Nem faz tanto tempo assim: era o final de 1994, Fernando Henrique Cardoso ainda não tinha tomado posse como novo presidente e o Brasil se preparava para receber a rede mundial de computadores em seu território, a Internet. Em uma época em que os computadores eram, pelos padrões atuais, pesadas geringonças domésticas e que o "disquete" reinava como última palavra em tal tecnologia, a nova ferramenta prometia um "paraíso para quem precisa de informações". Já antevista como um salto para o futuro, a Internet - vejam só - contava com apenas 30 milhões de usuários em todo o mundo e talvez nem mesmo os mais otimistas imaginariam que se transformaria no que é hoje. A revista Veja, em 21 de dezembro daquele ano, publicou esta matéria intitulada "uma janela para o mundo". Note-se que o acesso era feito por telefone.
Jardim Botânico, Porto Alegre. Fundado em 2006 por Vitor Minas. Email: vitorminas1@gmail.com
sexta-feira, setembro 09, 2016
Rádio Gaúcha liderava a audiência em janeiro de 1961
No início de 1961 Porto Alegre contava com oito emissoras de rádio, algumas das quais não mais existem com tais nomes - o caso da Itaí, que foi a quarta estação a operar em Porto Alegre, inaugurada nos primórdios dos anos 50. Segundo o IBOPE, a Rádio Gaúcha liderava a audiência, com 28 por cento das preferências, seguida da Farroupilha e da Itaí. A Guaíba, mais seleta, ficava em quarto lugar. A pesquisa foi publicada em forma de anúncio, pela própria Rádio Gaúcha, na Revista do Globo. Note-se que a Gaúcha é ainda hoje a líder.
quinta-feira, setembro 08, 2016
Golpe do telefone era algo comum nos anos setenta
Se hoje qualquer um tem telefone celular móvel, quatro décadas atrás - quando a telefonia, pelos padrões atuais, ainda vivia na idade da pedra lascada - ter uma linha e um aparelho funcionando significava muita coisa, até mesmo a sobrevivência de uma pequena empresa. Como naqueles tempos o sistema era estatal (com a Companhia Riograndense de Telecomunicações, CRT) e burocratizado ao máximo, conseguir uma linha - mesmo pagando - poderia levar meses e até anos. Muitos usuários que compravam telefone acabavam entrando na Justiça, para que a CRT instalasse de fato a linha e pudessem assim ter direito a receber e fazer chamadas, algo hoje impensável. Com tantas dificuldades e entraves, algumas pessoas formavam quadrilhas que se especializavam em dar "um jeitinho", sob o argumento de que conheciam pessoas chaves na estatal e que tais indivíduos poderiam acelerar a instalação da linha, mediante, é claro, um pagamento. Às vezes isso funcionava, outras vezes não passava de puro golpe, o "golpe do telefone". É o que se vê nesta matéria do Correio do Povo de novembro de 1975 - portanto, há quase 41 anos.
domingo, setembro 04, 2016
O governador Valter Jobim foi o primeiro gaúcho a voar em um helicóptero, em novembro de 1947
O dia 9 ou 10 de novembro de 1947 (o jornal não esclarece exatamente) - um domingo ou uma segunda-feira - teve um cunho histórico no RGS: pela primeira vez um helicóptero pousava na capital gaúcha. O "curioso aparelho", fabricado pela empresa norte-americana Bell Aircraft, vinha de Buenos Aires, com destino ao Rio de Janeiro, onde participaria da Semana da Asa. Por cortesia da Varig, a aeronave pousou em Porto Alegre, onde fez sobrevoos sobre o Parque Farroupilha, atraindo uma multidão de curiosos. Desenvolvendo uma velocidade máxima de até 180 km por hora, o "avião vertical" levou 11 horas de voo da capital argentina até aqui. Tanta era a curiosidade a respeito dessa nova invenção aeronáutica, apenas findos dois anos da Segunda Grande Guerra, que o próprio governador do Estado, Valter Jobim, foi conhecê-la e tornou-se, a convite, o primeiro gaúcho a voar em um helicóptero no Rio Grande do Sul, conforme vemos nestas matérias publicadas pelo Correio do Povo.
quinta-feira, setembro 01, 2016
Carlos Drummond, o poeta que perdeu a filha e morreu 12 dias depois, de desgosto
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
"E agora, José?
a festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?"
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Já se vão quase 30 anos que Carlos Drummond de Andrade morreu. Para muitos, o maior poeta brasileiro de todos os tempos, Drummond - pouca gente lembra - faleceu 12 dias depois da morte da sua filha, Maria Julieta. E, conta-se, morreu de desgosto, de falta de vontade de viver, aos 84 anos de idade, às 8h45 minutos do dia 17 de agosto de 1987, uma segunda-feira, no Rio de Janeiro, onde morava havia muito tempo. Sepultado sem orações ou discursos - como pediu, já que era ateu (ou agnóstico, como queiram), Drummond estava internado no hospital, vítima de dores no peito. Cardíaco, já havia sofrido infartos anteriores. Foi sepultado no cemitério São João Batista, na presença de quase mil pessoas - entre eles o presidente em exercício, Ulysses Guimarães - Sarney estava no exterior.
Sua única filha - de quem era não só pai, como o maior amigo ("eles se entendiam só pelo olhar", disse um amigo) - não havia resistido a um câncer generalizado. No enterrro, o poeta confidenciou a um amigo: "Não tenho mais futuro, acabou tudo para mim". Doze dias depois, ele se deixou levar. Coisas que acontecem.
LIXO COMO PRESENTE - Homem fechado, reservado, arredio, tímido, meticuloso como todo bom mineiro, Drummond - nascido em Itabira, em 31 de outubro de 1902, em uma família de fazendeiros - publicou 30 livros de poesia (mais os de crônicas), dos quais foram vendidos mais de 500 mil exemplares. Mas não gostava de teorizar sobre poesia (coisa muito comum entre outros poetas) e preferia que o chamassem de jornalista. Expulso do colégio, em Belo Horizonte, aos 19 anos - por "insubordinação mental" - formou-se em Farmácia ("porque era o curso mais curto"), profissão a qual jamais exerceu. Foi, sim, professor de Geografia e Português, jornalista e funcionário público - por sinal muito exigente. Aos 23 anos casou-se com Maria Dolores - e com ela viveu até o final da vida.
COMUNISTA - Carlos Drummond trabalhou no Ministério da Educação durante a ditadura Vargas, a convite do seu amigo Gustavo Capanema, mas - lá pelos anos quarenta, em especial durante a Segunda Grande Guerra - alinhou-se ao Partido Comunista Brasileiro, o velho PCB, na luta contra o fascismo. Chegou, a convite de Luis Carlos Prestes, a dirigir o jornal do partido - o Tribuna Popular - mas, por incompatibilidade, demitiu-se três meses depois de assumir, por não suportar a ortodoxia comunista e stalinista. Mais tarde, explicou: "O que eu escrevia não saía, e o que saía eu não entendia nada".
Nos anos quarenta, durante a Guerra, compôs poemas bem esquerdistas, até de louvor ao staninismo - num deles saúda a resistência de Stalingrado (hoje com outro nome) aos invasores nazistas. Em 1964, já bem decepcionado com a política, com a esquerda e a politicagem, apoiou o Golpe Militar - dois meses depois já estava novamente decepcionado e enojado com aquilo tudo.
Muito abalado com a morte da filha (teve um filho antes, que morreu poucos meses depois do nascimento), ainda mantinha seus hábitos impecáveis e ordeiros, como o de acordar às 7 horas da manhã e dormir tarde, e o de arrumar as cestas de lixo com tal minúcia que "pareciam presentes de Natal", ou "embrulho de presente". Telefonava seguidamente aos amigos, para saber como estavam e dava lá seus palpites e conselhos.
Cético, bom mineiro, Drummon teve outro grande mérito: já reconhecido com o maior poeta brasileiro - aquele que fazia poesia simples, sem firulas, quase na linguagem do povo - recusou-se a se candidatar à Academia Brasileira de Letras (Moacir Scliar também disse isso nos anos 70, depois quis ser "imortal" e hoje participa dos glamourosos chás da "Casa de Machado de Assis").
E como hoje é domingo, é um bom dia para ler Drummond, na cama, entre as cobertas."E agora, José?
a festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?"
quarta-feira, agosto 31, 2016
Agosto, mês dos cachorros loucos
O mês de agosto, antigamente (nem tão antigamente assim) era considerado o mês dos cachorros loucos, em referência ao grande número de raiva canina, ou hidrofobia, que acontecia nesse período do ano. Até mesmo os pais alertavam as crianças para não se aproximarem de cães vadios e observarem, de longe, se tais bichos estavam babando ou com espuma na boca - sintoma da raiva. Hoje, com tantas vacinas e cuidados aos animais, nem mais se fala nisso e não se registram casos de transmissão da raiva do cachorro para o ser humano através da mordida - algo terrível, se não houvesse a imediata aplicação de injeções dolorosas em volta do umbigo. Nesta matéria, de janeiro de 1976 - publicada pelo Correio do Povo noticia-se o grande número de cães hidrófobos que vagavam pela badalada praia do Laranjal, em Pelotas, causando temor entre os moradores e os veranistas.
terça-feira, agosto 09, 2016
A surpreendente história de um "mané" da ilha chamado Guga
Pesquisa e texto: Conselheiro X
1997. À exceção dos próprios tenistas profissionais, ninguém no Brasil tinha ouvido falar em Gustavo Kuerten, o Guga. Porém, em junho daquele ano um rapaz de 20 anos (nasceu em 10 de setembro de 1976), 1,91 metro de altura, 76 quilos, cabelos longos, barba rala e um estilo "grunge" de se vestir, conquistava o primeiro e mais importante dos seus muitos títulos - o de campeão do torneio de Roland Garros, na França, um dos mais importantes do mundo do "grand slam" - as competições em Winbledon, na Inglalterra, os abertos dos Estados Unidos e da Austrália e, é claro, esse, na França. Guga havia se profissionalizado havia apenas dois anos.
Não faz muito Guga despediu-se do tênis profissional, na mesma quadra que o viu vencer. Emocionou-se e até ganhou um pouco da terra e do saibro da quadra de seu técnico e "segundo pai", o gaúcho Larry Passos. A diferença é que, agora, o tenista catarinense, fanático torcedor do Avaí, tem algumas dezenas de milhões de dólares de patrimônio e um nome reconhecido no mundo todo. Ao lado de Maria Esther Bueno, tricampeã em Winbledon, Guga tornou-se o maior nome masculino do tênis brasileiro de todos os tempos. E um orgulho para a sua terra, Santa Catarina.
MULTICOLORIDO - Ao vencer o espanhol Sergi Bruguera, naquele torneio, Gustavo Kuerten - o azarão da disputa - ganhava o primeiro dos seus três títulos no "Maracanã do tênis".
Em sua edição de 11 de junho de 1997, ainda antes da final, a revista VEJA - que parecia acreditar que ele já tinha ido longe demais - escreveu: "Nunca o esporte nacional vira antes um azarão desse quilate. Guga chegou a Roland Garros há duas semanas como mais um entre as dezenas de tenistas anônimos que, todos os anos, inscrevem-se para a competição. E, para espanto da imprensa especializada internacional, e dos brasileiros, que nunca tinham ouvido falar no seu nome até segunda-feira, foi abatendo de forma implacável as celebridades que se apresentaram na sua frente. Na sexta-feira, quando venceu o belga Filip Dewulf na semifinal, já computava entre suas vítimas o russo Yegeni Kafelnikov e o austríaco Thomas Muster, respectivamente campeões do torneio em 1996 e 1995. O adversário seguinte, Bruguera, ganhou em 1993 e 1994."
E prosseguia: "Aos 20 anos, Gustavo Kuerten entrou em Roland Garros pela porta dos fundos. Antes de chegar ao torneio, ocupava apenas a 66 posição no ranking dos melhores tenistas do mundo e nunca havia vencido um torneio de primeira classe do circuito internacional. "Ainda não sei se sou uma estrela do tênis ou se continuo o mesmo", disse a VEJA um incrédulo Guga na quinta-feira enquanto brincava num flipperama ao lado do estádio."
Depois das vitórias de Roland Garros, os jornalistas internacionais passaram a chamá-lo de "surfista do saibro". Algo que também chamou a atenção, naquela ocasião, foram as roupas do tenista brasileiro. "Num esporte em que a tradição manda os atletas usar impecáveis roupas brancas, Guga apresentou-se com uniforme berrante, mais apropriado a um jogador de futebol: todo azul e amarelo, incluindo meias e sapatos. Surpresos, os organizadores do torneio procuraram os representantes do fabricante de roupas para pedir que moderassem na profusão de cores do uniforme. Não. Guga limitou-se a colocar na cabeça uma bandana com fundo branco, e manteve sua figura de surfista grunge. "Como pensaram que eu não iria longe no torneio, nem trataram do assunto diretamente comigo", conta o jogador" - escreveu VEJA em sua matéria (capa da edição de 11 de junho de 1997).
A revista dava mais detalhes do comportamento do catarinense: "Fora das quadras, mais surpresas. Enquanto a maioria dos jogadores do torneio se hospedava em hotéis caros e luxuosos de Paris, o brasileiro se escondia no modesto Mont Blanc, 70 dólares a diária. Foi nesse hotel que se hospedou quando esteve em Paris pela primeira vez, há cinco anos. Diz que foi bem tratado e não muda mais. Também costuma frequentar a mesma pizzaria, a Victoria, e se divertir no mesmo flipperama, ao lado do estádio de Roland Garros. Embora não aparente, Guga é sempre assim, metódico e disciplinado. Até hoje, quando joga nos Estados Unidos, dispensa os hotéis reservados pelos organizadores e vai para a casa de tia Vicky, uma inglesa que o recebeu quando lá esteve pela primeira vez para disputar um torneio juvenil. "Ele é uma pessoa de hábitos conservadores", diz João Carlos Diniz, promotor de eventos e amigo da família do jogador de Florianópolis."
Embora desconhecido do grande público, em 1997 Guga já era afamado no circuito do tênis brasileiro, por seu "jogo sólido", com bolas colocadas nos limites da quadra e muita velocidade. "Ele tem talento e personalidade para ficar no topo", afirmou então o americano John McEnroe, um dos maiores tenistas de todos os tempos. Como se vê, acertou: Guga ficou por mais de um ano como o tenista número 1 do mundo.
"Guga tem ainda uma arma poderosa em sua mão direita: o saque", escreveu VEJA. "Segundo o último número do Jornal do Tênis, órgão oficial da Associação do Tênis Profissional, Guga tem o décimo sétimo saque mais veloz do mundo. A bolinha arremessada por sua raquete chega a alcançar 206 km por hora. É uma velocidade tão grande que o adversário não tem tempo de reagir".
ORIGENS - De uma família de classe média, descendente de alemães, Guga tem um irmão mais velho, Rafael, formado em ciências da computação e professor de tênis - é ele quem cuida de seus negócios. O mais novo, Guilherme, já falecido, sofria de paralisia cerebral e vivia sob os cuidados de uma babá. Comerciante de esquadrias de alumínio, o pai, Aldo, havia morrido de ataque cardíaco há 11 anos. Guga disse então: "A ele costumo dedicar cada momento de minha vida". A mãe, Alice, trabalhava como assistente social na Telesc, a empresa telefônica de Santa Catarina, à época, além de dirigir a Fundação de Educação Especial, do Governo do Estado. A avó, Olga, foi a primeira patrocinadora - os primeiros torneios foram bancados pelas Indústrias Schlösser, uma tecelagem da família, em Brusque.
sábado, agosto 06, 2016
Regina Casé fazia o quê na abertura das Olimpíadas?
Assisti mais para o final a cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio. Depois, nos repetecos de tevê, vi que foi algo bonito mesmo - algo que eu tampouco esperava, considerando o fiasco que foi a abertura da Copa do Mundo no Brasil. Só não entendi - não entendi mesmo, juro - o que a Regina Casé estava fazendo no palco, ao lado de Jorge Ben (hoje Benjor) e não sei mais quem. Ué, a moça não canta, não é celebridade internacional e sequer é bonita - bem pelo contrário. Então, o que fazia lá, de fato? Alguém pode me explicar: será que colocaram a jovem senhora, sempre tão efusiva e falante, apenas para mostrar como está feia a situação econômica do Brasil ou talvez, vá lá, como uma contraposição à beleza da Gisele Bunchen? (Vitor Minas)
quinta-feira, agosto 04, 2016
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