quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Escore do HSL avalia risco de pré-operatório

Um escore desenvolvido no Hospital São Lucas da PUCRS permite avaliar de forma mais precisa o risco pré-operatório de pacientes que precisam ser submetidos à cirurgia cardíaca para a troca de válvulas (cirurgia valvar). É o primeiro instrumento desenvolvido no Brasil com essa finalidade.
Os hospitais brasileiros costumam se orientar pelo chamado EuroSCORE, que não contempla exatamente as características da população brasileira. A escala, criada a partir dos dados das cirurgias de válvulas realizadas na última década na instituição, aparece como uma proposta para os demais hospitais brasileiros, que poderão testar a metodologia e adaptá-la à sua realidade. O instrumento, desenvolvido pelo cardiologista João Carlos Guaragna, será apresentado no Congresso Brasileiro de Cardiologia, em setembro, na Bahia.
No mundo inteiro é muito estudada a cirurgia de revascularização miocárdica, conhecida popularmente como ponte de safena. Existem mais de 100 escores. O mais comum é o EuroSCORE, que foi feito em vários centros europeus. “Só que ele não serve especificamente para a cirurgia de válvula”, afirma o médico. Já existem instrumentos específicos, mas em poucos centros no mundo, como Reino Unido, Nova Iorque e New England
. Na prática, o cardiologista ressalta que o escore europeu superestimava ou subestimava o risco dos pacientes em muitos casos.
O trabalho
O escore foi criado por Guaragna em sua tese de doutorado, defendida no final de 2008. Diversos fatores foram analisados na tese: idade, sexo, tipo de cirurgia (valvar isolada ou associada à ponte de safena), pressão alta, diabetes, ocorrência de AVC, capacidade funcional do paciente, função renal etc.
Resultado final
O trabalho identificou quais fatores foram importantes para a mortalidade dos pacientes. O estudo constatou que apresentam os maiores riscos:
- Pessoas acima de 60 anos;
- Pacientes submetidos a cirurgia valvar de emergência;
- Mulheres;
- Pacientes que apresentam a força do coração diminuída ou que fizeram cirurgia de ponte de safena junto;
- Pacientes com pressão alta nos pulmões;
- Pacientes com falta de ar após esforço pequeno ou, até mesmo, em repouso;
- Paciente com função renal um pouco ou bastante alterada.
Escore
A partir desses fatores, houve a criação de uma espécie de tabela onde é inserido o risco de óbito. Dependendo da quantidade de pontos obtidos, é possível estimar o risco do paciente em baixo, médio, alto, muito alto ou extremamente elevado. Outras instituições poderão adaptar o escore à sua própria realidade. Guaragna enfatiza que é preciso ter consciência de que o instrumento funciona como uma estimativa. A tese será enviada para publicação nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia.
Cirurgia valvar
Em torno de 30% do movimento cirúrgico cardíaco é de procedimento envolvendo válvulas. No Hospital São Lucas da PUCRS existe o Ambulatório de Valvulopatias. O paciente fica ligado à instituição com consultas periódicas e se consegue identificar o momento certo de indicação para a cirurgia.
A mortalidade no procedimento ainda é alta em determinadas situações. Por exemplo, se a cirurgia valvar é realizada em caráter de emergência, a chance de o paciente morrer é de 60%. Para evitar que a situação chegue a esse ponto, o ideal é realizar a cirurgia o mais precocemente possível. “É preciso operar na hora certa, não deixar passar o melhor momento e isso inclui pessoas que não sentem nada, aquelas que descobrem uma patologia grave em uma consulta de rotina”, destaca. Nesse caso, a mortalidade pode ser tão baixa quanto 2%. O procedimento é indicado em casos de pacientes cujas válvulas cardíacas têm seu funcionamento comprometido por alguma patologia como, por exemplo, febre reumática, endocardite (infecção) ou por calcificação acentuada.

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