sábado, setembro 15, 2012

Nos anos 60 Botânico era uma grande chácara

Outro antigo morador do bairro (embora não tenha nascido aqui) é Rui Cintra, de 56 anos, dono de um pequeno bar nos fundos do Supermercado Gecepel, na Guilherme Alves. Suas lembranças remontam aos anos sessenta, quando o bairro era formado por casas de madeira, chácaras, plantações de agrião e de flores, a Guilherme Alves e a Barão do Amazonas eram ruas de chão batido, com esgotos a céu aberto que corriam livremente às margens das vias.
“A Guilherme Alves não tinha nem saída, ia-se até a Valparaíso e do outro lado era um banhadal. Em volta do riacho havia um monte de malocas e uma ponte de madeira que dava passagem para o Campo de São Pedro, que é hoje a Vila Cachorro Sentado”, conta ele, recordando que ainda se tomava banho e se pescava no Arroio Dilúvio, especialmente a montante, nas alturas de onde hoje é a PUC. “Lá existia uma ponte de madeira e famílias inteiras iam lá, passar o dia, tomar banho, tinha muita areia ali”.
Por essa época o local onde hoje está o Conjunto Residencial Felizardo Furtado existia a Chácara Nossa Senhora do Caravaggio, provida de uma pequena vertente, o chamado “parquinho”. Seu Rui recorda de muitas outras do mesmo tipo – a chácara do seu Zé, dos Pieretti, das Camélias. Acima, mais adiante havia o campo do Sul Brasil. Diferentemente de hoje, as ruas nem sempre levavam a outras ruas. “A Salvador França, por exemplo, só ia até a Felizardo, depois era mato, para se ir à Protásio se seguia pela Tibiriçá, onde hoje está o posto de gasolina do Darci”, afirma ele.
Em meados dos anos setenta, quando se iniciou a construção dos blocos residenciais, vieram milhares de trabalhadores, muitos deles provenientes do interior do Estado – e isso modificou totalmente a paisagem do bairro. “Antes todo mundo se conhecia e se cumprimentava, quando chegou essa turma mudou tudo, a rua Felizardo encheu de gente indo e vindo, virou quase uma rua da Praia”, rememora Rui.
Desse período merece destaque o bar da Dona Tida (da família dos “Bravos”), uma antiga moradora, já falecida, que adaptou a sua casa de madeira, na Felizardo (onde hoje está uma creche), e a transformou em bar e restaurante, com mesas de sinuca, venda de bebidas e refeições disputadas pelos trabalhadores da obra. “De vez em quando dava confusão ali”, informa. Já havia, então, o armazém dos Mocelin e, mais adiante, na esquina com a Barão, o do seu Alécio. Para aumentar a renda, aproveitando a vastidão dos terrenos, algumas famílias faziam puxados e alugavam pequenas peças que serviam de moradia os trabalhadores.
ANOS SESSENTA – Quem viajasse no tempo e retornasse aos anos sessenta e início dos setenta no Jardim Botânico encontraria um bairro quase rural, com um reduzido número de prédios e estabelecimentos comerciais. Já havia, é certo, um posto de gasolina na Barão com a Valparaíso (continua a existir) e também uma padaria (Barão com Felizardo), no mesmo local e no mesmo prédio em que há uma hoje. “Do outro lado, na Felizardo, havia um campinho de futebol, muito usado pela turma dos Bancários”, recorda seu Rui. “Na esquina da Barão com a Itaboraí havia o comércio do seu Antonio, relativamente forte. Tinha também o seu Edu e dona Maria. E onde hoje está o Bora-Bora era um terreno, um comércio onde se fazia argamassa que muita gente vinha buscar de carroças. Do outro lado era um comércio forte, o armazém do seu Caboclo.
Uma curiosa indústria que existia na época tinha muito a ver com o bairro – uma fábrica de artefatos para cavalos e carroceiros localizada na Guilherme, defronte à atual igreja de São Luís, e que produzia não somente carroças como ferraduras. “Era do seu Lúcio. Ele era, por assim dizer, o industrial da ferradura e se dava bem porque aqui tinha muito carroceiro e muitos cavalos. Tinha vários empregados e foi a nossa primeira montadora, muito antes da GM”, recorda, divertido, seu Rui.
Nesse mundo tão pequeno, o lazer era igualmente simples. “Na Semana Santa se passava filmes em um bar da Valparaíso com a Salvador, se colocava um grande pano branco na parede e todo mundo se reunia para assistir filmes religiosos”. Os cinemas mais próximos eram o Ritz, o Miramar e o Brasil, este último próximo ao Partenon Tênis Clube, onde atualmente está um posto de gasolina.

Franck Sinatra sempre foi fascinado pelo crime


PUBLICADO EM 2008
Quinta-feira, 14 de maio de 1998, um hospital de Los Angeles, Califórnia. Nessa noite aquele que já foi considerado "A Voz" - um dos melhores cantores populares do século 20 - deu o seu último suspiro: morria assim, aos 82 anos, de ataque cardíaco, Francis Albert Sinatra, o filho de uma família pobre que, como disseram alguns, nem deveria ter nascido, tantas as dificuldades na hora do parto. Sua mãe, uma imigrante italiana (era de Gênova), e seu pai, um bombeiro, eram católicos, moravam na pequena cidade de Hoboken, em Nova Jersey, e nada indicava que o filho único de um casal tão modesto desse ao mundo, naquele dia 12 de dezembro de 1915, um dos mais bem sucedidos artistas que o mundo já viu.
O seu nascimento foi, realmente, complicado, tanto que quase morreu estrangulado durante o parto, teve um tímpano furado e algumas cicatrizes no rosto e, segundo ele dizia, "até na alma". A família era pobre, pelos padrões norte-americanos, e ele cresceu fraco, raquítico pode-se dizer, além de dono de uma estranha timidez e de um comportamento solitário que não lhe ajudava na hora de fazer amizades com outros gratos.
Aos 16 anos fugiu da escola para me meter em cinemas e casas de música, isso no começo dos anos 30. Anos mais tarde, diria - talvez com certo histrionismo, talvez com boa dose de verdade: "Se não fosse a música, eu teria me tornado um gângster".

Na verdade, os gângsters sempre o fascinaram e ele teve muitos como amigos - o FBI tentou provar suas ligações criminosas mas nunca conseguiu nada que pudesse levá-lo às barras dos tribunais. A Máfia, aliás, teria sido responsável pelo seu ressurgimento, no tempo em que ficou quase no ostracismo, esquecido pelo grande público e enfrentando uma série de problemas pessoas, entre eles o alcoolismo: como os mafiosos eram donos das principais casas de espetáculo dos EUA, abriam a ele as portas e o adotaram como um dos seus protegidos, colocando-o novamente na ribalta. Contrariando as teses dos anti-tabagistas, Sinatra - que fumava um cigarro atrás do outro ("só não fumo quando estou no chuveiro") durou longos 82 anos de uma vida agitada e, talvez, bem vivida. Sincero, disse que "papo de tragédia da fama não existe. A tragédia da fama é quando ninguém aparece e você está cantando para a faxineira num botequim vazio que não recebe um cliente pagante desde o dia de São Nunca".

São Lucas, o moderno hospital do Jardim Botânico, foi inaugurado pelo presidente da República

PUBLICADO EM 2008, REPUBLICADO AGORA
Muita gente não se recorda, mas o Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica, PUCRS, é irmão do Condomínio Habitacional Felizardo Furtado. Pelo menos na data de inauguração e na pessoa inauguradora – o então presidente da República Ernesto Geisel.
Foi ele quem cortou a fita inaugural do primeiro hospital da Congregação dos Irmãos Maristas em todo o mundo (hospital que muita gente, erroneamente, pensa não estar localizado no Jardim Botânico). O dia era 29 de outubro de 1976, uma sexta-feira, e o São Lucas surgiria ao mundo como “Hospital Universitário da PUCRS” - um hospital geral, destinado a pacientes adultos e crianças e também um local de estágio para os mais de 800 alunos de vários cursos da PUC. As obras haviam iniciado em 1972 e, em 1973, estavam concluídos os laboratórios, colocados à disposição para o ensino médico, com os estudantes do curso de Medicina atendendo sob orientação dos professores da Faculdade. Em 1982, por razões jurídicas – e também por ter mudados seus objetivos iniciais – passou a ter a denominação atual.
200 MILHÕES DE CRUZEIROS - A construção só foi possível graças a subvenções estaduais (seis hectares foram doados pelo Governo do Estado), subvenções federais e financiamentos externos, além dos recursos da própria PUC. O São Lucas foi o trigésimo nono hospital de Porto Alegre e aproveitou a primeira turma do curso de Medicina da Universidade, formada em 1975. O custo total da obra foi de 200 milhões de cruzeiros – o que valeria isso hoje?
Na época da inauguração tinha 40 mil metros quadrados de área construída, capacidade para 600 leitos, 27 ambulatórios, além de laboratórios, salas de raio X, etc. Um completo equipamento para atendimento geriátrico veio do Japão e, em breve, passaria a contar com setor de Medicina Nuclear e Praxiterapia. O Centro Cirúrgico contava com 12 salas. O início do funcionamento, entretanto, não seria imediato.
Naquele 29 de outubro, depois do Presidente ter inaugurado o Condomínio Felizardo Furtado, sua comitiva deslocou-se até a avenida Ipiranga, onde foi recebida pelo Irmão José Otão, Reitor da PUC, pelo Cardeal D. Vicente Scherer e por um grupo de professores. Geisel – que tinha a seu lado o governador Sinval Guazzelli – descerrou a placa comemorativa e D. Vicente deu a benção.
Atualmente circulam pelo São Lucas cerca de 18 mil pessoas, todo dia, muitas delas vindas de outros Estados. A área construída, neste momento, é de 55 mil metros quadrados, sendo 49 mil de hospital e seus serviços e 6 mil do Centro Clínico. Cerca de 2.300 funcionários trabalham no local, sendo 170 médicos residentes e um corpo clínico de outros 550 médicos. O estacionamento é suficiente para 1.500 veículos. Internamente, são 549 leitos para pacientes internados, sendo 440 de internação convencional e 78 de UTIs – adultos, coronariana, pediátrica e neonatal – além de 22 leitos de observação para pacientes de urgência. O ambulatórios está projetado para 110 consultórios e atualmente passa por modificações.
CENTRO DE REFERENCIA - O Centro Clínico foi inaugurado em 1988, e abriga 160 conjuntos, 64 especialidades médicas e é destinado preferencialmente aos professores da Faculdade de Medicina. Mantido pela UBEA – União Brasileira de Educação e Assistência, uma entidade civil da congregação dos Irmãos Maristas em Porto Alegre – o São Lucas tem nove pavimentos, sendo o último com apartamentos de internação particular e de luxo. Atende também pelo Sistema Único de Saúde, SUS, e seu objetivo oficial é “ser reconhecido, no Brasil, até o ano 2010, como um hospital padrão de referência em gestão, assistência, ensino e pesquisa em saúde”.
O nome homenageia São Lucas, apóstolo, médico e padroeiro dos médicos.

terça-feira, setembro 11, 2012

Condominio do IPE tem 218 apartamentos, estrutura simples e sólida e 41 anos de vida

São três andares, 218 apartamentos (máximo de 16 por andar) de dois, três e quatro dormitórios e seis lojas que estão fechadas. Localizado entre a avenida Ipiranga, a rua Alcebíades Caetano da Silva e a Chile, o Conjunto Residencial Emanuel Domingues foi inaugurado em 1971. Destinado inicialmente a funcionários públicos, era um projeto do Instituto de Pensionistas do Estado, IPE, que financiava os imóveis pelo esticado prazo de 15 ou 20 anos. Aos poucos, como é natural, passou a ser habitado por um público variado, mas sempre de classe média e, em sua maioria, idosos – no caso dos proprietários. “Já os que alugam são geralmente jovens”, informa Clari Tende, ex-síndica geral e moradora do condomínio há 19 anos.


PUBLICADO EM 2008, republicado agora, na íntegra

Anterior ao Felizardo Furtado e ao da Corsan, o Emanuel Domingues não conta com elevadores e nem um sistema permanente de vigilância – que acontece somente à noite, aos finais de semana e nos feriados. Os furtos e roubos, porém, não chegam ainda a ser um problema, apesar da localização junto à avenida, garante a síndica.
A infra-estrutura do Residencial é bastante simples: algumas churrasqueiras e uma pequena pracinha para as crianças. Não existem elevadores. Estacionamento existe, mas não em quantidade suficiente.
Erguido em uma época em que o bairro era ainda uma espécie de vila formada por muitas casas de madeiras, terrenos baldios e antigos e pequenos prédios de alvenaria, o Emanuel Domingues (homenagem a um antigo morador do Jardim Botânico, dizem alguns) foi projetado originalmente para ir até a rua Valparaíso (por onde, em 1971, passava o Riacho Ipiranga), o que não aconteceu devido às invasões do local.

A freira cantora que fez o maior sucesso, superou Elvis Presley e, pobre, acabou se matando

* PUBLICADO EM 16 DE SETEMBRO DE 2006, republicado agora. 713 visualizações.

Dominique, nique, nique... Dificilmente alguém não conhece esse refrão de uma música do mesmo nome, um dos maiores sucessos das paradas musicais de todo o mundo no ano de 1963 e gravado por dezenas de outros cantores, em variados idiomas, inclusive em português. Fez tanto sucesso que deixou até mesmo Elvis Presley comendo poeira.
Pois a autora de Dominique, ao contrário do que se possa pensar, não ficou rica e não teve uma vida glamourosa. Pelo contrário: Jeannine Deckers, uma freira dominicana do interior da Bélgica, suicidou-se em 29 de março de 1985, quando tinha apenas 52 anos de idade. Ela ingeriu um coquetel de bebidas alcóolicas e barbitúricos. Com ela estava sua companheira, Annie Pescher, uma enfermeira de 41 anos. As duas haviam feito um pacto de morte, finalmente concretizado em um pequeno apartamento da cidade de Wavre, nas proximidades de Bruxelas.
Jeannine já não era mais freira havia tempo - na verdade deixou o convento no ano de 1966, tentando seguir na carreira artística e emplacar novos sucessos. Só que isso não aconteceu e a vida da "Irmã Sorriso" encheu-se de complicações de toda ordem. O Fisco belga resolveu cobrar a sua parte na arrecadação de "Dominique", só que a autora e cantora - que fizera voto de pobreza - já havia doado tudo à sua congregação religiosa. Esta, por sua vez, alegou que a doação já havia sido gasta em obras assistenciais e que não havia recibo a provar o valor doado.
Naturalmente, a corda estourou do lado mais fraco - processada, Jeannine teve todos os seus poucos bens penhorados. O Fisco também passou a confiscar tudo o que ela ganhasse, deixando apenas o mínimo necessário para a sua sobrevivência.
Sobrevivência que ela garantia com aulas de violão e exposições de pintura.
A ex-freira tentou ainda fundar uma instituição de caridade, de apoio a pessoas deficientes, mas não conseguiu verbas para viabilizar o projeto. Profundamente deprimida, ela passou a falar em suicídio, fato consumado na noite de 29 de março de 1985. Triste fim para a autora de uma música tão ingênua e cândida.

Bourbon Ipiranga foi inaugurado em 1998, com Artur Moreira Lima em concerto exclusivo

PUBLICADO EM JULHO DE 2008, republicado agora

Ele foi, e é, o mais importante estabelecimento comercial do Botânico, o empreendimento que modificou as características do bairro e valorizou toda a região à sua volta.
Visto da Ipiranga, torna-se ainda mais grandioso – e quem não se lembra dos vários anos da sua construção, em um terreno que faz parte da história do JB, com dois campinhos de futebol varzeano? Pois ali (avenida Ipiranga, 5200), em 16 de novembro de 1998, implantou-se o Borbon Ipiranga, empreendimento do grupo Zaffari, empresa que fatura mais de 1,5 bilhão de reais por ano, emprega cerca de 8 mil pessoas e é a quarta maior receita do setor no Brasil e a única entre as quatro grandes redes de supermercados com capital cem por cento nacional.
Fazer compras ou simplesmente passear no shopping Ipiranga é um programa quase obrigatório para todos os moradores do Jardim Botânico e dos seus arredores. Pudera: de porte médio, acolhedor, com 70 mil metros quadrados de área construída, 52 pontos comerciais, vários quiosques de serviços, uma praça de alimentação com 700 lugares, o local conta ainda com um hipermercado aberto das 8 horas da manhã até à meia-noite e que também funciona aos domingos.
Ali é possível se assistir aos mais recentes lançamentos cinematográficos, para todas as idades, em algum dos oito cinemas da marca Cinemark, inclusive em horários matinais, a preços reduzidos. Nerão se encontra um bom chope, uma comida portuguesa (restaurante Calamares), café e música ao vivo, além de concertos comunitários e cantores e instrumentistas de qualidade que tocam na praça de alimentação, não só música popular brasileira, como pop, rock, baladas, bossa nova.
No interior do Ipiranga estão vários caixas eletrônicos, uma agência da Caixa Econômica Federal, uma casa de jogos e uma banca de revistas extremamente sortida, com centenas de títulos em todas as áreas. Há, ainda, mais de uma dezena de telefones públicos, banheiros em perfeito estado de limpeza e fraldários. Externamento, no subsolo, o estacionamento abriga centenas de veículos.
GIGANTE – O grupo Zaffari é totalmente gaúcho, o único entre os quatro grandes com capital totalmente nacional e gestão familiar (apesar de muito assediado por grupos estrangeiros).
Os hipermercados Zaffari são voltados para um público classe A e B, que buscam variedades de produtos, atendimento especial e conforto na hora das compras.
Costuma-se dizer que o Zaffari não briga por preços pois disputa um segmento mais abastado. No ano de 2004 a rede faturou 1,3 bilhão de reais, com receita por metro quadrado de 11,2 mil reais – maior que o líder mundial norte-americano Wal-Mart. A empresa, no entanto, não costuma revelar os valores dos seus investimentos.
Além de, recentemente, ter comprado o estádio do tradicional clube de futebol Força e Luz, no vizinho bairro de Santa Cecília (negócio de 9,5 milhões de reais), investiu pesadamente em São Paulo, no bairro de Perdizes, área nobre da cidade. Lá, recentemente, abriu um Bourbon voltado para a classe, com 175 mil metros quadrados (quase três vezes maior do que o Ipiranga) de área construída, cerca de 200 lojas e 10 cinemas. A idéia é competir com o grupo Pão de Açúcar e suas lojas especiais – o investimento total não foi revelado.
No Rio Grande do Sul, o Zaffari compete com o grupo Sonae (marcas Nacional, Big e Maxxi), que agora pertence a Wal-Mart.
Nada mau para uma empresa que iniciou em 1935, quando o fundador Francisco José Zaffari e sua esposa Santini de Carli montaram uma pequena loja de comércio na Vila Sete de Setembro, no interior de Erechim. Anos mais tarde a empresa expandiu-se para Herval Grande.
Nos anos cinquenta os negócios iam tão bem que a família inaugurou as primeiras filiais nas localidades vizinhas e, em 1960, chegou a Porto Alegre, abrindo um atacado. O Zaffari atua, desde os anos 80, na industrialização e comercialização de alimentos e é dono, hoje, das marcas Café Haiti e biscoitos Plic-Plac.
* Zaffari Bourbon Ipiranga – Tel.: 3315.5111









Na inauguração, Arthur Moreira Lima



A inauguração do Bourbon foi uma solenidade e tanto: naquele dia 16 de novembro de 1998 mais de 2 mil pessoas se acotovelaram na esquina da Ipiranga com Guilherme Alves para assistir aos festejos e aos discursos. Primeiramente o consagrado pianista carioca Arthur Moreira Lima executou o hino nacional brasileiro. A orquestra e o coral da PUC também se apresentaram para o público e para uma comitiva de autoridades que incluía o prefeito em exercício de Porto Alegre, José Fortunatti. A matriarca da família Zaffari, dona Santina, viúva do fundador Francisco José, fez o corte da fita inaugural, tendo ao seu lado o diretor-superientende da Cia Zaffari, Marcelo Zaffari.
Disse Marcelo: “Este shopping é uma flor com pétalas de concreto e vidro que se abre no bairro Jardim Botânico para tornar Porto Alegre ainda mais bela e agradável”.
PRÉDIO INTELIGENTE – Concebido pelos mais modernos padrões arquitetônicos, tendo em vista a satisfação e o bem estar dos clientes e visitantes, o Bourbon ocupou 1350 empregados diretos na sua construção. O terreno tem 39 mil metros quadrados (dos quais o hipermercado ocupa 10,8).
Um sistema de última geração controla toda a infra-estrutura do prédio: climatização, segurança das portas, rede hidráulica e até a refrigeração automática dos alimentos. A energia elétrica é garantida por três subestações que atendem de forma independente os cinemas, o shopping e o hipermercado.
O Borbon faz parte dos chamados “prédio inteligentes”, tanto que, em caso de queda da energia elétrica, ela é automativamente ativada por um sistema automático que garante energia contínua por mais 24 horas, bem como a regulagem da temperatura do ar condicionado central.
A obra, que revolucionou a vida do Jardim Botânico, trouxe inúmeros benefícios para a comunidade. A ponte sobre o Dilúvio, na Guilherme, por exemplo, foi construída naquela ocasião, em uma parceria entre a empresa e a Prefeitura. Também foram asfaltadas as ruas em volta do complexo, foi aberta a 18 de Setembro para o tráfego e se investiu em iluminação pública e em obras do esgoto cloacal na Guilherme Alves, na 18 de Setembro e na avenida Ipiranga.
Por outro lado, a associação dos moradores acompanhou de perto todo o processo de instalação. Em reunião com representantes da Cia Zaffari, a AMAJB (conforme a então secretária Laura Ferreira) cadastrou cerca de 500 moradores do bairro e imediações que desejassem trabalhar ali, sujeitos posteriormente ao processo de triagem e seleção.

segunda-feira, setembro 10, 2012

Varig, 1989: quando o piloto foi herói e vilão

PUBLICADO NESTE BLOG EM 2007, REPUBLICADO AGORA
Domingo, 3 de setembro de 1989. O Brasil estava em plena campanha eleitoral, nas primeiras eleições diretas para Presidente da República depois da redemocratização que sucedeu o regime militar. Nesse dia, às 9 horas da manhã, o Boeing 737-200, prefixo PP-VMK, da Varig, decolava para uma viagem (vôo 254) que se transformaria em um estranho desastre aéreo, matando onze pessoas. Partindo de São Paulo, o vôo tinha como destino a cidade de Belém do Pará, passando por Marabá, no sul daquele estado. A bordo, nessa última escala, estavam 48 passageiros. Muitos já haviam desembarcado antes, em aeroportos como o de Uberaba, Uberlândia, Goiânia, Brasília e Imperatriz do Maranhão - afinal, era um típico roteiro "ping-pinga".Quando já estava começando a cair a noite o avião - pilotado pelo comandante César Augusto Padula Garcez, de 32 anos - sobrevoava a selva amazônica, onde não há pistas de pouso e qualquer problema se torna um grande problema.
Naquele momento, sem saber, o piloto estava completamente perdido, sem saber o que fazer. Na verdade, ele havia cometido um erro grotesto em seu plano de navegação: em vez de acionar a rota de 27 graus norte, direcionou o avião para 270 graus oeste - o que, se levado a efeito, em linha reta, levaria o aparelho a sobrevoar a Cordilheira dos Andes, rumo a La Paz.Acontece que, ao descobrir o erro, o piloto também descobriu que já não tinha combustível e o jeito foi mesmo tentar, em plena noite, sem nenhuma luz a orientá-lo, tentar uma aterrissagem em uma clareira da floresta amazônica, na região de São José do Xingu, no Mato Grosso, a 500 quilômetros da cidade de Carajás e 1000 de Belém do Pará.Quase milagrosamente, e graças à maestria do piloto abilolado, o avião de 56 toneladas pousou corretamente na selva: o piloto reduziu a velocidade a 210 km por hora e, usando os flaps (freios aerodinâmicos), caiu de cauda e depois pousou o resto do corpo, o que amenizou o impacto. Quando, por fim, o inferno daquele momento passou, quando a maioria dos passageiros certificou-se de que estava vivo, quase uma dezena de passageiros estavam mortos. A maioria morreu esmagada pelas poltronas que se soltaram na hora da aterrissagem.Naquele instante, para os sobreviventes, incluindo dezenas de feridos, iniciava um outro drama: esperar pelo resgate, o que só aconteceria na quarta-feira. Uma série de trapalhadas, descaso e incompetência das autoridades aeronáuticas e militares custou a vida de mais algumas pessoas que se encontravam feridas, em estado grave.

Astronautas da Apolo 11 iriam se suicidar na Lua?

MATERIA PUBLICADA NO CONSELHEIRO X EM 2006, no seu início.

Pouca gente sabe, mas a missão Apolo 11 - aquela que chegou à superfície lunar pela primeira vez, em julho de 1969 - tinha grandes possibilidades de acabar em tragédia. Conforme um memorando encontrado nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, por ocasião dos 30 anos da conquista da Lua, havia o temor de que os dois astronautas que colocaram os pés no solo do satélite terrestre, Armstrong e Aldrin, não conseguissem mais retornar para a Nave Mãe, que ficou orbitando no espaço, com Collins no comando. Se houvesse algum problema com o módulo lunar Eagle (Águia), aquele que pousou na Lua com os dois astronautas e, duas horas e meia depois, voltou à nave principal, a ordem da Nasa é para que eles fossem abandonados na superfície lunar. Collins, então, deveria regressar à Terra, sozinho, já que não teria condições de efetuar uma missão de salvamento. Segundo os documentos, os três astronautas sabiam desse risco e estavam preparados para serem "heróis ou mártires".
O presidente Nixon, inclusive, já tinha preparado uma mensagem presidencial ao Mundo, falando da tragédia. Um dos trechos: "O destino determinou que esses homens que foram à Lua explorá-la em paz nela descansassem em paz para sempre. Outros exploradores seguirão rumo ao espaço e certamente encontrarão o caminho de volta. A busca humana não será abandonada. Mas esses homens foram os primeiros e eles permanecerão para sempre no nosso coração como os verdadeiros pioneiros."
Mais: se não conseguissem voltar, Armstrong e Aldrin teriam oxigênio para apenas 36 horas lá em cima e certamente experimentaram uma morte nada agradável, a 382 mil quilômetros de casa. Segundo informações não confirmadas, os dois carregavam consigo cápsculas de cianureto, a fim de abreviar o sofrimento.
O arquivo do memorando está arquivado sob o título "Na eventualidade de desastre na Lua" e foi redigido pelo então porta-voz de Richar Nixon, William Safire.
Para saber mais, consulte a revista Veja de 21 de julho de 1999, página 56 e 57, "Prontos para Morrer", de Daniel Hessel Teich.

Saudade dos velhos tempos do Otávio de Souza

MATERIA PUBLICADA EM 2008, QUANDO O BOTANICO COMPLETOU 50 ANOS DE BAIRRO E REPUBLICADA AGORA

Dona Nídia Ricciardi de Castilhos foi professora e diretora (sete anos) da escola Otávio de Souza, época em que também residia no bairro. Mais de meio século depois, ela lembra do Jardim Botânico (mora hoje na Barão) como uma ilha de tranquilidade e do Otávio de Souza como um colégio de pais interessados e alunos comportados, muitos dos quais a encontram na rua nos dias de hoje: “Eles ainda me cumprimentam e perguntam como estou”, diz.
Natural do Alegrete, na Fronteira, 77 anos de idade, ela começou a dar aulas no antigo Otávio de Souza no distante ano de 1954 – ou seja, 52 anos atrás. Nessa época, recém casada, morava na rua Surupá, “em uma casa de alvenaria, alugada da família Scherer, que tinha muitas casas aqui.” O Otávio só ia até a quinta-série, era ao lado da ESEF e todos, segundo ela, “eram todos do Botânico e todos muito bonzinhos”.
A vida era simples, então, todos se conheciam e aos domingos muitas famílias faziam piqueniques no recém-inaugurado Jardim Botânico. A avenida Salvador França – que ia somente até a rua Felizardo – já era uma avenida movimentada, garante, “muito larga, de terra batida, com muitos ônibus passando”. A Vila dos Bancários já existia, a maioria das residência do bairro eram de madeira e o armazém do Antonio Mocelin, no final da linha do ônibus, era o centro de tudo, uma espécie de supermercado da época. “Depois veio o seu Alécio, na esquina com a Barão do Amazonas. “Lembro que havia um açougue na esquina da Valparaíso com a Salvador França e um mercado do outro lado, de uns alemães”, recorda. “O prédio que está na esquina da Salvador com a Surupá também já existia, acho que foi o primeiro prédio daqui. Esses dias eu voltei na rua Surupá, não reconheci e perguntei a uma pessoa que rua era aquela. Sabe o que ela respondeu: é a rua em que a senhora morou!... Sei que está diferente, muito bonita”.
Para matar as saudades desse tempo, dona Nídia e as antigas professoras e amigas do colégio Otávio de Souza reúnem-se uma vez por mês. “Tomamos chá e falamos daquela época”, conta ela.

Talidomida, o calmante que deformou crianças

As pessoas mais velhas e bem informadas ainda lembram bem deste nome: Talidomida. Prescrito como calmante e sonífero no final dos anos cinquenta e início dos sessenta, o medicamento (na verdade Talidomida é o seu nome químico e não o de vendas) transformou-se em um sinistro sinônimo da ganância monstruosa da indústria farmacêutica. Lançada sem a devida comprovação de seus efeitos colaterais, testada apenas em ratos, produzida em dezenas de países com nomes comerciais diferentes (Contergan, Distaval, Kevadon, Softnon, Talimol etc), a substância foi sintetizada pelo laboratório Chemie Grünenthal, de Nordrhein-Westfalen, na então Alemanha Ocidental e, dentro em breve, logo após o seu lançamento comercial, em 1956, (como anti-gripal e com o nome de Grippex), transformou-se em uma mina de ouro para a indústria, a qual investiu pesadamente na sua divulgação.
Na verdade, a partir de tal substância, fabricava-se inúmeras marcas comerciais que, somente em um ano, na Alemanha, venderam a assombrosa quantidade de 14 toneladas. Mais de 20 outros laboratórios, em diferentes países de todo o mundo, foram licenciados para a sua produção. No Brasil, a Talidomida chegou em março de 1958, nas marcas Ectiluram, Ondosil, Sedalis, Sedim, Verdil e Slip, todas vendidas sem a exigência da receita médica. Era, então, considerado o melhor soporífero jamais inventado, passando também a ser utilizado contra a gripe, a nevralgia, a asma, a tosse e, sobretudo, como antiemético para as mulheres grávidas.Foi justamente aí que ele fez história - uma tétrica história: receitado para muitas grávidas em início de gestação, ingerido em pílulas brancas, era um sedativo barato que provocava um sono rápido, profundo e natural, sem a característica "ressaca" da manhã seguinte. De igual forma, podia ser ingerido em doses maciças que não causaria a morte do paciente, nem mesmo se este quisesse praticar o suicídio. Ideal, e, como logo se viu, fatal, ou pior que isso, para os fetos em início de formação.
Usado nos primeiros 40 dias da gestação, atuava como teratogênico - ou seja, produzia monstros, se é que, infelizmente, assim se pode falar de suas vítimas, calculadas em cerca de 10 mil em todo o mundo. As crianças nasciam muitas vezes sem dois, três ou até quatro membros, dentre tantos outros efeitos observados.A má-formação dos membros tinha um nome científico: focomelia (do grego "phoke" - foca- e "melos" - membros), ou "membros de foca". Os braços dos recém-nascidos surgiam como tocos abaixo dos ombros, semelhantes às nadadeiras das focas. Também se observou deformação dos olhos, do esôfago e do tubo digestivo. De cada duas crianças nascidas assim, apenas uma sobrevivia. Sem entender o porquê daquilo, com problemas de consciência, algumas mães enlouqueceram e outras chegaram a praticar o suicídio. Em 1961, os casos de "focomelia" já eram tantos que se falava em uma "epidemia".
De início foi extremamente difícil descobrir-se a origem de tal fenômeno, o elo comum. Pensou-se nos alimentos, na água, até em poeira atômica. Porém, graças a duas pessoas precisou-se exatamente a Talidomida como o fator causador. Uma delas, o advogado Karl Schulte-Hillen, de 32 anos, não havia aceito a explicação "genética" como a causadora da focomelia do seu filho recém-nascido. Homem saudável e esclarecido, ele descobriu que, coincidentemente, um casal de amigos seus tivera um filho em condições idênticas. Intrigado e inconformado, Karl passou a fazer investigações por conta própria, conversando com as mães que haviam dado a luz a tais "monstros". Ao tentar chamar a atenção da comunidade médica para o que estava se passando, encontrou uma revoltante indiferença e ignorância. Foi então que surgiu em seu caminho o médico Widukind Lenz, um pediatra especializado em genética que aliou-se a Karl, encampando a causa. Lenz, por fim, achou o nexo causal.No dia 16 de novembro de 1961, Lenz comunicou oficialmente à indústria fabricante dos efeitos nocivos dos medicamentes a base de Talidomida - Contergan, no caso da Alemanha Ocidental. Ele, pessoalmente, já conhecia 13 casos. A Chemie Grünenthal, porém, não retirou o remédio do mercado - o que de fato só ocorreu quando a história virou manchete de jornal. O Contergan era o carro-chefe das suas vendas, uma verdadeira "galinha dos ovos de ouro", rendendo milhões e milhões de marcos.Sooou então o alarma em todo o mundo. Nesse tempo, às suas próprias custas, Schulte-Hillen contratou oito fisioterapeutas que, juntamente com ele, passaram a percorrer a Alemanha Ocidental, à procura de vítimas da Talidomida. Entre agosto de 1964 e dezembro de 1965, visitaram 1.600 das 3.000 vítimas vivas da substância. Com seu endereço publicado nos jornais, choveram cartas, narrando novos casos.
A maioria das vítimas da Talidomida estava na Alemanha e na Inglaterra. Nos Estados Unidos, graças a uma mulher, o medicamento (lá chamado de Kevadon), não chegou a causar tantos danos e sofrimentos (não mais do que 20 vítimas). A ser fabricado pela Merrel Co., uma empresa de Cincinati, Ohio (e que ainda hoje é uma das grandes do mercado farmacêutico), não chegou a ser liberado pela Secretaria de Alimentos e Remédios (FDA, sigla em inglês). Apesar das terríveis pressões da indústria, a médica responsável pela aprovação, Dra. Frances Oldham Kelsey, recusou-se a dar o parecer favorável, alegando que as provas de garantias de não havier efeitos colaterais deletérios eram insuficientes. Em agosto de 1961, quando o escândalo veio a público, ela recebeu do presidente John Kennedy a medalha por Destacados Serviços Civis, por reter a aprovação da Talidomida - medalha esta que é uma das mais altas condecorações daquele país.
NO BRASIL - A Talidomida chegou ao Brasil em março de 1958, com os nomes de Ectiluram, Ondosil, Sedalis, Sedim, Verdil, Slip. Em março de 1962, o Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia proibiu o uso da Talidomida em todo o país, mandou apreender os estoques e cassar as licenças de fabricação. A medida, no entanto, não surtiu lá grandes efeitos pois o medicamento continuou ainda a ser usado durante anos devido à falta de informação da população, do descontrole na distribuição e, sobretudo, graças à omissão do governo e ao poder econômico dos laboratórios. Em 27 de novembro de 1973 foi criada, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a Associação Brasileira dos Pais e Amigos das Crianças Vítimas da Talidomida, entidade declarada de utilidade pública.
Nos últimos anos o interesse pela Talidomida trouxe novamente o debate à tona. Conforme alguns testes - ainda não plenamente comprovados - ela teria eficácia na luta contra a lepra, contra a tuberculose e até para aumentar a resistência de pacientes aidéticos. A questão, entretanto, ainda está em aberto. (Pesquisa e texto: Conselheiro X.)