sábado, outubro 17, 2020

Escuto rádio e gosto, mas não sou nada fã dos profissionais do microfone, os "radialistas", e nem é preconceito. É conceito mesmo. É um pessoal vaidoso, presunçoso, sem motivos (ganham mal) e que alguém já resumiu assim: cultura de superfície em boca de aluguel. Excluo todo o setor técnico e os repórteres, mas os que dão "opiniões" (com algumas exceções, como a do falecido Boechat e do Cláudio Zaidan) são de doer. Com a cultura de massa, se tornaram celebridades. Infelizmente, têm tempo demais para encher linguiça e dá no que dá. Se metem em tudo, as almas pigmeias. Aí lembro de um dos meus poetas prediletos, Augusto dos Anjos, quando fala em "almas pigmeias", em "toscas caixas cranianas", na "ambiência microbiana da baixeza" e, sobretudo, nas "línguas hidrófobas". Poderia acrescentar, da sua lavra, "o homem, engrenagem de vísceras vulgares" ou, mais radicalmente, como solução, "a utilidade fúnebre da corda". Hoje é um dia de sol em POA, estou bem humorado e não vou me reduzir "à herança miserável dos micróbios". Talvez eu seja uma flor "queimada pelo mormaço do sol da vida", ou: "profundissimamente hipocrondríaco, este ambiente me causa repugnância, sobe-me à boca uma ânsia análoga à ansia que escapa da boca de um cardíaco". Gênio, o Augusto dos Anjos, e morreu com apenas 30 anos.