domingo, dezembro 26, 2010

O monstro Dedé

Amauri Júnior, aquele colunista social que está há tempos fazendo seus programas na televisão (agora está na Rede TV!), é, na minha opinião, um simpático picareta. Às vezes até simpatizo com ele - às vezes.
Fiquei tempos sem ver nenhum desses programas de "sociedade", que em geral aconteciam na madrugada - hoje infestaram todos os horários da grade, em praticamente todos os canais, e são uma praga quase comparável aos programas religiosos pagos.
Mas como a carne é fraca, de vez em quando assisto sim. Esses dias vi o tal Amauri Junior de novo e fiquei espantado com a aparência do sujeito. De tantas plásticas - isso é obviamente visível - ficou com a cara toda esticada e as bochechas reluzentes como as de um bebê. Além do mais pinta o cabelo, e o aspecto geral - em que pese ser ele, como disse, levemente simpático e até natural - faz a gente repudiar qualquer pensamento de um dia fazer o mesmo.
Mas tem coisa pior: aquele Trapalhão, Dedé, o único sobrevivente da antiga troupe, junto com Didi, fez tantas plásticas na lata, mas tantas, que virtualmente se transformou em um ET, um quase monstrinho. Tá tão repuxado que eu fico imaginando que deva até sentir dor. Não sei como funciona a coisa, mas desconfio que tais plásticas causem dor sim. Dor e feiura. É o suprassumo da breguice e da falta de sentido estético.
Os nobres ingleses se recusam a pintar os cabelos, quando estes ficam grisalhos ou brancos, por considerar isso prova de vulgaridade. Sabem das coisas.

terça-feira, dezembro 21, 2010

A velha e saudosa máquina de escrever

Das profissões, ou atividades, que se extinguiram, uma das que mais me chamam a atenção pela ausência é a exercida pelo velho, bom e chato vendedor de enciclopédias, muito presente na minha infância e adolescência no interior. Com a Internet e com as facilidades da vida de hoje, ele simplesmente sumiu - se existe, nunca mais o vi em lugar algum.
O vendedor de enciclopédias batia na porta das casas das famílias, ia no serviço da gente, ou nos pegava pelo braço na rua, apregoando as vantagens de se possuir aquele produto. Se o cara era estudante, ótimo, nada mais necessário que aqueles livros grossos e respeitáveis, "tem de tudo aqui", "é uma maravilha" etc etc. Se o cara era pai de estudante, aí sim é que deveria comprar para os filhos no colégio, para "pesquisa". Dentre as enciclopédias mais vendidas, estava a Barsa, a Mirador e a Delta Larousse, todas elas boas até hoje.
Pois esse ilustre profissional - que não largava do pé do sujeito enquanto não comprasse o seu produto (e era algo caro, que poderia ser financiado a prestações e que representava um investimento oneroso para a maioria das famílias) - desapareceu, como disse, assim como desapareceu o vendedor de bilhetes de loteria.
O vendedor de bilhetes de loteria geralmente fazia ponto nas rodoviárias do interior, e era um tipo inconfundível. Óbvio, não entendia de nada do que vendia, mas que chutava, chutava. Também percorria o comércio, os bares e especialmente as barbearias - tradicional ponto de se fazer uma fezinha. Hoje, com tudo modernoso e automatizado, o vendedor de bilhetes lotéricas (federal, estadual) - quase sempre um sujeito de certa idade, aposentado ou encostado - faz parte da história medieval. Muitos pais de família, se não sustentaram os lares, pelo menos deram uma boa melhorada na sua renda familiar exercendo essa tarefa.
Outro que foi para as cucuias é o engraxate - na maioria dos casos garotos pobres, das vilas, que faziam ou ganhavam uma caixa de madeira e saíam pelas ruas e pelo comércio para dar um belo lustro em um outro produto que, hoje, perdeu grande parte do seu espaço - o sapato. Restaram alguns, ainda, a maioria com ponto determinado, em praças, no centro das cidades. Porém, como profissão - ou ofício - a categoria pode ser considerada extinta.
Extinto mesmo, no entanto, é o velho linotipista de jornal e de gráficas. Esse sim está morto.
Lembro do primeiro jornalzinho em que eu trabalhei, no interior, em uma cidadezinha que não teria nem cinco mil habitantes na metade dos anos setenta. Chamava-se Atualidade, e ainda existe. Era um semanário municipal, o típico jornalzinho da cidade, feio, desengonçado, mas que muitos assinavam, por ser "o nosso jornalzinho" (era bem essa a expressão que eles usavam: "Colaborar com o nosso jornalzinho"). Composto a linotipo, tinha um sujeito que não recordo o nome, um alemão forte e que trabalhava quase sempre sem camisa, compondo as matérias naquela máquina imensa, preta, pesadíssima e resfolegante, a qual me fascinava observar.
A linotipo era pré-histórica - assim como, para muitas pessoas com vinte e poucos anos (adultos formados, portanto, e não crianças), é, hoje, a máquina de escrever.
Tive muitas, e mantive uma relação quase carnal, quase sexual, com todas elas. O legal da máquina de escrever era o carinho com que nos relacionávamos. Um bicho que nos sujava a mão com a tinta da fita, que as teclas acavalavam, que estragava frequentemente, e que por isso mesmo, por ser meio humano, era tão próximo de nós, os escribas e os escrivinhadores.
Com o computador de hoje é diferente: é uma coisa amorfa, sem vida, sem alma, sem personalidade, um conjunto de peças e chips eletrônicas que não nos inspiram nada. É como se fossem garotas de programa com quem fazemos sexo pago, e depois pagamos e saímos fora, sem sequer perguntar o nome. Simplesmente jogamos fora ou trocamos por outro, sem problemas, sem dilemas de consciência. Já a máquina de escrever - para quem era do ramo - era a namorada, a verdadeira namorada.
Ainda hoje, quando por acaso vejo uma delas (o que é raro), fico meio nostálgico e tocado por babaquices do passado. Lembro das minhas Olivetti (as preferidas) portáteis e da Lettera 32. Onde andarão elas? Terão morrido no ferro velho? Terão sido exportadas para a África? E recordo também dos velhos textos em papel, das folhas brancas, das laudas, das anotações que fazia, das folhas que amassava e jogava na cesta de lixo, das noites de trabalho, de café, de olhos vermelhos.
Ouvi dizer que os decoradores de hoje indicam máquinas de escrever como acessórios chiques e de bom gosto para as residências, um item que "valoriza" o ambiente. Bom, quanto a isso não restam dúvidas: máquinas de escrever, câmeras fotográficas e armas antigas estão entre os objetos de mais belo desenho que o homem produziu, na minha nada modesta opinião.(Vitor Minas)

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Calor abafado em Porto Alegre, o típico clima de beira de rio que caracteriza esta cidade neste período.
Ronaldinho no Grêmio? Sei lá, de início fui contra, agora já não sei mais nada. Talvez seja bom, talvez ruim. A princípio sou contra a volta de ex-jogadores, de jogadores voltarem. Paulo Nunes não deu certo, Renato Gaúcho também não - como jogador.
Ronaldinho ainda joga bem, ainda dá passes de incrível precisão, colocando o atacante na cara do gol. Vi isso esses dias, em um jogo do Milan.
Mas não será mais o mesmo - e trará dinheiro, como trouxe Ronaldo?
Sei lá, vamos ver. De qualquer maneira a bola está com a direção gremista.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Fui invadido por hakers. Sério mesmo. Essas duas fotos que estão aqui abaixo não foram postadas por mim. Mas como sou gremista, e como adorei a derrota do Inter, tá liberado: é África no pedaço, mano! Viu só como estou!
Tecnicamente é que me preocupa.
Viva a Mama África! Viva o Congo!!

terça-feira, dezembro 14, 2010

Ninguém merece

Há coisa mais ridiculamente asquerosa do que aquele "Doctor Rey" da rede TV, o tal cirurgião plástico-bichinho da goiaba que dá conselhos sobre tudo, vende toda espécie de produtos suspeitos e tem sempre uma mecha do cabelo de mauricinho caído sobre a testa?
Perto dele, aquele andrógino do "Ligue Djá!" que aparecia em tudo que é canal, uns dez anos atrás, ganha de dez a zero. Como é que era mesmo o nome dele, ou dela?

Bahia, campeão brasileiro

Encontro, por acaso, em um exemplar da revista Veja de primeiro de março de 1989 - o ano das eleições diretas para Presidente - uma matéria a respeito do Bahia - Esporte Clube Bahia, melhor dizendo. O time de Bobô e Charles, treinado por Evaristo Macedo, ganhou as finais contra o Inter, vencendo na Fonte Nova por 1 a 0 e ampatando em Porto Alegre.
O que achei estranho é que o jogo foi em março de 1989, decidindo o título da "Copa União" de 1988. Vê só a bagunça que era o campeonato brasileiro de então.
Diz a Veja a respeito do carnaval que tomou conta de Salvador: o prefeito Fernando José liberou o funcionalismo público e 20 mil pessoas lotaram o aeroporto 2 de Julho (que ACM depois rebatizou com o nome do filho morto). Os torcedores do Vitória se uniram à festa, que consideraram uma vitória do futebol baiano e não apenas do Bahia. Vejam se isso seria possível no Rio Grande do Sul!
A propósito: hoje - aliás, daqui a pouco - o Inter joga contra aquele time do Congo, pelo Mundial de Clubes. Não vou secar, propriamente, porque não adianta. Mas bem que eu gostaria que eles sifu. O colorado bicampeão do mundo será insuportável. Precisaremos mudar de Estado.
Pior que eles tiveram que nos aguentar por muitos anos, e olhe que nós éramos extremamente arrogantes e nojentos. Agora a roda girou e estamos nessa, infelizmente. Dá-lhe, Congo!

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Galinhólogo

Ari de Oliveira, 21 anos, com sólida e precoce reputação em serviços de gatunagem na praça paranaense, foi capaz de resistir às técnicas de interrogatório da polícia, mas sucumbiu às ameaças de desmoralização diante dos colegas de ofício, ao ser autuado como "ladrão de galinhas", quarta-feira passada, na Delegacia de Roubos e Furtos de Curitiba. E escolheu o próprio gabinete do delegado para rememorar as glórias de sua carreira - um ano e meio de detenção, incontáveis assaltos, alguns arrombamentos - e fazer a defesa de sua tradicionalmente desacreditada especialidade. "É preciso muita técnica e coragem", discursou Oliveira do alto do seu título de "Oficial do Roubo de Galinhas". Ensinou a apanhar primeiro o galo, porque "se a gente começa pelas galinhas, ele começa a gritar e acorda todo mundo"; a segurar os animais sempre pelo pescoço e as asas, "nunca pelos pés"; e por fim "colocar a cabeça da bichinha debaixo da asa que ela continua dormindo". Com essa requintada arte, visitou impunemente durante dois meses os galinheiros curitibanos. Agora, vai provavelmente estudar a etiqueta comercial, pois foi preso por vender aves abatidas acima da tabela da Sunab.
(Revista Veja, página 19, 4 de setembro de 1974)
Os Trabalhadores do Mar, romance de Victor Hugo: "A solidão faz gênios ou idiotas".
Comprei esse livro em 1977, na livraria Cultura, em Ijuí.

Lembranças de Pelotas

Estavam falando em Pelotas e nas peculiaridades da cidade, quando então perguntei se ainda havia por lá o bar Cruz de Malta, na rua XV.
Muito campari tomei ali, na época do Diário Popular, que fica quase em frente. Isso foi lá por 94, 95, quando o balcão ainda era de madeira.
O Cruz de Malta bombava todas as noites, especialmente nas sextas. Havia um outro Cruz de Malta, na avenida Bento, mas parece que não tinha nada a ver com o da XV.
Pelotas, nessa época, era uma cidade extremamente agradável, com mulheres bonitas e bem vestidas e uma vida noturna que nunca iniciava antes da uma hora da matina.
Não adiantava sair antes dessa hora. E a coisa mesmo só iria esquentar lá pelas três.
O Andrade era o editor do Diário Popular. Bon vivant, tinha um barco, em sociedade com um amigo que era delegado de polícia em outro município. O barco era uma espécie de matadouro, para usar a expressão machista.
Nunca cheguei a frequentar. Mas lembro do dia em que o Andrade, com uns uísques a mais nas idéias, meteu o seu carro na traseira de um caminhão parado no escuro, sem sinalização. Ficou alguns dias entre a vida e a morte, sendo que esta última prevaleceu.
Acho que ele não tinha mais que quarenta e dois ou três anos.
Figuraça, sempre vestido de preto, bonitão, cabelos grisalhes, bonachão, sempre brincando, foi ele quem me admitiu.
Trabalhar no Diário era ótimo. Empresa séria, dificilmente alguém era demitido dali - para isso teria que fazer muitas lambanças. Pagamento no dia certo, muitas vezes até antecipado, direito sociais garantidos, respeito. Boas lembranças.

Estrelas do mar

Na foto eu tenho três anos de idade, no início dos anos sessenta, e sou uma criança morena com os pés dentro da água do mar e um barco de pesca ao fundo. Mais adiante, casas e chalés de madeira.
Tá aqui a data - 1964. Local: praia de Itapema.
Itapema não era nada, então. Aluguava-se a casa dos pescadores por merrecas, e se ficava por lá o verão inteiro. Comprava-se peixe dos próprios pescadores e à noite não havia luz elétrica - só milhares de estrelas refulgindo contra o profundo céu escuro. Uma grande lua surgia de repente, e todos passeava na beira da praia, que era segura e silenciosa.
Havia muitas conchas, conchas enormes e lindas, além de estrelas do mar, também imensas. catávamos aquilo e trazíamos como souvenir para a nossa casa, em um posto indígena no interior do Rio Grande do Sul.
Hoje não há mais casas de madeira na beira mar de Itapema, e as conchas e as estrelas do mar praticamente desapareceram. Quem comprou terrenos e casas no litoral catariense, naquela época de simplicidade e barateza, hoje está rico.

Três vítimas

Já tenho três seguidores, o que me obriga a fazer postagens mais frequentes. Bobagens por bobagens, deixa eu me expandir.

Nova Idade do Gelo

Nova idade glacial em Porto Alegre na véspera da chegada do verão. Nesta madrugada de domingo para segunda a temperatura desabou por aqui. Hoje, ao acordar, liguei o rádio na Band News, como geralmente faço, e descobri que estava fazendo 13 graus na maior parte da cidade. Achei que era bola fora da repórter, mas, ao levantar e abrir a janela - com direito a uma visão panorâmica do Presídio Central ao longe - vi que fazia frio mesmo e que o negócio era botar uma jaqueta.
A propósito de radio, radialistas e jornalistas, a gente ouve cada coisa de doer: não é que a moça repórter da Band falava em algo que estava acontecendo na "Capital carioca".
Capítal carioca! Tá bom. E a capital fluminense fica aonde?
Lembro de um colega meu, que hoje mora e trabalha em Brasília, que, ao fazer uma matéria policial, com um morto caído, perguntou ao delegado "quem era o suspeito de ser a vítima". Bom, mas esse meu amigo era atrapalhado mesmo, e além do mais era fotógrafo e não repórter de texto. Aliás, gente boa, vacariano, fumava uma maconha que vou te contar - dizia que ajudava na hora de fotografar.
Uma vez, em Santa Catarina, quando o Esperidião Amim era governador, em pleno palácio, durante uma coletiva ou solenidade, ele deixou cair um tubo de filme, daqueles pretos, e o governador achou e abriu a tampa. Adivinhe o que tinha dentro? "É de alguém?", perguntou Amim. A história é lembrada até hoje por quem trabalhou em Santa nos anos oitenta.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Não sou eu

Descobri que tem um Vitor Minas, que não sou eu, no Twitter. O cara mora em São Paulo.

O ridículo dos Pardais de Porto Alegre

Porto Alegre é gozada.
Vejam o caso dos tais "pardais", aquela maquininha que fotografa a placa do veículo de quem ultrapassa a velocidade máxima em determinados pontos das ruas e avenidas da cidade.
Pois é, no meu modesto entendimento o tal pardal foi feito pra disciplinar e punir, para dar incerta nos motoristas, iguais aqueles guardas americanos que, sirena ligada, saem do nada para abordar e multar os infratores. Pardal só tem sentido, na verdade, se ficar escondido, amoitado, e de preferência mudar de local a cada semana, como de fato acontece na gloriosa capital gaúcha.
Só que nesta civilizada e amada cidade as nossas apedeutas e sifocantas autoridades divulgam exatamente os locais onde estarão tais pardais. Divulgam pelos jornais, pelas rádios, sites, por todos os meios de comunicação possíveis. Divulgam repetidamente, e divulgam até com um mês de antecipação, pra não dar erro ou prejudicar ninguém que anda sobre quatro rodas.
Vejam que coisa surrealista, ou burra e imbecil mesmo: você, motorista arrogante, o rei do carro, o Todo Poderoso, sabe com horas e até dias ou semanas de antecipação os locais onde estão os tais passarinhos eletrõnicos. Naturalmente, quando chega uns 300 metros antes do ponto marcado, diminui a velocidade, para não ser pego e pagar multa (se é que paga). Passado o local, uns 200 metros adiante, mete o pé no acelerador e volta a andar igual um louco, dando bananas a todos. Essa é a nossa cidade.
Pode? É, verdadeiramente, coisa de português de anedota, a coisa mais sem sentido que existe, um autêntico "me engana que eu gosto", enganação, engrupição, disparate, ofensa, piada.
E ninguém da imprensa fala a respeito, é claro, até porque a maioria é tapada mesmo, e também porque eles fazem parte da tchurma ou, quase todos, não moraram em outras capitais e acham o que se passa aqui natural, algo que faz parte da ordem das coisas.
Aliás todo mundo sabe que o motorista gaúcho - e bem especialmente o porto-alegrense - é o tipo mais boçal e ignorante do Brasil, que por sua vez é um dos piores do mundo.
Aqui, na Mui Leal e Valerosa, pedestre não vale nada, é animal para ser caçado e exterminado igual no filme Laranja Mecânica. Agora, com essa campanha da Prefeitura, melhorou um pouco. Mas o pedestre, repito e trepito, continua a ser caça em Porto Alegre e sua vida vale menos do que a de uma galinha ou de um cachorro sarnoso.

O envelhecimento do Casseta e Planeta

Em qualquer atividade, o cara tem que saber a hora de parar, diz o velho e surrado clichê. Li que o programa Casseta e Planeta sairá do ar no próximo ano, depois de muito tempo na tela da Globo.
Acho que eles estão certos, se tocaram: o Casseta envelheceu e perdeu grande parte da velha graça. A morte de Bussunda, é claro, contribuiu para isso, embora eu ache que tudo e todos tenham o seu ciclo, especialmente na tevê. Pensando bem, duraram muito, e duraram porque eram bons. Mas agora, com o Pânico, o CQC e outros programas do gênero humor proliferando em vários canais, as noites de terça na Globo já não nos atraem mais. O Casseta se tornou repetitivo e aquelas caras que nos divertiam hoje são manjadas demais. É assim que a coisa funciona, em qualquer parte do mundo.
Desses que estão aí gosto mais do Pânico, à exceção de alguns quadros. São ousados e representam um passo à frente em relação ao Casseta. E são, em quantidade, mais criativos e diversificados. Também pararam um pouco de humilhar, ou escrachar, os populares. Porem irão envelhecer também - e o Charles Henrique já é a prova. Se continuar naquela de narrar o currículo do artista entrevistado, e não criar algo mais, já era.
O CQC não me agrada muito. Não consigo gostar inteiramente de um programa de humor escrachado em que os apresentadores e humoristas andam de terno e gravata, como se fossem executivos. Aliás, o Tom Cruise disse isso a eles, quando foram entrevistá-lo.
Outra coisa: os caras são bobinhos demais. Bobinhos de classe média, infantis, garotões. Bom, é o que penso. Mas assisto a esses dois últimos e ainda dou boas risadas.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Hoje, pelo que lembro, é o dia em que os japoneses atacaram Pear Harbor, em 44.
Fizeram bem feito: oito horas da manhã (um pouco menos) de um domingo.
É um bom horário pra telefonar pros nossos amigos.
É, meus amigos, daqui a um mês esta cidade de Porto Alegre estará às moscas.
Hoje a avenida Ipiranga estava tapada de carros, como nunca vi antes. Passadas as festas de final de ano, esse povo todo se mandará para "as praias", como dizíamos lá no interior do cafundó do Locha.
Sobrarão os fudidos e os que por algum motivo mais forte não puderam tirar o time.
Verão em Porto Alegre ninguém merece: calor dos infernos, umidade. E o trem bala, hein? Bala em nós, e traçante.
E a filhota lá em Londres, num frio de lascar, neve caindo. Bom, nem tanto ao mar e nem tanto à terra.
Há um livro intitulado "Lima Barreto Toda Crônica", editado pela Agir em 2004, que é uma delícia de leitura. Para quem, como eu, nunca leu nenhum de seus romances ou novelas, só alguns contos, ler as crônicas escritas por ele no início do século XX, indo até até 1922, quando morreu, foi surpreendente. Até porque ele é, realmente, aquilo que eu pensava que é: bom. A linguagem ainda tem aqueles rebuscos antigos, mas não chega a comprometer. Quase todas as crônicas foram publicadas na revista Careta.
O cara denuncia todos os pernósticos da época e nutria implicante e recorrente ojeriza por Coelho Neto, um sujeito pomposo e que se achava. Tambén não gostava de Rui Barbosa e do Marechal Rondon, a quem dizia ter um "rosto cruel". Outras coisas que Lima Barreto ironizava era o futebol - ele, pelo visto, achava aquilo coisa da elite. E era, de fato, um esporte onde negro não tinha vez.
Procurem esse, aliás, esses livros, já que são dois grossos volumes. As crônicas mostram o que a gente já sabia: a merda sempre foi essa aí, as moscas é que eram outras.

terça-feira, novembro 30, 2010

Millor Fernandes tem 86 anos. Não é incrível? O cara está aí, durando igual rocha.
Passei minha vida toda lendo e admirando o Millor, quase um gênio. Pasquim, Veja, isso tudo. E agora vejo que o cara tem 86 anos, caramba!
Mudando pra pior - acho eu: o Delfim Neto também tem mais de oitenta anos!
Passei e minha juventude achando que ele era a personificação do mal, da direita, da ditadura, da concentração de renda.
E não é que o cara agora aparece na tevê Bandeirantes, dando opinião sobre tudo, moderado, racional, até simpático.
Millor, frase: o supremo mistério?
É quando o soldado desconhecido recebe uma carta anônima.
Porto Alegre não tem um milhão e meio de habitantes. Foi o que constatou o IBGE, nesse último censo. Não me surpreende, parece natural. A capital gaúcha é a que menos cresce no Brasil, felizmente. Quando cheguei aqui, em 1979, verão, ela tinha um milhão e cem mil habitantes. O que cresceu mesmo foi a zona metropolitana.
Tem gente que duvida das estatísticas do IBGE. Trabalhei no IBGE, censo 2000, e eles eram bem rigorosos. Foi, aquele, um censo bem feito, acho que bem melhor do que este de 2010, que, pelo que todo mundo sabe, teve vários problemas.
Coordenei uma equipe de seis recenseadores, que no final era de somente dois ou três.
Censo é um negócio incrível, tudo acontece, inclusive com recenseadores. Os caras entram de casa em casa, vêem tudo, anotam tudo.
A minha zona era a Bela Vista, a Boa Vista, as Três Figueiras. Zonas de ricos, ou quase. Gente que não gosta de reponder a nenhuma pergunta, e muito menos de abrir a porta. Mas, há dez anos atrás, a coisa era bem mais fácil do que agora. Pelo que vi em reportagens, o medo da violência - que aumentou muito - dificultou ainda mais as coisas.
Naquela época nos diziam que todo mundo era obrigado a responder ao censo. Se quiséssemos, poderíamos até chamas a Brigada. Um exagero, mas tudo bem, ótimo. Agora parece que muita gente simplesmente ignorou o censo, fechou, bateuas portas. Novos tempos etc etc.
O IBGE é sério, eu disse. É mesmo, verdade. Mas trabalhar com o público é foda, tem suas variantes. Muita gente mente, e você tem que anotar as suas mentiras, mesmo sabendo que aquilo que ele diz é uma mentira descarada.
Por exemplo, notei, e comprovei, que o pessoal da grana diminui a renda, sempre. No ano de 2000 todos eles diziam que ganhavam 2 mil reais - mais ou menos 4 mil hoje. Claro que você sabia que o sujeito ganhava muito mais do que isso, bstava ver o apartamento ou a casa em que ele morava. Nos recebiam com um pé atrás, sempre temendo que aquilo que diziam fosse utilizado pelo imposto de renda. Bom, nos diziam, então, que nada do que o entrevistado declarasse seria utilizado por outra fonte. Acho que era verdade - hoje não sei mais.
Falei que o pessoal da grana "minimizava" a renda. Pois é, e o pessoal mais pobre - incrustados entre eles - já agia ao contrário. Com vergonha do pouco que ganhavam, aumentavam a renda.
Disso tudo concluí uma coisa: renda declarada é uma ficção, não existe, não corresponde à realidade. Quando divulgam que o brasileiro ganha isso ou aquilo, dou risada:ficção, simplesmente.
A propósito: não entendi essa de não ter uma pergunta sobre o nível de escolaridade. No censo 2000 existia essa pergunta, indispensável a meu ver.
Fui recenseado também. Apareceu lá uma menina meio andrógina que me endereçou meia dúzia de perguntas, inclusive aquela de "o senhor tem luz elétrica?" Mandei ela olhar para a lâmpada que nos alumiava.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Hoje, não sem bem o porquê, acordei lembrando dos tempos em que Porto Alegre fedia ao cheiro da Borregard.
Era o final dos anos setenta, e a cidade - em determinadas horas, quando o vento estava a favor (ou contra, melhor dizendo) - cheirava a ovo podre, a enxofre.
Por que lembrei disso? Deve ser o céu cinzento e a garoa muito fina que está caindo lá fora.
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Naquele tempo nós morávamos na JUC-7, uma casa de estudante que havia ali na rua da República, na Cidade Baixa. O prédio - muito velho e carcomido - foi demolido faz anos e hoje é um edifício moderno, com comércio e apartamentos.
Passaram pela JUC-7 muitas figuras interessantes. Os tempos eram de ditadura militar e formávamos uma família (a ingenuidade da idade) - todos, ou quase todos, eram de esquerda, naturalmente.
A Cidade Baixa, naquela época, não era nem mesmo a sombra do que é hoje. A rua da República, naquele trecho, só tinha o Van Gogh, na esquina com a João Pessoa, uma farmácia, um bar pé-sujo no meio da quadra e a padaria na esquina com a José do Patrocínio.
Porto Alegre era uma cidade sonolenta, sem bares, quase sem orelhões (a maioria estragados ou depredados). Tediosa, diria eu.
Hoje toda aquela Cidade Baixa é um amontoado de bares, cafés, restaurantes, bistrôs, o escambau. Pena que o Bar do Adriano - que vendia cachaça de toda espécie a 2 reais - tenha fechado há poucos anos. Não há, hoje, nenhum bar verdadeiramente popular naquela zona toda, o que é uma carência.
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Na JUC-7 moravam então dois nicaraguenses. Um era sandinista e o outro era somozista. Os dois mal se falavam e um desconfiava do outro.
Para quem não lembra, 1979 foi o ano da vitória da Revolução Sandinista que tirou Anastácio Somoza do poder. Polarização total.
O nicaraguense sandinista estudava enganharia, bebia pra caralho e era da nossa turma. Costumava, lembro, frequentar o Parque da Redenção nos finais de semana à noite, para pegar as bichas da hora. Moreno e magro, boa pinta, tinha pouca grana e era da "linha stalinista" russa.
O somozista era branco, gordo, falava inglês e ouvia música americana a todo volume em seu quarto. Tinha dinheiro e não frequentava o nosso grupo. Me disse uma vez que tinha viajado a Miami em um avião, junto com um dos filhos de Somoza, para uma grande farra. O considerávamos de direita, naturalmente - e nessa caso a avaliação era mais do que justa.
Norman era o nome do sandinista. Seu pai era médico em uma cidade do interior da Nicarágua. Por nossas mãos, Normam conheceu boa parte do interior do Rio Grande do Sul. Espantava-se com a beleza das gaúchas e com a riqueza do Rio Grande (em comparação à terra dele). Um dia lhe perguntei se as mulheres nicaraguenses eram bonitas. Foi, creio, sincero ao responder: "Não."
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Uma noite nós, estudantes - o nosso grupo mais fechado, melhor falando - estava bebendo cerveja e discutindo alto (política, naturalmente) em um daqueles bares quando fomos surpreendidos por agentes do DOPS que estavam ali, na mutuca, à espreita.
De repente todos começaram a apanhar. Baixinho, que era o presidente da Casa e o mais velho e mais radical, levou um 'telefone' nas orelhas que deve estar zunindo até hoje.
Em 1979 o AI-5 já havia caído e vivia-se a redemocratização "lenta, gradual e segura" mas os gorilas da "comunidade de informação" e da repressão ainda estavam com tudo.
Baixinho, o presidente, era (e é, acredito) jornalista. Com o final da ditadura ficou sem objetivos, sem um sentido para a vida. Já bebia muito e às vezes tentava se matar - de mentirinha, é claro, pra chamar a atenção.
Dizem que depois foi para o Rio, onde virou gay, sem maiores constrangimentos.
Nessa guerra do Rio, ao retomarem o morro do Alemão, os policiais penetraram na residência abandonada de um dos reis do tráfico, algo "luxuoso", disseram os repórteres.
A medida que a gente acompanhava, via o flagrante exagero. O apartamento - ou algo que o valha - tinha, disseram, "ar condicionado em todas as peças", TV LCD, geladeira com fibra de não sei o quê e, pasmem, uma piscina - uma piscininha de criança, no topo, ao lado de uma churrasqueira com um saco de carvão ao lado. Ah, e uma banheira de hidromassagem...
É forçar muito a barra - qualquer casa de um proprietário de padaria do subúrbio dispõe dessas comodidades hoje em dia. Aliás, pensei que, pelo que esses bandidos faturam, deveriam ter bem mais do que aqueles eletrodomésticos e "luxos" de qualquer médico mais ou menos bem sucedido.
Nem computador havia ali.
Na Londres incendiada pelos bombardeios alemães, Winston Churchill saía às ruas e ia ver pessoalmente o estado das coisas. Também usava aviões da RAF para vistoriar os danos, sem demonstrar medo, só coragem e valentia - como se espera de um político e governante, num caso desses.
Não foi o caso das autoridades do Rio de Janeiro, Governador e Prefeito. Enquanto uma guerra acontecia - com ampla supremacia do Estado e, diga-se, nem mesmo uma baixa fatal entre as tropas de segurança ou entre as dezenas de jornalistas que acompanhavam tudo de perto, perigosamente de perto - os dois insignes mandatários enviavam notas, por meio de suas assessorias, dizendo-se "orgulhosos de sua polícia" e agradecendo à população.
Ora, o que se espera, em momentos assim, é que pelo menos coloquem um capacete e vão até lá, onde estão acontecendo as coisas. Não adianta nada, em termos práticos, óbvio, mas tem um efeito psicológico sobre os cidadãos, mostra que eles, afinal, não são galinhas covardes e merecem os votos que ganharam.
É, mas não tiveram essa coragem. Nem Cabral nem o Paes tiveram peito de ir sequer perto do front de operações.
Com certeza estavam entrincheirados em seus bunkers palacianos, vendo tudo pela tevê. Êta Brasil corajoso o dos governantes de plantão!

sábado, novembro 27, 2010

Cuidado com as escadas, escadas são perigosas, escadas fazem mal.
É um sábado de sol, e muita gente está consertando coisas no telhado. Estão trepando, estão subindo as escadas, estão sujeitos aos seus caprichos.
Escadas pregam peças, escadas derrubam, escadas - coisas banais, prosaicas, inermes - até destroem vidas.
Foi o caso de A., que já foi meu amigo. Tornou-se repórter fotográfico renomado em São Paulo e nunca mais nos falamos. Coisas da vida, não importa. Foi é passado.
Um dia me ligam e contam que ele sofreu um acidente, está entre a vida e a morte: ia ajudar a consertar o telhado da casa de um parente e caiu da escada, a três metros de altura. Bateu com a cabeça e sifu, obviamente.
Vi um vídeo dele no youtube. Voltou a ser criança.
Outro conhecido, aqui de perto, fez a mesma coisa, só que no serviço. Também caiu e também bateu a cabeça. Era um cara forte, alegre, com voz poderosa e sempre muito disposto. Hoje está um caco. No hospital, pra piorar, teve meningite. Desgraça pouca é bobagem.
Isso tudo em questão de dois anos. É por isso que eu penso dez vezes antes de subir numa escada. A lei da gravidade é muito cruel, prefiro me manter na superfície.
Ah, minha invocação é com esses sujeitos de rádio e televisão que dizem "bastante" pra tudo.
Ninguém mais quer dizer "muito" - agora é "bastante". Bastante bom, bastante ruim, bastante chuvoso, bastante engarrafado.
Isso começou de uns dois, três anos para cá, e se espalhou como uma praga.
Bastante, pelo que eu sei, é o que basta, o suficiente. Então "bastante ruim" é suficientemente ruim. Que tal?
E o "veja bem"? Esse consegue ser ainda pior. Lembro do Joel Santana, o técnico da prancheta, que começava toda entrevista com um "veja bem".
Em bares populares a gente conhece cada figura, embora todas se pareçam - é o povão, os bêbados, os desajustados, nós todos.
Entendo do assunto. Mas muitas vezes a gente se surpreende com uma figura a quem não dávamos a mínima importância - mais um ali, analfabeto funcional, falando de futebol e de crimes, igual todos os outros.
Foi o caso de Y., um mulato de uns sessenta e poucos anos, que joga sinuca - sinuqueiro bom traz o seu taco - e que nunca vi beber naquele bar da avenida. É da casa, conhece e é conhecido por todos, não fala muito - o negócio dele é a mesa de pano.
Não é que, de uma hora pra outra, descobri que o sujeito é grande conhecedor da história rio-grandense. Não é um atochador, um mentiroso, não: conhece bem, bem melhor do que eu. Começou a falar sobre maragatos e chimangos, Borges de Medeiros, Julio de Castilhos, Flores da Cunha. Acertou tudo. Mas não falava em tom professoral, se achando. Me disse que é maragato. Falamos sobre flores da Cunha, que aprisionou Honório Lemes.
Vê só. Eu achando que o cara era mais um mané de bar, daqueles que só lêem o Diário Gaúcho, e ainda assim não entendem o que está escrito. Engano e boa surpresa.
Ah, e surgiu outro, que também não falava comigo. Agora fala, estabelecemos uma relação de camaradagem. É policial militar aposentado e trabalhou no DOPS e na repressão. Conhece os torturadores todos e se diz, diretamente, de direita.
Em uma País onde ninguém quer ser de direita, ele diz que é, e pronto.
Gosta de leitura e sofreu um derrame. Outra hora falo dele.
Caramba! De repente tenho dois seguidores, ou duas seguidoras, sem lá.
Gostei da foto da primeira. Será que ela me segue mesmo?
Eu, que merda, não sigo ninguém.
A. tem 26 anos e uma irmã de 16. A. é uma nega linda, e sabe disso. Dizem que, não faz muito, parava o Morro de Santa Teresa quando subia. Quem me disse isso foi um polícia, que eu nem sabia que era polícia, num bar da avenida.
Ela estava comigo, radiante, brilhosa. É uma mulher cheia de vida, sem nenhuma grana, que vive como dá - fazendo programas, pedindo, às vezes achacando, essas coisas. É viciada em crack, ao contrário da irmã menor, que também faz programa, também faz as coisas que a outra faz, mas não fuma, não bebe (de vez em quando uma cerveja), mas frequenta os bares pé-sujo.
A. é mais bonita que a menor - que, por sua vez, é também uma nega muito bonita. A. sabe que é bonita. Tem classe, voz agradável, sabe conversar, sabe rir, não é vulgar. Eu disse a ela: "Cuidado, garota, que a beleza acaba".
Ela tem o rosto perfeito - se alguém do ramo a tivesse descoberta anos atrás, certamente seria modelo. É alta, corpo esguia e, apesar de todos os excessos, tem a pele perfeita. Tem furinhos no queixo - puro charme - e um sorriso que antigamente se chamava de "alvar".
Nega cor de ébano. Mas anda por aí, dando pra todo mundo, pra sustentar o vício. Vi ela fumando pedra: em vez de ficar alegre e extrovertida, ou falante, entra numa triste neura, acha que todos a perseguem e que todos são polícia.
Usa uma boina, estilo Che Guevara. Se eu tivesse uma boa grana sobrando, vestia essa nega com os melhores panos e mentia a todos que ela era uma modelo internacional. No meu entender, é mais bonita que a Naomi Campbell. Chama a atenção.
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O Bahia voltou á primeira divisão do futebol brasileiro, depois de sete anos.
Morei - no início dos anos oitenta - próximo ao estádio da Fonte Nova (implodido, me parece) e lembro dos jogos do tricolor. A massa, em peso, tomava as ruas, num frenesi incrível, gente de toda a periferia de Salvador, fanáticos.
Naquela época Salvador tinha os "morcegos" que, acredito, não mais existam, pelo menos em quantidade. Eles se penduravam atrás dos ônibus, ou mesmo em cima, no capô, uma carona perigosa que muitas vezes terminava em morte.
Pouca gente pagava passagem no transporte coletivo de Salvador então. Era entrar, fazer um sinal para o cobrador, deixar a metade do valor da passagem nas mãos dele, e passar por debaixo da roleta, ou então por cima. Só os mais velhos e respeitosos pagavam a passagem integral. Grande parte - a garotada - embarcava na porta de trás (era a porta de embarque) e saía por ali, de fininho, na parada que desejasse, sem passar a roleta. Os cobradores não estavam nem aí.
Acho que as empresas de ônibus só não faliram porque, em troca, ofereciam um péssimo serviço, com ônibus velhos e superlotados. A rigor, não havia transporte coletivo urbano digno desse nome na capital baiana.
Como será que está hoje? Há tempos - uns quinze anos - não volto à Bahia. Imagino que a cidade esteja enorme, bonita, colorida.
Ah, e a noite da Bahia, com aquelas nuvens brancas contra a escuridão azulada do céu, a brisa, o cheiro de mar. E a cerração oceânica, na orla. E o porto da Barra - delícia que curti muito, nadando até a zona do Iate Clube. Águas mansas, tépidas, com uma temperatura média de 30 graus.
Imagine então agora as nossas praias aqui do Sul - do Rio Grande do Sul, melhor falando. Praias não - litoral. Praia é em Santa Catarina, não no Rio Grande. Ver aquela água cinzenta, suja de algas, fria e agitada, me faz olhar com ironia - e até um certo desprezo - para essa gente que veraneia por aqui. É muita falta de gosto - ou conformismo, ou exigir muito pouco.
Além de tudo uma hora a gente quer não ver gaúchos. Vemos gaúchos - nós gaúchos - o ano todo, e ainda vamos ver gaúcho durante as férias? Ah, é preciso uma trégua. Somos isolados demais, precisamos de mais convívio alienígena.
Aliás, gaúcho na praia é uma coisa esquisita e anômala - calções imensos, pele branca que há dez meses que não pega sol, um jeito desajeitado, uma estranheza com a areia, o sol e o mar.
E os argentinos, então: bom, acho que abandonaram aquele hábito ridícula de andar de meia soquete branca nas areias das praias. Esses sim não são da tribo oceânica.

sexta-feira, novembro 26, 2010

Gozado isso. Não estou atualizando o blog e mesmo assim, esses dias, cheguei a 10 mil acessos nos últimos 30 dias. Devem ser as matérias antigas. Mas confesso que a mídia eletrônica, por mais atraente que possa parecer, não é muito minha praia. Observei que a maioria dos que acessam este blog fica ali uns 30 segundos. Isso mesmo: trinta segundos. O que um sujeito lê em 30 segundos? Então é melhor nem me acessar.
Sinal dos tempos. Tudo muito superficial, rápido, descartável.
Só agora recebi a minha primeira parcela do Google, dos acessos ás publicidades. Em anos e anos de blog (acho que comecei em 2006) consegui faturar esplendorosos 230 reais. E olhe que demorou. Bom, pelo menos me pagaram. Eu já achava que teria que dar queixa.
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Estou na biblioteca da PUC.
É sexta-feira e está tudo calmo. Uso essa estrutura toda, que é realmente invejável. Tem pouca gente hoje. Choveu durante o dia.
Passei na Famecos. O pessoal nãoe stava muito animado hoje. Deve ser o dia. Cafezinho a um real, só que é Nescafé. Daqui a pouco mais de um mês isso tudo vai estar ás moscas, a biblioteca começará o seu horário de verão, o que é sempre ruim.
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Verão, pra mim, não é das melhores coisas. Já gostei do verão, ou pensava que gostava. Hoje sou mais o inverno. Verão não é o mundo real. Além do calor infernal desta cidade de Porto Alegre, tem aquelas coisas que a gente bem sabe, todo ano: Big Broder na tevê, carnaval, mosquito, mosca, barato, suor, moleza, noites de insonia.
A idéia é ir para a beira do Guaíba pelo menos alguns dias. Quem conhece, sabe: o Guaíba é um rio bom (não me digam que é lago), manso, de águas quentinhas, onde a gente pode nadar em paz. Está despoluído do Belém Novo pra prás, o que já é alguma coisa.
Há tempos não nado. Incrível isso, já que adoro água, adoro nadar. Este verão vai ser o verão em que vou me reencontrar com a água, depois de tanto tempo.
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Acho que vou começar a usar esse espaço
pra escrever as minhas besteiras pessoais. Não custa nada, nem sei quem é que vai me ler. Mas alguém vai ler, lá em Pindamonhangaba.
A propósito: São Paulo é, disparado, o local que mais acessa o Conselheiro. Em segundo vem o Rio de Janeiro e em terceiro Porto Alegre.
Hoje andei procurando velhos amigos no Google, ex-amigos talvez. Que bom que eles me esqueceram, assim não tenho débito alguma. Aqui proceis.
É bom ser esquecido, dá um estímulo e tanto. E, nos grandes incêndio, a primeira coisa que queima é o livro de "contas a pagar".
Não sei porque disse isso. Ninguém me deve, pelo contrário. Mas acho a frase engraçada, me faz rir.
"Me leva aos paroxismos da hilariedades, faz-me rir a bandeiras despregadas". Também li essa frase em um jornal antigo, dos anos quarenta.
Naquele tempo eles chamavam todo mundo de "bom homem". E hospital era nosocômio. Deficiente mental era "retardado mental".
A gente se desacostuma dessas expressões, que até chocam.
Retardado mental é o dono de um bar que conheço. Disse pra ele que estava completando 89 anos e ele me olhou sério e disse: "E tu é um mentiroso".
Brasileiro não entende ironia, nem a mais primária. Acho que foi o Nelson Rodrigues que disse isso. O povão, com certeza, não entende ironia, nenhuma ironia. Então a gente tem que tomar cuidado.
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Uma amiga - cujo blog acessei - anda escrevendo a vida dela. Mora lá em uma praia do Nordeste, já viajou o mundo, tem muitas histórias, lê pra caramba, é dona de um sebo na beira da praia, muito badalado e que até já foi matéria do Fantástico. Uma celebridade local, a moça. lembro dela uns quinze anos atrás, ou mais. Irmã de uma outra ex-amiga, que agora ganha uma bela grana com negócio de tecelagem.
Pois é. A moça lê pra caramba mas escreve mal pra burro. Vai ver que é o estilo, só pode ser. Ou estava chapada e vomitou tudo na tela, sem cuidar do português.
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A gente vai ficando velho e debochado. E nostálgico também. Mas não vale a pena - a nostalgia, bem entendido.
O ano tá acabando e acho que o outro deve ser melhor. Já enfrentei anos piores que este que está acabando. Me lembro quando estava na cama, com oito parafusos no tornozelo, inútil, só vendo tevê e tendo que andar de muletas. Até hoje me sinto solidário a todos os homens e mulheres de muleta do mundo.
Como disse Kafka (estou meio erudito hoje): a religião é a muleta das almas paralíticas.
Ah, como me invoco com os que dizem "papai do céu"! Prefiro os que tiram ranho do nariz e os que chupam os dentes depois das refeições.