terça-feira, janeiro 04, 2011

Tiririca não teve pai e passou fome no Nordeste


Ele é feio (já foi desdentado), nordestino, semi-analfabeto ou mesmo analfabeto funcional, não gosta de cinema, não vai ao teatro, nunca leu nenhum livro e seus ídolos são Zico, Fábio Júnior e Roberto Carlos. Religioso, é devoto de Nossa Senhora Aparecida e tem sangue mestiço – filho de mãe negra e pai desconhecido.Seu nome: Francisco Everardo Oliveira, 43 anos, o “Tiririca” – aquele que aparecia no programa “O Infeliz”, de Tom Cavalcante, uma sátira ao programa de Roberto Justus, “O Aprendiz”, na rede Record, e que nas últimas eleições foi o deputado federal com maior votação em todo o Brasil. Cearense, Tiririca é uma espécie de Chaplin subdesenvolvido, do quarto mundo, se é que a comparação pode, em algum momento, ser válida.
Mas a sua cara de coitado, de cachorro surrado, de pobre-diabo, não é mera coincidência e tem tudo a ver com a história da sua vida – antes do estrondoso sucesso de “Florentina” (Florentina, Florentina, Florentina de Jesus, não sei se tu me ama”), em 1996. Em apenas três meses, no inverno daquele ano, tiririca vendeu 320 mil discos e foi a campeã de execuções. Hoje, ele já não canta mais, mas seu rosto é conhecido de todos pela tevê. Não que alguém o leve a sério como artista, e, parece, ele nem o deseja.

O MACACO QUE DEU AZAR – Palhaço por profissão, Tiririca teve uma vida dura, logo que nasceu, na cidade de Itapipoca, Ceará. O pai fugiu quando sua mãe, Alice, ainda estava grávida, e esta – que trabalhava no circo – logo depois casou-se com um palhaço, o Palhaço Barata.

O menino Everardo viveu em barracas até completar 16 anos, quando assumiu o nome de Palhaço Tiririca e foi à luta sozinho, passando a trabalhar em um circo que havia vindo de Minas Gerais.

Neste circo, ele conheceu a filha do dono, uma acrobata de nome Márcia Rogéria, com quem passou a viver e trabalhar juntos.Os dois passaram por vários circos e até fundaram um que, nos anos 80, percorria o interior do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, no estilo “Bye-Bye Brasil”, o filme. O circo, conta-se, era tocado só pelo casal que, para fingir haver um elenco maior, trocava de roupas, disfarces e de voz inúmeras vezes. Assim, foi não apenas palhaço como acrobata, malabarista, locutor, tudo.

Os dois viveram assim por sete anos, conseguindo progredir e até comprar o primeiro animal para o circo – um macaco-prego.

Esse macaco, porém, não trouxe felicidade e nem dinheiro à Tiririca e sua mulher. Pelo contrário: um dia, em uma cidade do Maranhão, o bicho mordeu um garoto. Para cúmulo do azar, o menino era filho de um chefe político local. No dia seguinte, os capangas do coronel botaram fogo no circo e o casal só conseguiu salvar-se a si mesmos e a sua filha, de três anos de idade, além de resgatar uma televisão.

Voltaram de carona para Fortaleza e, lá, em uma cidade onde os humoristas são celebridade, tornou-se humorista, trabalhando em bares, ruas, qualquer lugar.

Na Capital, passou a usar uma peruca loira e a exibir o seu sorrido sem um dente frontal – uma marca por muitos anos.

BETO CARRERO DEU UMA FORÇA - Deu para ganhar algum dinheiro: comprou uma casa, tinha carro, telefone fixo e celular. Detalhe: sua casa não tinha água encanada, nem forro, e estava em um terreno invadido. Coisas da vida de palhaço.

Como acontece com quem quer fazer sucesso, especialmente os nordestinos, Tiririca veio para o Sul, como eles chamam o Sudeste. Quem primeiro percebeu o potencial do artista foi Beto Carrero, já falecido, que assistiu um show do palhaço em uma pizzaria de Fortaleza. Gostou tanto que mandou gravar um vídeo e o apresentou a emissoras e gravadoras. Todos responderam um sonoro “não”, e fecharam suas portas. Mas o produtor musical Arnaldo Sacomani – o mesmo que apresentou os Mamonas Assassinas à gravadora japonesa EMI – conseguiu o primeiro grande contrato, justamente com a mesma. Ficava com 30% do cachê de Tiririca.

O sucesso veio rápido e Tiririca passou a percorrer o Brasil fazendo shows, aliás de muito agrado das crianças.Em 1996, seu ano de ouro, Tiririca, quando estava em São Paulo, morava numa casa de 15 cômodos, seis banheiros e piscina, na Granja Viana, um bairro chique. Pagava 3.500 reais de aluguel, mas não morava sozinho – trouxe mais 18 colegas e formou uma república, estilo o sítio dos Novos Baianos dos anos setenta. A mulher, filhos, a sogra, a equipe de produção, todos moravam com ele.

Depois de Florentina, Tiririca gravou uma outra música que lhe rendeu incomodações e fez com que respondesse a acusações de racismo. Era “Veja os Cabelos Dela”, e tinha trechos como este: “Essa nega fede/fede de lascar/bicha fedorenta/fede mais que um gambá”. Logo ele, filho de uma negra.

Tiririca defendeu-se, dizendo ser uma brincadeira e uma referência à sua mulher, (da qual se separou com estardalhaço algum tempo depois). A própria confirmou que sempre foi complexada por ter cabelos crespos. Quanto ao mau cheiro, ele diz ser coisa da vida do circo. “É que a vida no circo é muito dura, e ele não tinha tomado banho naquele dia, aí tirei esse caco”. (Pesquisa e texto V. Minas)

3 comentários:

Anônimo disse...

Desde quando ser nordestino é defeito?

Anônimo disse...

Desde quando ser nordestino é defeito?

Anônimo disse...

Triste a forma como esse sujeito escreve seu texto recheado de preconceito e de palavras pejorativas. Dá nojo.