Quem viveu os anos setenta e oitenta lembra bem dele - um galã com cara de garoto, o queridinho das adolescentes: Lauro Corona.
Em julho de 1989, quando o Brasil ainda não havia realizado a sua primeira eleição direta para Presidente da República depois do final da ditadura, e Sarney ainda estava no Palácio do Planalto, Lauro Corona morreu, aos 32 anos de idade, em uma clínica no Rio de Janeiro, vítima de infecção respiratória, septicemia, infecção oportunista, miocardite, insuficiência renal aguda e hemorragia digestiva alta. Ou seja, sabe-se hoje, morreu de Aids, muito embora tanto ele quanto a sua família insistissem em negar a existência da doença - algo que nem chegava a ser estranho para quem não assumia a sua homossexualidade.
A morte de Corona foi muito comentada, em uma época em que a Aids ainda era algo quase maldito e, pior, matava muito rapidamente - o ator faleceu apenas seis meses depois de apresentar os primeiros sintomas do mal. Foi enterrado em uma urna, na presença apenas de parentes e amigos mais próximos - a imprensa, odiada por sua família por tudo que havia comentado a respeito, foi barrada por guarda-costas. Ninguém, nem os demais atores globais, comentou ou emitiu qualquer opinião a respeito.
3 MIL VÍTIMAS EM 89 - A Aids chegou ao Brasil em 1980 e, em 1989, pouco mais de 3.500 pessoas haviam morrido infectadas. A epidemia, algo novo, assustador, era veloz, devastadora e galopante - naquele ano de 89, 32% dos brasileiros que se descobriram contaminados no mesmo ano já haviam falecido. Hoje, cuidando-se bem, pode-se viver uma vida inteira com o vírus.
Ator global, que pouco fez teatro, cara de garoto, praticante de esportes (natação, surfe, ginástica, remo), na época da geração dourada e praiana do Rio de Janeiro, com apenas 1,63 m de altura, Lauro Corona consagrou-se como o Beto, da novela Dancin' Days, do ano de 1978, um grande sucesso na época em que as discotecas explodiam como modismo em todo o mundo. Ao seu lado estava a grande amiga Glória Pires - amiga, confidente e vizinha.
Corona ganhou muitos elogios por sua interpretação. Mais tarde, depois de várias novelas, fez o papel de um gigolô, em Memórias de um Gigolô, ao lado de Bruna Lombardi, Ney Latorraca e Elke Maravilha. Também fez o português Manoel Victor, em Vida Nova - por isso chegou a ser apelidado de "o galã da novela das seis". No cinema, fez Bete Balanço e O Sonho Não Acabou, além de ter gravado dois discos. Grande amigo de Cazuza (ou algo mais) - morreu antes do colega, que àquela época já estava com a doença, e reconhecia isso abertamente.
Na vida pessoal, era discreto - gostava de receber amigos, ler revistas em quadrinhos e ver videocassete (eram os tempos, lembram?)- e, mesmo visto na companhia de mulheres, não se conhecia nenhum romance seu com colegas. A exemplo do que acontece hoje com galãs do seu tipo, apresentava inúmeros bailes de debutantes e recebia cartas apaixonadas das fãs. Em 1981, no entanto, foi processado por uso de cocaína - seu nome apareceu na lista de um traficante preso pela Polícia. Foi inocentado.
Pouco antes da sua morte, o ator estava muito magro e, na entrega do prêmio Sharp de música, no mês de abril, trazia uma expressão perturbada no rosto e um olhar vago. A esse tempo, mantinha-se isolado e recusava-se a tratar a doença - alegava que sofria de estafa pelo excesso de trabalho e até de alergia às tintas utilizadas nos cenários da novelas. Nos anos 80, o AZT era, praticamente, a única droga um pouco eficaz para deter ou amenizar os sintomas do mal. Corona nunca a utilizou - ou talvez só nos momentos finais. Segundo alguns amigos, como Ney Latorraca, ele parecia querer se convencer que não tinha mesmo AIDS. Já havia se afastado então de sua última novela, com o sugestivo título de Vida Nova.
Os anos oitenta - especialmente no final - foram trágicos no que se refere à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Rocky Hudson,Betinho, Cazuza, o escritor Herbert Daniel, o artista plástico Jorge Guinle Filho (filho do playboy, milionário e mulherengo Jorge Guinle) , entre outros, desenvolveram a doença, que "secava" e matava rapidamente. O pior, porém, era o estigma e o preconceito da sociedade - muitos se recusavam até mesmo a dar a mão a um aidético, temendo o contágio.
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