quarta-feira, novembro 20, 2013

Novembro de 1954: o domingo em que Porto Alegre quase ficou refém nas mãos dos presidiários amotinados

*Nas fotos, a imagem da Casa de Correção, à margem do Guaíba, e reproduções do jornal Folha da Tarde, com evidentes exageros. Mais abaixo, reprodução da Revista do Globo e a foto do bandido Vavá, considerado um dos líderes da rebelião e famoso pela sua audácia. O presídio gaúcho já era, então, um dos piores, senão o pior, do Brasil. Em 1951 a Revista do Globo, em extensa reportagem sobre os presos famosos que estavam na Correção, citou o escroque internacional Mike Freemann, que conhecia as cadeias de muitas grandes cidades do mundo: "Antes de vir para cá eu estava convencido que a pior cadeia existente sobre o globo terrestre era a de Addis-Abeba, a capital etíope. Agora no entanto vejo que ela é uma deliciosa colônia de férias comparada à Casa de Correção de Porto Alegre."
Mike Freeman: "A pior cadeia do mundo".

Pesquisa e Texto: Vitor Minas

   Um “plano diabólico” para a fuga em massa de mais de mil detentos, “celerados da pior espécie” – assim os jornais resumiram um dos fatos mais marcantes na história de Porto Alegre, o incêndio na Casa de Correção, o “horrendo cadeião da Ponta do Gasômetro”, a “casa do inferno”, a “casa dos horrores”, o “tétrico casarão”, ocorrido três meses depois do quebra-quebra pela morte de Getúlio Vargas e mais um episódio no capítulo dos grandes sinistros em prédios públicos registrados na década de cinquenta na capital gaúcha.
    Era o dia 28, último domingo do mês de novembro de 1954, nem haviam transcorridas duas semanas da eleição de Ildo Meneghetti como novo governador rio-grandense e dois meses da inauguração oficial do Estádio Olímpico quando o complexo prisional às margens do Guaíba ardeu em chamas durante quase 20 horas, com rolos de fumaça que podiam ser avistados dos quatro cantos da cidade. Cidade que temeu seriamente pela própria sorte: caso tal tentativa de fuga tivesse dado certo as consequências seriam imprevisíveis para os seus quase 500 mil habitantes.
    Tudo começou às 18h30min, logo após o encerramento do horário das visitas na rebatizada “Penitenciária Industrial”, já então considerada uma das piores do Brasil, uma “masmorra medieval” com capacidade para 300 presos, porém superlotada por mais de mil.
   O fogo irrompeu na cela 72, no segundo andar, na parte dos fundos da construção, e se propagou com uma rapidez incrível, atingindo também a padaria e a tipografia – até porque tudo havia sido planejado por um grupo de presidiários, os quais praticamente controlavam o funcionamento interno da instituição, tal como hoje dividida em facções criminosas. Desde o mês de agosto daquele ano nada menos do que três princípios de incêndios e de motins já haviam ocorrido ali e a deflagração e outro parecia simples questão de tempo. No dia anterior os agentes penitenciários haviam encontrado no forro de uma das celas um colchão, um monte de palhas e oito litros de gasolina. O clima entre os detentos era, mais do que nunca, de extraordinária tensão – os nervos estavam à flor da pele.
    No entardecer daquele domingo, encerrado o horário de visitas, depois da conferência, um grupo recusou-se a voltar às celas – prenunciando o que viria a seguir, eles só concordaram com isto sob a promessa dos agentes de que estas permaneceriam abertas. Com o início repentino das chamas outro agrupamento passou a percorrer as demais celas: armados de facas, facões, adagas e porretes, obrigaram os outros detentos a também incendiar tudo.
   Em seguida, em “estrondo”, todos começaram a correr pelos corredores em direção à parte térrea e ao portão, forçando a saída. Segundo a direção, havia 1.093 apenados no local, contra não mais do que 40 brigadianos e agentes penitenciários para contê-los. Os bombeiros chegaram em poucos minutos, vindos da estação central, na Praça Rui Barbosa, enquanto homens da brigada e um grupo de socorro da Guarda Municipal (ex-polícia de choque), comandados pelo delegado José Henrique Mariante, detinham os revoltosos a golpes de cassetete e bombas de gás lacrimogêneo, a muito custo impedindo que chegassem à rouparia: se isso acontecesse eles teriam acesso a roupas civis e poderiam se misturar até mesmo às autoridades e fugir às ruas.
   Estabeleceu-se no pátio um “cinturão” de segurança, com duas linhas de praças da Brigada armados com fuzis-metralhadoras e soldados com baionetas caladas, que “calçavam” e imobilizavam os presos contra as paredes. Nesse trabalho destacou-se o tenente Cantalício Camargo, comandante do destacamento local. Com poucos recursos, e dando apenas três rajadas de metralhadora para o alto, ele e seus homens enfrentaram a maré humana de mais de 500 presos, conseguindo fazer – oficialmente sem vítimas fatais – que recuassem.
    A raivosa determinação de destruir de vez o velho cadeião, queimando-o inteiramente, e a certeza de que o plano havia sido elaborado com a participação de gente de fora das grades, fora, evidenciadas pelo fato de que, no mesmo instante em que as chamas se propagavam às margens do Guaíba, os bombeiros haviam se deslocado para combater outra ocorrência em um matagal do morro de Teresópolis, adiante do final da linha dos bondes. Segundo os repórteres, de lá divisava-se per
o


feitamente o interior do presídio, o que levantava a suspeita de que a pessoa que ateou fogo no terreno pudesse ser comandada à distância pelos detentos, quem sabe através de um jogo de espelhos. Do mesmo modo estes poderiam, das janelas da Casa, avistar a chegada dos caminhões. Outro fato sintomático foi a depredação antecipada da bomba de água do Cadeião.
PÂNICO NA CIDADE – A possibilidade de que cerca de mil homens conseguissem fugir e se espalhassem pelas ruas da cidade, tomando a população de refém, a visão dos rolos de fumaça, o cair da noite, bem como a péssima fama da instituição prisional, a promiscuidade, o histórico de fugas e os fatos bárbaros que lá ocorriam geraram um evidente clima de medo entre os moradores da capital, os quais, naquele entardecer de domingo, encerravam o seu pacato e modorrento final de semana. Contribuindo para o medo, uma emissora de rádio afirmou que mais de 50 detentos tinham fugido e estavam à solta nas ruas da Capital. 
     Falava-se inicialmente em muitos mortos e em sangrentas cenas de ajuste de contas entre os próprios presos, com inúmeros esfaqueamentos e até degolas. Um preso disse aos repórteres tem visto uma cabeça jogada dentro de um vaso sanitário. Todavia, pelas versões oficiais, não só nenhum sentenciado teria conseguido se evadir como ninguém, fosse apenado, policial ou funcionário, morreu durante ou depois do episódio. Aos poucos, em contrapartida, surgiam relatos de alguns funcionários que enfrentaram o perigo das chamas e da violência para retirar detentos que ficaram presos em suas celas e outros, doentes (a maioria com tuberculose) hospedados na enfermaria e mesmo os inválidos ou com dificuldades de locomoção.
     Na edição de terça-feira, 30, jornal Folha da Tarde, na matéria “A Trama Sinistra dos Presidiários”, relatou o clima depois do incêndio, quando a situação já havia sido dominada, algo que revela o inferno humano que caracterizava o local: “Em todas as fisionomias dos presos notava-se intensa satisfação. Riam e pilheriavam já que, para eles, qualquer situação será melhor do que a da Casa de Correção. Um presidiário adiantou-nos que há muito vinha entrando gasolina no presídio, em pequenas quantidades, e que em todas as celas havia um foco preparado ao qual foi ateado fogo quando deram alarme na primeira, a 72”. Já o Correio do Povo lembrou que “foi um sinistro dos mais terríveis de que se tem notícia” e que se o plano desse certo “Porto Alegre estaria até agora em pânico, com suas ruas invadidas por homens para quem os conceitos de vida e de respeito ao próximo pouco ou nada significam.”
TRANSFERÊNCIA PARA MARIANTE – Em grandes operações de segurança os detentos foram sendo realocados em diferentes locais – quartéis da brigada, delegacias de polícia, no Instituto Psiquiátrico Forense (manicômio judiciário) e, principalmente, na Colônia Penal Daltro Filho, na localidade de Mariante, município de Venâncio Aires, para onde cerca de 300 deles foram conduzidos em barcaças do DAER – a viagem pelo Jacuí demorava cerca de quatro horas, com os revoltosos vigiados por soldados armados de metralhadoras. O policiamento na colônia agrícola já havia sido fortemente reforçado por uma companhia do Primeiro Batalhão de Caçadores.  
   Na Casa de Detenção permaneceram 550 homens, abrigados em barracas, em pavilhões não totalmente queimados ou recolhidos aos fétidos e úmidos porões, o “buraco”, enquanto os mais colaborativos voltavam às suas funções habituais. Para a Oitava Delegacia de Polícia, em Petrópolis, seguiram os elementos mais perigosos, entre os quais aqueles apontados como os líderes da rebelião. O chefe do Departamento de Institutos Penais do Estado, Neu Reinert, ordenou o isolamento total do presídio, proibindo qualquer tipo de visitas. O desespero maior, no entanto, provinha dos familiares dos presos, concentrados em frente e que imploravam por notícias.
    Em depoimento oficial um preso chamado Vavá – ou Gaspar Ávila da Silva, líder de quadrilha - afirmou ter sido ele o principal líder do movimento, junto com Washington Aires, o Paulistinha, e Nelson Bassani, os três agora recolhidos aos xadrezes da Oitava DP. As declarações de Vavá surpreenderam as autoridades – até mesmo ao secretário do Interior e Justiça, Theobaldo Neumann, e o diretor do presídio, Aires Rodrigues da Cunha - já que era um preso considerado de bom comportamento. Outro detento chamado Veríssimo Caduri Leal também assumiu a liderança.
ESCOLA DOS VÍCIOS – Em maio de 1971, quando o antigo Cadeião já tinha vindo abaixo, o repórter Isaías Valiatti, durante anos setorista policial da Caldas Júnior e nome reconhecido da imprensa gaúcha, escreveu um interessante artigo intitulado “Casa de Perversão”:
   “Felizmente nem sequer o portão da medonha masmorra que tinha o nome de Casa de Correção ficou de pé para lembrar um passado indescritível. Vamos e venhamos, para que conservar a memória de coisas horríveis? O mundo talvez não se torne ideal com a supressão de imagens nefandas, mas pelo menos a nova geração não terá de perguntar: “O que é aquilo ali?” E a resposta, para ser correta, seria longa, chocante e incompreensível. Não tenho engenho e arte para descrever o que vi e ouvi na medieval cadeia ao longo de tristes anos de reportagem policial para o Correio do Povo e, em certa época, para a Folha da Tarde. Espetáculos que superavam a imaginação de Hitchcock e cenas que nem Dante conseguiu traçar em seu Inferno repetiam-se de tempos em tempos, entre um motim e um incêndio provocados pelos próprios detentos. Paradoxalmente, a Casa de Correção era, em verdade, a escola dos vícios e das anomalias que só uma Casa de Perversão seria capaz de “ensinar” e praticar.
   “Por mais de uma vez, através das colunas deste jornal, chamei, juntamente com outras vozes que terminaram ecoando, contra o claustro imundo e revoltante que era a Casa de Correção. Inadequada sob todos os aspectos, contrariando os mais elementares princípios consagrados pela moderna penalogia, e sempre superlotada – chegou a ter quase 1.500 presos, quando sua capacidade real era para 300 – foi preciso um grande incêndio com um motim sem precedentes, que me coube documentar à época, para chegar-se à conclusão acaciana de que a velha cadeia deveria ser demolida para começar da estaca zero.
   “A penitenciária estadual, localizada no Partenon, pode ter falhas gritantes ou deficiências que devem ser eliminadas, mas jamais chegará a ser o que foi a Casa de Correção. Há problemas de estrutura de funcionamento, de vigilância e de métodos de recuperação que estão sendo encarados em seu devido tempo, mas, creio eu, jamais se encontrará naquele presídio as cenas e as ocorrências tão comuns e freqüentes na famigerada Casa de Correção.
   “Vibrei quando, em 1955, o então governador do Estado presidiu a cerimônia que assinalou a demolição simbólica do vergonhoso presídio. Era o primeiro passo decisivo para riscá-lo definitivamente do mapa da cidade. Era o princípio do fim das celas permanentemente inundadas, pois se localizavam abaixo do nível do Guaíba. Os chamados “republicano” e “democrata”, que num período não muito recuado da nossa história política serviram para castigar os “rebeldes”, iriam desaparecer, juntamente com as amoralidades, os assassinatos com requintes de barbarismo, as negociatas entre presos e funcionários, o tráfico de tóxicos e de álcool, enfim, as bestialidades entre seres que cada vez mais se degradavam num processo crescente de sordidez humana, típico do submundo que era a Casa de Correção.
   “A despeito de tudo isso, surgiram opiniões em favor da manutenção de algo que lembrasse o cárcere e as muralhas que o cercavam. Serviria – argumentavam – como motivação histórica ou turística.
   “Mas eu não estava só. O venerando e bondoso padre Pio, por longos e tenebrosos anos o capelão do extinto presídio, também admitia uma única saída: a destruição total, o arrasamento da Casa de Correção. As razões, como vemos, dispensam maiores comentários.
Major Aragón, o "incendiário" e vigarista, foi assassinado na Casa de Correção (foto da Revista do Globo)
    “Conservar a imagem da Casa de Correção – respeitadas as opiniões em contrário – seria o mesmo que guardar as imagens de atrocidades que fazem a humanidade recuar no tempo e no espaço. Seria a negação, a antítese do próprio homem.”

    Bem antes da publicação deste artigo, em janeiro de 1955 - dois meses depois do incêndio - a Revista do Globo dedicou várias páginas à Casa de Correção e à sua longa e sinistra história. Assinada pelo jornalista Tabajara Tajes, relata alguns dos muitos acontecimento ocorridos nas celas e nos porões de "uma das cadeias mais antigas do mundo":
   "Tem o casarão, na sua existência de um século, histórias de dor, de sangue e de tristezas, capazes de impressionar quantos ainda se comovam com a sorte dos condenados pela Justiça. Rios de sangue correram nos seus subterrâneos. Suas salas de tortura, em tempo não muito afastado, esconderam cenas tétricas, de homens judiados com requinte selvagem. Presos políticos tiveram unhas arrancadas, membros picados a pontas de cigarros. Caras humanas foram deformadas a socos e pontapés".
    O repórter prossegue, descrevendo alguns desses episódios, como o da Cela 16, e os locais chamados de "democrata" e "republicano". "A cela 16, há poucos anos, abrigava a escória do presídio. A ser deposto um governador, o chefe de policia mandou trancafiar ali um parente do mesmo, delegado de uma cidade do interior. Um malfeitor, que fora mandado prender por essa autoridade, cumpria naquela cela a sua pena. E na sua primeira noite de presídio, quando o silêncio invadira o casarão, vultos fugitivos arrastaram-se até ao beliche onde dormia o novo hóspede do cubículo. Mãos fortes taparam-lhe a boca com um pano. Durante longas horas serviu de pasto aos instintos bestiais do condenado que jurara vingança. No dia seguinte, em prantos, jogou-se aos pés do guarda carcerário, pedindo-lhe pelo amor dos filhos que não o deixasse mais ali. Que o matasse. Não lhe haviam valido os cabelos brancos e nem a personalidade forte. (...)
   "No Republicano, buraco feito de cela, escavado abaixo do nível do Guaíba, foi trancafiado um preso que matara um companheiro de cela. Sua reclusão foi adotada mais em razão da própria segurança do que mesmo de castigo. O preso morto era donzela de vários presidiários. No trajeto, por um desentendimento qualquer, o condenado esbofeteou um guarda. E no dia seguinte, sem que nem presos nem vigilantes vissem nada, o infeliz amanheceu virado num autêntico paliteiro. Oitenta e seis punhaladas marcavam a vingança daquelas feras humanas. Nunca se explicou como detentos puderam abrir celas, portas de corredor e várias grades intermediárias para terminarem estourando o forte cadeado do Republicano."
   (...) "Noutra cela, Guaiaca, presidiário de bom comportamento, e até com indícios de debilidade mental, foi morto aos pouquinhos num torniquete feito de lençóis. Numa ponta um pau extraído de um dos dos beliches e na outra um tamanco. presos amotinados, que o haviam apanhado como refém, foram torcendo, torcendo, até estrangulá-lo. No cubículo ao lado o imundo comércio de presos menores determinou o assassinato de "Sete...", que levava a alcunha pelo número de presos que violentou numa só noite."
   (...) "Na Enfermaria, onde quase uma centena de tuberculosos escarram os pulmões, um pretinho apareceu enforcado nas grades da porta. Aparentemente cometera suicidio. Necrópsia posterior apurou o estupro bestial que sofrera, provavelmente na hora da agonia. Na famigerada Sétima Enfermaria , ao lado do "Reizinho", sem dúvida o maior arrombador de cofres do Brasil, minado pela tísica, vivia o "Sarará do Galo", vingando-se da reclusão com escarros na cara dos guardas e de quantos dele se aproximassem.
   "Escola de crimes, do interior da cadeia saíam gatunos aperfeiçoados na arte de roubar e de matar. Cidadão decente que uma briga inevitável levasse ás suas celas, de lá saía acabrunhado, sem honra e sem dignidade, descrente dos homens, descrente da Justiça."
    (...) "Depois que administrar presídio se tornou cargo de afilhados políticos, a situação piorou ainda mais na Casa de Correção. (...) Com os dirigentes sucediam-se as portarias. Golpes de pena destruíam o que os outros haviam construído. A política carcerária caiu para níveis baixíssimos. Havia presos gozando de regalias inexplicáveis.  
     ( ...) "O tráfico da erva maldita ganhou alento dentro do presídio. A erva do diabo circulava com facilidade e os atritos sucediam-se entre os presos alucinados  pela "diamba".  O jogo também campeava e quase toda semana esfaqueavam-se os presidiários. Álcool não era contido nem pelos muros, nem pelas grades e nem pelas revistas que passavam nos visitantes. Porres memoráveis eram tomados entre desordens, pancadas e golpes de arma branca. O álcool da enfermaria era desviado e vendido aos viciados. Os preços eram alucinantes, coisas assim como 300 cruzeiros  o vidro de álcool e 500 o de cachaça. Não havia moral na seleção das visitas. O baixo meretrício, nos dias em que o presídio era franqueado aos de fora passeava a sua garrulice envolta em auras de perfume barato no pátio empedrado da cadeia. Cenas espantosas de cupidez e de falta de respeito entrepunham-se ao quadro triste da mãe comovida que beijava o filho  vestido de uniforme azul."
CONSTRUÍDO PELOS ESCRAVOS
    Na realidade o problema prisional gaúcho era crônico e vinha desde o século XIX, e a Casa de Correção tão somente simbolizava os horrores e as iniquidades de tal sistema.
   Quando a primeira parte da sua construção foi concluída, em 1855, era chamada de Cadeia Civil e abrigou inicialmente cerca de 200 presos. Construída pelos braços de escravos, suas paredes, formadas pela junção de grandes pedras, chegavam a ter mais de um metro de espessura.  A localização à beira do Guaíba se explicava pelo fácil acesso à água, pela questão da higiene – os dejetos seriam jogados no rio – pelo solo rochoso para assentar firmemente as suas fundações e também pelas características geográficas do local, uma “quina” da cidade e que então passou a ser chamada de Ponta da Cadeia. Em 1897, nos primórdios da República, segundo os historiadores, ganhou o nome oficial de Casa de Correção. A partir daí, de ano a ano, a sua população carcerária só foi aumentando, incluindo presos políticos dos vários movimentos de revolta que caracterizaram o Rio Grande.
    A Casa de Correção teve sua demolição concluída oficialmente no dia 11 de maio de 1967, uma quinta-feira. Uma equipe de funcionários da Prefeitura (Célio Marques Fernandes era o prefeito de Porto Alegre), sob a coordenação do engenheiro João Antonio Dib, dava fim a uma era de horrores que no entanto se repetiria com o não menos infame Presídio Estadual da Chácara das Bananeiras (bairro Partenon), inaugurado em 1963 e bem mais distante dos olhos da imprensa.    



Nani, hoje, em A Charge On Line
 Hoje Bo Derek completa 57 anos, Claudio Heinrich faz 41, o jogador gremista e chileno Eduardo vargas faz 24 e o ator Luis Fernando Guimarães completa 64



terça-feira, novembro 19, 2013

segunda-feira, novembro 18, 2013

Hoje, há 35 anos, morria Jim Jones, o fanático que matou quase mil pessoas


James Warren "Jim" Jones (CreteIndiana13 de maio de 1931 – Jonestown18 de novembro de 1978) foi o fundador norte-americano do grupo Templo do Povo, que tornou-se sinônimo de grupo suicida após o suicídio em massa de 18 de novembro de 1978 por envenenamento em sua isolada coletividade comunitária agrícola chamada Jonestown, localizada na Guiana. Jones foi encontrado morto com um ferimento de bala na cabeça junto a outros 909 corpos.
A história de Jim Jones é paradigmática da relação entre seita religiosa e suicídio coletivo. Este homem, com cerca de 40 anos, reuniu oprimidos e marginalizados nos EUA (em geral de raça negra) em troca de bens (dinheiro, terrenos, casas...) que ajudaram a consolidar a sua obra, logo auto-denominada de Igreja, o Templo dos Povos (Temple of Peoples). Rapidamente se formou um séquito de fanáticos e o pastor acabaria por fundar a cidade de Jones – Jonestown – na Guiana, em 1977, à “boa maneira” do culto da personalidade. Em 1978, quando começou a ser perseguido pelas autoridades dos EUA, Jim Jones ordenou a ida de todos os fiéis para Jonestown, abandonando as sedes da seita nos Estados Unidos.
Apesar desta perseguição, muito se falou da influência deste "pequeno ditador religioso" junto do poder nos EUA e da cobertura que lhe era fornecida.
Jonestown era uma comunidade auto-suficiente, que representava aparentemente um modelo socialista, estabelecida no meio da selva na Guiana (América do Sul). Viviam isolados do mundo sem poder estabelecer o mínimo contacto com o mundo exterior, sob pena de sofrer pesadas represálias.
Já em Jonestown, os crentes eram obrigados a admirar os seus discursos, dia e noite, e quaisquer resistências acabavam num espancamento, dito justiceiro. A fidelidade em relação ao Mestre não se discutia e eram frequentes as denúncias entre familiares como prova de lealdade. Era absolutamente proibido opinar acerca das regras estabelecidas e sequer sugerir o abandono. Jim Jones punia severamente aqueles que o tentavam abandonar.
Uma vez, num simulacro de suicídio colectivo, Jim Jones quis testar a lealdade incondicional dos seus seguidores. Para isso, pediu a todos os membros da seita para beberem veneno. Todos beberam e só posteriormente se confirmou que a bebida era inofensiva.
Entretanto, de Jonestown chegavam à América notícias dos desvarios do iluminado que incluíam orgias sexuais com crianças. O congressista pela Califórnia Leo Ryan, respondendo às solicitações dos eleitores, disponibilizou-se para ir à Guiana. No dia da visita a Jonestown, após verificar o desejo de alguns dissidentes em regressar aos EUA, apercebeu-se que realmente algo de muito grave se passava ali e fez com que Jim os libertasse. Este acedeu, mas quando Leo Ryan e os agora "ex-seguidores" se deslocavam para o avião, foram abatidos a tiro numa emboscada juntamente com dois jornalistas.
Jim Jones apercebeu-se que o fim da seita estava a chegar, pois o governo dos EUA iria agir em conformidade perante a gravidade da situação. O pastor reuniu o rebanho para o último sermão. Falou dos inimigos preferindo a suposta honra da morte à rendição, exigindo que todos ingerissem um refresco de cianeto. E assim morreram cerca de 900 pessoas. Três seguidores, que já havia algum tempo tentavam a fuga, conseguiram nesse mesmo dia fugir para a selva. Mais tarde, os sobreviventes contaram que as mães metiam o veneno na boca das crianças enquanto as famílias esperavam serenamente pelo desenlace. Morreram bebés, crianças, mães, pais, avós... Jim Jones suicidou-se com um tiro para um final de um deus menor.
Os discursos deste fanático estão gravados, inclusivamente o último e mais marcante. (Wikipedia)
Hoje Claudia Jimenez completa 55 anos

domingo, novembro 17, 2013

Hoje a jornalista Ana Luiza Guimarães faz 47 anos
Pater, em A Tribuna, Vitória, ES

Incêndio do edifício do Grande Hotel queimou capítulos importantes da história do Rio Grande do Sul

 Notícia do Correio do Povo a respeito da demolição do Cadeião. Abaixo, do mesmo jornal, a violenta repressão policial a uma passeata estudantil dias antes do incêndio. Estudantes foram seriamente espancados, em uma época em que a ditadura ainda não se consolidara como tirania. O comandante da ação era o então major Pedro Américo Leal.
Pesquisa e texto: Vitor Minas

MAIO DE 1967, O FIM DE UMA ERA: O PRÉDIO DO GRANDE HOTEL PEGA FOGO
    Talvez não tenha havido construção mais intimamente ligada à história política dos gaúchos e ao seu “grand monde” da capital do que o Grande Hotel, na Rua dos Andradas, esquina com a Caldas Júnior, a antiga Rua Payssandu, local onde hoje é o Shopping Rua da Praia.
    Fundado com este nome em 1908, foi, até os anos cinquenta, considerado a mais tradicional, prestigiosa e sofisticada casa hoteleira de Porto Alegre. Em seus apartamentos se hospedaram poderosos políticos brasileiros, diplomatas, influentes empresários e personalidades do mundo das artes e dos esportes. O Marechal Hermes da Fonseca, o senador Pinheiro Machado, Assis Brasil, Flores da Cunha, Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor, Raul Pila, Salgado Filho, o general norte-americano Mark Clark, o Marechal Cândido Rondon. Foi nas dependências do Grande Hotel (a sede informal de todos os partidos políticos) que se estabeleceram as premissas para a pacificação do Rio Grande do Sul em 1923 e foi também lá que se arquitetou o plano para a Revolução de 1930 que levou Getúlio ao Catete e sepultou a República Velha. Em seus salões aconteciam os banquetes mais elegantes, as festas mais concorridas, as jogatinas profissionais, flertes, brigas, luas-de-mel e encontros amorosos. Muitas famílias ricas e estudantes abastados ali moravam de forma permanente. Símbolo da Belle Epóque porto-alegrense, das suas janelas e sacadas assistia-se o “footing” de uma Rua da Praia ainda glamourosa, com seus restaurantes, cafés, cinemas, lojas finas e homens e mulheres elegantemente trajados.
    Em meados de 1956 – naquela que foi considerada uma das maiores transações imobiliárias de Porto Alegre – o prédio foi vendido ao Grêmio Beneficente dos Oficiais do Exército, GBOEX, e rebatizado com o nome de Edifício General Mallet, militar brasileiro nascido na França, patrono da arma de artilharia. O Grande Hotel funcionou até o início de 1957, quando foi entregue aos novos proprietários, que o readaptaram para fins comerciais. Até essa época a construção, com três alas e sete andares, contava com 180 salas e capacidade para receber até 250 hóspedes individuais, que pagavam caro para desfrutar de finíssimas louças e talheres importados e comer e beber do bom e do melhor.
   As obras do edifício, a cargo do construtor Francisco Tomatis e fiscalizada pelo engenheiro Viberbo de Carvalho, iniciaram em 1916 e terminaram dois anos depois, em uma Porto Alegre que não chegara ainda a 200 mil habitantes, concretizando o sonho do imigrante francês João Pedro Bourdette e seu genro Cristino Cuervo. Os dois empresários, no entanto, não viveram o suficiente para ver a venda do seu patrimônio. Em 1956 os três filhos de Cristino Cuervo é que dirigiam o negócio.
SÁBADO, DIA 13 – No final da tarde daquele sábado de 1967, quando a Porto Alegre de 800 mil habitantes dançava ao som da Jovem Guarda e dois dias após a violenta repressão policial a um protesto de estudantes contra o regime militar (eles foram espancados até mesmo dentro da Catedral Metropolitana ) , nesse dia 13 de maio, data da abolição da escravatura no Brasil, véspera do Dia das Mães, um incêndio de grandes proporções iniciou no quinto andar do edifício Mallet. As chamas se propagaram com tal força e rapidez que muitos clientes do tradicional Salão Cruzeiro fugiram com metade da barba por fazer e o cabelo só em parte cortado. Eram 18h30min, caía a noite e os bombeiros demoraram a chegar – quando isso aconteceu a água dos raros hidrantes mostrou-se com pouca força e foi necessário buscá-la no rio Guaíba.
    Dada a intensidade das chamas e dos jatos das mangueiras temia-se que todo o velho prédio viesse abaixo. Também as fagulhas que se espalharam geraram o temor de novos focos. Felizmente nenhuma construção vizinha foi atingida e as grossas paredes de tijolos mantiveram-se de pé. Às 23h30min o incêndio já estava praticamente dominado.
MUITOS PREJUÍZOS E DESEMPREGADOS – No coração da cidade, com sua bela e histórica fachada, o Mallet era um importante centro comercial da capital gaúcha. Grande número de profissionais liberais, entidades de classe e representações comerciais operavam em suas salas. No último pavimento estava o Círculo Militar de Porto Alegre e no andar térreo localizava-se a nova farmácia do GBOEx, o Salão Cruzeiro, a Livraria Jackson, o escritório dos municípios gaúchos e a agência Radional.  
   Com o sinistro de maio criou-se também um problema social e trabalhista. Dezenas de homens e mulheres perderam seus empregos e rendas, milhares de papéis, contratos e documentos importantes foram destruídos e vultosos prejuízos de equipamentos e máquinas não puderam ser cobertos pelo seguro – o do prédio como um todo era igualmente irrisório. Os funcionários do tradicional Salão Cruzeiro, por exemplo, trabalhavam como diaristas e passaram os dias seguintes procurando colocação em outras barbearias.  Por sua vez os empregados em pequenas firmas pouca esperança tinham de uma possível indenização já que seus patrões também haviam perdido tudo.  
    Não só humildes empregados como instituições e nomes conhecidos da vida de Porto Alegre, inquilinos do prédio incendiado, viveram dias angustiosos naquele outono de 1967. A relação fornecida pelo próprio GBOEx incluía o advogado José Henrique Mariante (o delegado que acudiu durante o incêndio da Casa de Correção, doze anos antes) o também advogado, jornalista e vereador Alberto André, o político João Brusa Neto, o jornalista e colunista esportivo Cid Pinheiro Cabral, o ex centro-avante do Grêmio Rubens Mostardeiro Torelly. Também tinham endereço no Mallet a diretoria regional dos Correios e Telégrafos, a Editora Mérito, a Agência Marítima Interamericana, a Companhia Rádio Internacional do Brasil, o Banco Ítalo Belga, a União Gaúcha dos Estudantes Secundários, o Centro de Confraternização Jaguarense, Associação dos Licenciados do Rio Grande do Sul, o Centro Itaquiense, a Federação Gaúcha de Futebol de Salão, Dioni York Bado, Livraria Ibal, Centro dos Oficiais Administrativos do Estado, Territorial Vale do Araguaia.
    Especialmente prejudicados ficaram os segurados do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos, IAPFESP, um dos principais órgãos de assistência social brasileiro e cujos fichários locais haviam sido totalmente consumidos pelo fogo. Com eles desapareceram a história clínica de milhares de pacientes, além de equipamentos de radiologia, fisioterapia, odontologia, raio X, entre outros. Felizmente os bombeiros haviam conseguido isolar a tempo os laboratórios onde estavam depositadas grandes quantidades de ácidos e produtos inflamáveis – atingidos pelo fogo, a explosão seria monumental e de consequências imprevisíveis.

         

        O antigo prédio do Grande Hotel na década de 30

quarta-feira, novembro 13, 2013


 Hoje Joana Machado faz 32 anos, Whoopi Goldberg 55 e Joe Mantegna 66

Yeda Vargas foi eleita Miss Rio Grande do Sul durante um domingo da Feira Nacional do Calçado, em Novo Hamburgo: junho de 1963

Passaram cinquenta anos daquele 2 de junho de 1963, domingo, dia em que a jovem Yeda Maria Vargas ganhava o título de Miss Rio Grande do Sul. Poucos depois a bela morena de olhos verdes "e plástica perfeita" seria escolhida Miss Brasil, no Rio, e depois Miss Universo.
O que pouca gente sabe é que o concurso que elegeu Yeda aconteceu não em Porto Alegre e sim em Novo Hamburgo, na Sociedade Ginástica Novo Hamburgo, já que fazia parte da programação da Feira Nacional do Calçado, FENAC.
Disputando com outras 17 candidatas de variados municípios gaúchos, Yeda representava Porto Alegre, de onde tinha saído para a fama ao conquistar o título de representante do clube Cantegril e também, dois anos antes, ter sido eleita Rainha das Piscinas.
O evento Miss Rio Grande do Sul era uma promoção das Rádios e Diários Associados, de Assis Chateuaubriand (revista O Cruzeiro, Diário de Notícias, Rádio Farroupilha, etc etc) e o corpo de jurados que escolheu a mais bela das gaúchas teve, entre outros, o depois vereador Glênio Peres (jornalista que representava a Associação Riograndense de Imprensa) e o chargista e cartunista Sampaulo, representante dos Diários Associados. 

segunda-feira, novembro 11, 2013

Hoje Demi Moore faz 51 anos e Leonardo DiCaprio completa 39. E hoje faz um ano que morreu o ator Marcos Paulo.



sábado, novembro 09, 2013

Há 24 anos caía o Muro de Berlim, encerrando uma época

Ele foi o símbolo da divisão do mundo - o mundo capitalista e o mundo socialista, ou comunista. Construído em 1961, o Muro de Berlim foi, durante décadas, um marco da opressão, dividindo a hoje unificada Alemanha em duas, a Ocidental, capitalista, e a Oriental, ou "República Democrática da Alemanha", que de democrática não tinha nada.

O ano era 1989, o mês era novembro. Em uma noite de quinta (dia 8) para sexta-feira, 9, todos os meios de comunicação passaram a transmitir, via satélite, ao vivo, as imagens de jovens munidos de martelos, picaretas, porretes, qualquer coisa - jovens, em sua grande maioria, que botaram abaixo uma grossa e extensa murada de concreto que impedia os habitantes da parte oriental da Alemanha de passarem para o outro lado.

Prisioneiros em seu próprio país - na verdade um satélite soviético - eles cantaram, beberam, se abraçaram e festejaram a derrubada de um símbolo da tirania. Na noite de 12 para 13 de agosto de 1961, uma serpente de cimento e arame farpado de três metros de altura foi erguida às pressas pelo regime comunista para evitar a fuga de seus cidadãos. Ao longo de 28 anos, 191 pessoas morreram tentando a arriscada travessia. Mesmo assim, 5 mil berlinenses conseguiram fugir para a liberdade. A fortaleza (66 km de extensão) era ponteada por torres de onde guardas armados com fuzis, metralhadoras, cães amestrados e potentes holofotes fuzilavam quem tentasse escolher a metade ocidental e capitalista da cidade dividida.No Brasil vivia-se a primeira eleição direta para Presidente da República (Collor seria eleito), depois de quase três décadas sem eleições. Gorbachev era o presidente soviético (a República soviética se desintegraria nos anos seguintes) - o pai da "Glasnost" (degelo" e da "perestroika" (reestruturação econômica) da então "superpotência". A queda do Muro não foi algo aleatório: no dia 4, um sábado, o regime comunista alemão liberou a passagem dos seus cidadãos através da Checolosváquia, transformada em longínqua escala da "fuga para a liberdade". Em seis dias, mais de 50 mil pessoas seguiram essa rota. O regime vivia uma crise política, com a demissão coletiva do Politburgo. Em pouco tempo a brecha se transformou num rombo monumental, ampliando-se para a Checoslováquia e até a Polônia, por onde escaparam dezenas de milhares de pessoas. Em pouco tempo, a piada de sentido universal - "O último que sair apague a luz do aeroporto" - começou a ficar perigosamente próxima da realidade. O êxodo em massa provocou uma dolorosa hemorragia social na Alemanha comunista. Os emigrantes eram, em sua maioria, trabalhadores qualificados, jovens no auge de sua capacidade produtiva. Tantos motoristas de caminhões saíram do país que, em muitas cidades, o abastecimento ficou prejudicado. Trinta por cento dos maquinistas de trem e quase 50% dos motoristas de ônibus largaram seus empregos. Soldados do exército foram colocados a dirigir ônibus.

LOUCURA COLETIVA - Em sua edição de 15 de novembro de 1989, a revista Veja escreveu, sob o título "Já Raiou a Liberdade": "Do lado oriental, a loucura é completa", informou Jeans Richter, cidadão de Berlim Oriental, exultando, depois de cruzar o Checkpoint Charlie, o mais conhecido posto de ligação entre os dois lados de Berlim. Loucura - mas loucura de alegria - provavelmente foi a palavra mais adequada para descrever as cenas que se seguiram. Primeiro em pequenos grupos, como se para testar se o anúncio feito pouco depois das 19 horas (o governo anunciava o direito de ir e vir dos cidadãos, além da liberdade de imprensa) era mesmo para valer, depois às centenas, em seguida aos milhares, os berlinenses foram chegando. Por volta da meia noite, já eram uma multidão enorme, incontrolável. Do lado ocidental, outra massa humana os aguardava. Ao se encontrarem, explodiam em gritos e abraços, como se comemorassem o fim de uma dura e longa guerra - uma guerra iniciada há 28 anos e três meses, quando o monstrengo de concreto foi erguido da noite para o dia. "Acabou, acabou, acabou. Eu não consigo acreditar", dizia um berlinense depois de se arrastar sob as barreiras brancas e vermelhas da travessia da Rua Bornholmer - um ato que, até o começo do ano, lhe custaria a vida". (...) "Não há duvida de que a História está sendo escrita agora. Nós, alemães, devemos enfrentar o desafio", declarava, quase à mesma hora, o chefe do governo da Alemanha Ocidental, Hermuth Kohl. Surpreendido, como o resto do mundo, pela abertura do mundo e de todas as fronteiras entre as duas Alemanhas, no início de uma visita à Polônia, Kohl exibiu perplexidade diante da velocidade vertiginosa dos acontecimentos. "Os desdobramentos disso ainda são imprevisíveis", admitiu com franqueza antes de voltar às pressas para o seu país. Kohl não estava sozinho em seu espanto. Desde que o furacão da abertura tomou de assalto a União Soviética de Mikhail Gorbachev e começou a soprar por toda a Europa Oriental, nunca se viu um processo tão acelerado de desagregação de um regime comunista como na Alemanha do Leste. "Considerado como o mais ortodoxo, o mais dura, o mais inflexível membro da combalida família comunista na Europa, o regime alemão liderava a resistência às reformas. (...) "O Muro vai durar um século", costumava dizer o homem que o ergueu e depois assumiu o comando máximo do regime, Erich Honecker." Somente no primeiro dia após a derrubada, 60 mil pessoas cruzaram a fronteira. "Para mim, ir a Berlim Ocidental foi como fazer uma viagem á Austrália", comparou um alemão que, indo na direção contrária à da grande multidão, já tratava de voltar para casa, na madrugada de quinta para sexta-feira. "Ainda não consigo acreditar".

Escreveu VEJA: "As idas e vindas continuaram madrugada adentro e prosseguiram durante toda a sexta-feira. Do outro lado do Muro, os berlinenses orientais eram recebidos com palmas, garrafas de champanhe e 100 marcos alemães - equivalente a 54 dólares - a título de "dinheiro de boas vindas", pois a moeda da Alemanha comunista não é conversível. Um mundo novo aguardava os visitantes, principalmente os que nunca tinham encontrado um jeito de convencer as autoridades de seu país a deixá-los cruzar o muro. "É coisa demais para a primeira vez. Não consegui escolher nada", disse Uwe Michalski, que, com olhos espantados e o "dinheiro de boas-vindas", firmemente seguro na mão, parecia um tanto perdido num dos maiores paraísos de consumo do mundo. "Para mim, é como se estivesse em outro planeta", comparou uma adolescente que namorava a seção de equipamentos de som numa grande loja de departamentos."Em um mês, esses alemães - crianças, puks, donas de casa, estudantes, trabalhadores - realizaram o impossível, o inimaginável, o assombroso", escreveu VEJA. " (Texto e pesquisa: Conselheiro X.)


Hoje a atriz Maria Ribeiro faz 38 anos e o técnico Luis Felipe Scolari completa 65.

sexta-feira, novembro 08, 2013

Dorinha Duval: o crime célebre que expôs a dura vida de uma mulher e atriz da Rede Globo

Aos 15 anos, ela fora violentada. Três anos mais tarde, passou a prostituir-se por enfrentar dificuldades financeiras e sofreu um aborto. Atriz da Rede Globo (atuou em O Bem Amado), casara-se com o ator e diretor Daniel Filho e fora abandonada por ele. Em seu segundo casamento, com o cineasta Paulo Sérgio Alcântara, viveu uma relação conturbada. A dramática retrospectiva da vida de Dorinha Duval, foi exposta em júri, em 1983, pelo advogado Clóvis Sahione, que defendeu a atriz no processo em que ela era acusada de matar Paulo Sérgio.Por sete votos a zero, Dorinha foi condenada a um ano e meio de prisão com sursis (suspensão condicional da pena). Três anos antes, Dorinha matara com três tiros o marido com quem estava casada havia seis anos. Dez dias depois, em declaração para a polícia, disse que iniciou com o marido uma discussão no quarto. Ela conta que o procurou carinhosamente e foi repelida. Aos 51 anos, 16 a mais que Paulo Sérgio, a atriz reclamou da atitude e, como mostra o livro, o marido disse que Dorinha era uma velha e que só apreciava meninas de corpo rijo.

Dorinha na delegacia, em 1980: ex-atriz que matou marido foi para a prisão aos 62 anos e, hoje, sobrevive como artista plástica Dorinha disse que encararia um cirurgia plástica, mas Paulo Sérgio teria respondido: “Você não dá mais, nem com operação”. Para se defender sob argumento de legítima defesa, Dorinha contou que respondeu aos insultos dizendo ao marido que, quando ele precisava de dinheiro, era a ela que ele recorria. E, a partir de então, Paulo Sérgio a teria agredido até que ela pegou o revólver e atirou.Após a primeira condenação mais branda, Dorinha foi a júri novamente. Acabou condenada a seis anos de prisão em regime semi-aberto. “Dorinha tinha de pagar, já pagou e talvez continue pagando”, diz o ator Paulo Goulart, que foi testemunha de defesa da amiga. “Só lamento que tivesse de modificar toda vida em função de uma tragédia.” Aos 62 anos, ela passou a primeira noite no cárcere, em Niterói (RJ). Dorinha está com setenta e poucos anos, é artista plástica, mora no Leme e vive das obras que faz. Procurada por Gente, limitou-se a dizer: “Ainda não quero falar sobre esse assunto”. (Vertudo, postado por Ruy Otto)
Hoje o ator francês Alain Delon completa 78 anos.

terça-feira, novembro 05, 2013

Hoje fariam aniversário Roy Rogers, Vivien Leigh e o escritor e político brasileiro Rui Barbosa



segunda-feira, novembro 04, 2013

O primeiro helicóptero que apareceu em Porto Alegre: 1947


Por um desses acasos do trabalho de pesquisador, descobri exatamente quando pousou em Porto Alegre o primeiro helicóptero, "um espetáculo inédito para a cidade", conforme noticiou o Correio do Povo. Foi no dia 8 de novembro de 1947, um sábado, quando o aparelho da norte-americana Bell Aircraft fez uma demonstração para os porto-alegrenses. No dia seguinte, domingo, repetiu a cena no Parque Farroupilha (Redenção), à vista de populares.
O helicóptero - que era uma novidade recente, e nem sequer fora usado na recente guerra mundial que acabara dois anos antes - vinha de Buenos Aires e seguia para o Rio de Janeiro. O espetáculo foi patrocinado pela Varig e teve até a presença do então governador Valter Jobim.

domingo, novembro 03, 2013

O crime chocante de Charles Manson, o psicopata que matou Sharon Tate


Foi pior e muito, muito mais assustador do que as principais cenas de "O Bebê de Rosemary", filme de Roman Polanski que fez (e faz) um tremendo sucesso no final dos anos sessenta. Assassinada a facadas, pendurada no teto, a atriz e mulher do diretor Polanski foi uma das cinco vítimas de um psicopata chamado Charles Manson (foto) e de sua "família" - na realidade uma seita satânica formada por jovens desajustados, "hippies" do mal, todos na faixa dos vinte e poucos anos, e que viam em Manson o seu profeta e guru, obedecendo-o cegamente.

Na noite de 8 para 9 de agosto de 1969, na cidade de Los Angeles, Califórnia, um grupo de cinco discípulos de CM penetrou na mansão de Polanski (que estava viajando) e Tate, no elegante bairro de Bel Air, e consumou um dos mais chocantes e rumorosos crimes dos anos sessenta. Vestidos com roupas pretas e capuzes, os assassinos (dois rapazes e três moças) cortaram os fios de eletricidade e do telefone e deram início à matança. À exceção de um, que estava armado com um revólver calibre .22, os demais portavam facas. Sharon, 26 anos, teria implorado pela vida de seu filho, pois estava nos dias finais da gravidez de um bebê que se chamaria Paul. Suas súplicas, no entanto, foram inúteis. Os assassinos penduram o corpo da atriz em uma viga no teto, ao lado do de um outro amigo seu, e depois escreveram à sangue, na porta da casa, a palavra "pigs" (porcos).

O crime - chocante, por si mesmo - atraiu a atenção da imprensa internacional por envolver uma jovem, bela e promissora atriz e seu marido, Polanski, que recentemente havia lançado o estrondoso sucesso "O Bebê de Rosemary", com Mia Farrow - a história de uma seita satânica que se apossa de um bebê, considerado o filho do Diabo.Ouvido por uma emissora de TV, o escritor Truman Capote - também recente sucesso com o seu romance de não-ficção "A Sangue Frio" - era da opinião de que havia um só assassino, provavelmente um maníaco sexual.Na verdade, errou feio, embora a polícia, nos primeiros meses, também não conseguisse chegar a resultados palpáveis.Nesse meio tempo, o pai de Sharon visitava acampamentos hippies, fingindo-se de um deles. Nesse mundo à parte, corria à boca pequena a história do crime; todos sabiam que aquilo fora praticado pela seita de Manson, que vivia em um rancho localizado em um vale próximo a Goler Canyon, arredores de Los Angels. Foi dessa comunidade satânica de mais de 20 pessoas - a "família" - que saíram os assassinos àquela noite.Manson, nascido em 11 de novembro de 1934, o líder da seita, tinha uma biografia apropriada para um psicopata: sua mãe foi abandonada pelo pai aos 16 anos de idade, quando estava grávida. Criado por uma avó materna, a princípio, depois por um casal de tios que não o suportava, acabou em reformatórios do Governo. Místico, racista, tinha poder absoluto sobre a seita. Condenado à morte um ano depois, teve sua pena permutada por prisão perpétua.


Hoje aniversariam Charles Bronson (1921-2003), Eike Batista (nas. 1956) e Luciana Gimenez (43 anos).