sábado, outubro 01, 2016

Neusa, a companheira do político que suportou as dores do exílio e as perseguições políticas


Neusa, quando jovem:trocou pretendente rico por um jovem engenheiro chamado Leonel.

O casal permaneceu junto até o final.


Ela foi a grande companheira de Leonel Brizola (falecido) - e, em toda a sua vida, habituou-se a conviver com o poder. Isso, porém, não a impediu de ter uma existência sofrida, cheia de altos e baixos, e de, por uns tempos, tornar-se alcoólatra.
Neuza Goulart Brizola, mulher do ex-governador gaúcho e fluminense - o amado e odiado homem que garantiu a Legalidade e a posse de Jango, irmão de Neusa - faleceu em 7 de abril de 1993, uma quarta-feira, aos 71 anos de idade, na clínica Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde morava. O laudo atestou infecção generalizada e sérios problemas respiratórios. Foi enterrada em São Borja, assim como Jango, assim como Getúlio Vargas (que foi seu pardinho de casamento), assim como Leonel, também falecido (sem ter nunca ter realizado o seu sonho de se presidente).
Elegante, discreta, bonita, Neuza conheceu Leonel em uma convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, em São Borja, onde nasceu, ainda nos anos quarenta. Conta-se que trocou um outro pretendente rico por um jovem engenheiro em início de carreira política. Quando casaram-se, ela tinha 28 anos - e nunca se arrependeu da opção: a união dela com o temperamental Brizola parece ter sido amorosa, senão apaixonada. O marido chamava-a de "queridinha", era seu confidente e amigo. Foram apaixonados por toda a vida e tiveram três filhos - João Vicente, João Otávio e a problemática Neusinha - recentemente falecida.
Não era para menos: ao lado do líder trabalhista, Neuza suportou muitos anos de exílio (15 longos anos) e perseguições políticas em terras estranhas, sem jamais esmorecer. Antes, quando Brizola era governador do Rio Grande do Sul, chegou a doar uma de suas sete fazendas - que herdou dos pais - para a reforma agrária que seu marido promoveu no Estado, e vendeu outras quatro para garantir o sustento da família, no período da Ditadura, quando viveram no Uruguai e depois em Portugal e nos Estados Unidos. Vendeu mais uma, quando voltaram ao Brasil, em 1979, para comprar o apartamento na avenida Atlântica, em Copacabana - o QG de Brizola, e onde morou até a sua morte.
DEPRESSÃO - Os primeiros seis anos de exílio foram duros. No frio Uruguai, viveram em um apartamento sem calefação ou ar condicionado. Depois a família mudou-se para uma fazenda, a 250 km de Montevidéo - lá não havia energia elétrica ou telefone. Mulher prendada, pela primeira vez obrigou-se a cozinhar. Disse mais tarde, sobre isso: "Só quem passou pelo exílio sabe como é triste ser brasileiro fora de sua pátria".
Em 1983, no Brasil, tratou-se durante 75 dias, nos Estados Unidos, de uma crise de depressão, algo cada vez mais comum - sequer chegou a asistir à posse do marido no Palácio Laranjeiras. Mais tarde internou-se em uma clínica para recuperação de alcoólatras, na Espanha.
Em 7 de janeiro de 1993, em Nova York, foi internada às pressas em um hospital, com uma úlcera perfurada. Permaneceu dois meses na UTI, sedada. Carinhoso, Brizola a visitava duas vezes por dia e passava longas horas à beira da cama, afagando seus cabelos. Alguns dias antes da sua morte, sem poder falar, trocava bilhetes com o marido.
Talvez por tudo isso, Neuza abusava dos calmantes e antidepressivos, bebia muito e fumava. Em 1986, ela e Leonel combinaram de parar de fumar - o que ele conseguiu, ela não. A esse tempo já havia se submetido a uma operação para a retirada de um tumor em um dos seios. Sofreu também com as brigas entre seu marido e o irmão Jango - reconciliados enfim em 1976, pouco antes do presidente deposto morrer.
Seu maior sonho, no entanto, nunca aconteceu: voltar e envelhecer junto ao marido, na sua São Borja, de preferência bem longe da política. (Pesquisa e texto: (Conselheiro X)



Hoje Julie Andrews faz 81 anos, Jimmy Carter 92, André Rieu 67 e Robert Rey 55.
Nani, em A Charge Online.

sexta-feira, setembro 30, 2016

Argentina só teve televisão colorida em maio de 1980

Comparado com a Argentina, o Brasil perde feio em quase todos os setores da cultura - na literatura e  no cinema, por exemplo. Com um índice de analfabetismo muito menor do que o Brasil, uma imprensa importante e um índice de leitura por habitante incomparavelmente superior ao dos brasileiros, os hermanos porém ficam atrás na área televisiva, tanto em termos técnicos como de qualidade. Para se ter uma ideia, somente em 1980, durante a ditadura militar, a população argentina passou a contar com televisionamento a cores, algo que no Brasil - ainda que de forma parcial - já existia desde 1972. Ao contrário do sistema brasileiro, de origem norte-americana, lá eles adotaram o sistema alemão, de custo maior, o que fez - como se vê nesta reprodução do Correio do Povo - encarecer os aparelhos de TV a serem vendidos.  

O início da televisão no Rio Grande do Sul, vista por Sampaulo, chargista

Sampaulo - ou Paulo Brasil Gomes de Sampaio - nasceu em Uruguaiana e, por seu talento no humor e nos traços, tornou-se um dos mais importantes e conhecidos chargistas da imprensa gaúcha.  O seu personagem Sofrenildo fez grande sucesso no antigo Correio do Povo, onde ganhava grande espaço e destaque. Sampaulo faleceu em fevereiro de 1999. Nesta reprodução da Revista do Globo, de 1960, diverte-se com os primeiros anos da televisão no Rio Grande do Sul - a TV Piratini, Canal 5, a pioneira, foi inaugurada no final de dezembro de 1959. Hoje transmite o SBT.
J. Bosco, em O Liberal, PA. A Charge Online.





Hoje Monica Belucci faz 52 anos, Johnny Mathis 81, Daniel Filho 79 e Evaristo Costa 40. E hoje, se estivesse vivo, Chacrinha faria 99 anos. E no dia de hoje, em 1968, falecia Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

quinta-feira, setembro 29, 2016

Caio Fernando Abreu aos 27 anos: ator e roteirista, ainda longe da fama


Em maio de 1976 o escritor e artista Caio Fernando Abreu, nascido em Santiago do Boqueirão, na região fronteira, não tinha completado ainda 28 anos. Caio, que também foi jornalista, fazia então a elogiada  peça Sarau das Nova às Onze, com roteiro dele próprio e direção de Luís Arthur Nunes. A peça estava em cartaz no Teatro de Câmara, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, onde o escritor então morava, como se noticia nesta matéria do Correio do Povo. Caio Fernando Abreu morreu em  25 de fevereiro de 1996, deixando uma sólida obra  que continua a ser objeto de admiração literária. Ele completaria 68 anos de idade no dia 12 de setembro que passou.



Hoje Jerry Lee Lewis faz 81 anos, Sílvio Berlusconi 80 e Washington Olivetto 64. E hoje, em 2012, morria Hebe Camargo.
Cazo, no Comércio de Jahu, SP. A Charge Online.

quarta-feira, setembro 28, 2016

Mulheres gregas não podiam subir ao Monte Athos, por lei governamental: esse era o mundo feminino em 1976.

Passaram apenas quatro décadas, e fica um pouco difícil entender o mundo daqueles anos setenta, especialmente no caso de ser mulher hoje em dia. Pois na Grécia, em 76 (45 anos atrás, portanto), as mulheres não podia subir ao Monte Athos, um dos lugares mais referenciais daquela nação que é considerada o berço da civilização ocidental. A proibição era oficial e, a despeito do veemente protesto dos movimentos feministas (1975 havia sido declarado, pela ONU, o Ano Internacional da Mulher), não foi revogada pelo parlamento da época. Hoje isso parece absurdo, mas tal era a realidade em uma época na qual o bicho fêmea tinha um status inferior ao bicho homem. Reprodução do Correio do Povo, Arquivo Histórico Moysés Vellinho, da Prefeitura de Porto Alegre. Data de 11 de Junho de 1976.

terça-feira, setembro 27, 2016

Caso, em Comércio de Jahú, SP. A Charge Online.

Simonal irá a julgamento por sequestro e tourtura: 1976

Wilson Simonal de Castro faleceu em junho de 2000, aos 62 anos, doente e amargurado, já uma sombra do espantoso sucesso que fora no passado, quando chegou a lotar o Maracanã, que cantava em uníssono suas músicas mais conhecidas. Grande cantor e ritmista, negro que "chegou lá", arrogante, algo ingênuo e certamento sem cultura e preparo para tudo o que estava vivendo, ele viu-se envolvido em um dos episódios mais lembrados da música brasileira - justamente por sua conotação negativa. Desconfiado de que estava sendo roubado por seu contador, Simonal teria apelado para elementos do DOPS - o órgão da política política da então ditadura militar - para dar "uma prensa" no acusado. Nessa ocasião, teria dito que era informante do DOPS - ou seja, alcaguete de seus companheiros de trabalho. Em um meio fortemente esquerdista, isso foi suficiente para que caísse em desgraça e fosse retratado na imprensa da época como um tipo detestável, um, digamos, traidor. Essa fama perdurou por muito tempo, mas já não é prevalente hoje. Nelson Mota foi um dos primeiros a garantir que Simonal nem poderia ser informante, pois pouco sabia das coisas que ocorriam à sua volta - era o que, no velho jargão, se chamaria de "alienado". Mas ele pagou um preço caro, inclusive respondendo um processo criminal por sequestro e tortura, como se vê nesta reprodução de uma matéria do Correio do Povo, de janeiro de 1976. Nessa época o cantor já estava em franca decadência, bebendo muito, certamente a causa principal da sua morte.