta segundos, nos meus cálculos, tenha chamado não somente a minha atenção como a de qualquer outro que se toque sobre o que é o jornalismo, digo não-jornalismo atual.
Vamos ao registro: a apresentadora informou, em tom de "denúncia", o acontecido com um rapaz que foi acorrentado a um hidrante ou coisa assim, na calçada de uma rua do Rio de Janeiro (creio que é o Rio, mas isso não importa), e deixado lá por algum tempo - o suficiente para chegar uma equipe de tevê. Pois o rapaz - o único entrevistado nessa história - disse, em tom de revolta e compungida lamúria, olhando fixamente para a câmera, que o grupo o abordou e o acusou de estar roubando os pedestres e os moradores, em companhia de mais dois ou três. Em seguida, eles, os bestiais agressores, saíram à cata dos ladrões, deixando o rapaz ali, preso e humilhado. Não o espancaram, não o maltrataram - apenas o prenderam, na rua e publicamente. Também não conseguiram achar e prender os demais.
Absurdo, dirão vocês. Atentado aos direitos humanos. Sociedade atingindo as raias da insanidade em seus níveis de violência e insensibilidade. Imprensa cumprindo o seu dever, noticiando as arbitrariedades e a violação dos direitos humanos nas grandes cidades brasileiras.
De fato, poderia muito bem ser tudo isso e mais um pouco, o que justificaria soberbamente a matéria e mostraria que a caluniada e incompreendida imprensa está cumprindo o seu nobre papel de defender o indefeso e humilhado cidadão brasileiro no seu duro cotidiano e denunciando os desmandos daqueles que se metem a "justiceiros".
Poderia, mas infelizmente não era. Não era por um simples e ululante motivo - motivo que estava na última linha da matéria, lida pela bela apresentadora e que dizia apenas e tão-somente o seguinte: o rapaz acorrentado no hidrante ou no muro tinha - vejam só - três passagens pela polícia, as três por roubo!...
Caramba, não entendi nada mesmo, e nem nunca vou entender, nem que se passem mil longos anos: a poderosa e justiçosa imprensa televisiva tupiniquim denuncia que esse pobre coitadinho, esse rapaz de bem, gente boa, subitamente acorrentado apenas porque estava roubando pessoas nas ruas da cidade, foi desrespeitado em seus direitos humanos por um grupo de brucutus! Onde estão os direitos humanos? Onde está a justiça?
Cáspite.Uma matéria dessas deveria ser inscrita em algum concurso de reportagens, deveria até mesmo servir de modelo de idealismo e competência profissional aos jovens estudantes de jornalismo das PUC da vida. Vejam só: um inocente rapaz, com três passagens pela polícia por roubo à mão armada, perde a liberdade e é vítima de arbitrariedades nas ruas do Rio!
Talvez a matéria não ganhasse o Prêmio Esso mas que receberia uma menção honrosa eu não tenho nenhuma dúvida. (Vitor Minas)_
Acredito que tal notícia, de não mais do que trinta segundos, nos meus cálculos, tenha chamado não somente a minha atenção como a de qualquer outro que se toque sobre o que é o jornalismo, digo não-jornalismo atual.
Vamos ao registro: a apresentadora informou, em tom de "denúncia", o acontecido com um rapaz que foi acorrentado a um hidrante ou coisa assim, na calçada de uma rua do Rio de Janeiro (creio que é o Rio, mas isso não importa), e deixado lá por algum tempo - o suficiente para chegar uma equipe de tevê. Pois o rapaz - o único entrevistado nessa história - disse, em tom de revolta e compungida lamúria, olhando fixamente para a câmera, que o grupo o abordou e o acusou de estar roubando os pedestres e os moradores, em companhia de mais dois ou três. Em seguida, eles, os bestiais agressores, saíram à cata dos ladrões, deixando o rapaz ali, preso e humilhado. Não o espancaram, não o maltrataram - apenas o prenderam, na rua e publicamente. Também não conseguiram achar e prender os demais.
Absurdo, dirão vocês. Atentado aos direitos humanos. Sociedade atingindo as raias da insanidade em seus níveis de violência e insensibilidade. Imprensa cumprindo o seu dever, noticiando as arbitrariedades e a violação dos direitos humanos nas grandes cidades brasileiras.
De fato, poderia muito bem ser tudo isso e mais um pouco, o que justificaria soberbamente a matéria e mostraria que a caluniada e incompreendida imprensa está cumprindo o seu nobre papel de defender o indefeso e humilhado cidadão brasileiro no seu duro cotidiano e denunciando os desmandos daqueles que se metem a "justiceiros".
Poderia, mas infelizmente não era. Não era por um simples e ululante motivo - motivo que estava na última linha da matéria, lida pela bela apresentadora e que dizia apenas e tão-somente o seguinte: o rapaz acorrentado no hidrante ou no muro tinha - vejam só - três passagens pela polícia, as três por roubo!...
Caramba, não entendi nada mesmo, e nem nunca vou entender, nem que se passem mil longos anos: a poderosa e justiçosa imprensa televisiva tupiniquim denuncia que esse pobre coitadinho, esse rapaz de bem, gente boa, subitamente acorrentado apenas porque estava roubando pessoas nas ruas da cidade, foi desrespeitado em seus direitos humanos por um grupo de brucutus! Onde estão os direitos humanos? Onde está a justiça?
Cáspite.Uma matéria dessas deveria ser inscrita em algum concurso de reportagens, deveria até mesmo servir de modelo de idealismo e competência profissional aos jovens estudantes de jornalismo das PUC da vida. Vejam só: um inocente rapaz, com três passagens pela polícia por roubo à mão armada, perde a liberdade e é vítima de arbitrariedades nas ruas do Rio!
Talvez a matéria não ganhasse o Prêmio Esso mas que receberia uma menção honrosa eu não tenho nenhuma dúvida. (Vitor Minas)_
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