quinta-feira, agosto 31, 2006

Caso Simpson: inocente "pero no mucho"...


Um caso de racismo - só que às avessas, desta vez beneficiando uma pessoa negra.
Assim, em linhas gerais, pode ser entendida a absolvição do ex-astro de futebol americano O.J.Simpson, 48 anos, na década de 70, uma espécie de Pelé do esporte mais popular dos EUA. Simpson - ou Orenthal James Simpson - jogou muitos anos no Buffalo Bills.
O julgamento teve seu desenlace em 3 outubro de 1995, em Los Angeles, um ano depois da brutal morte de Nicole Brown Simpson (na foto, com ele), ex-mulher de O.J., e do amigo dela, Ronald Goldman, fato acontecido em 12 de junho de 1994. O julgamento - na verdade um grande show - durou 372 dias até o veredito final e consumiu nove milhões de dólares do contribuinte norte-americano. Simpson teria gasto de quatro a sete milhões com a sua equipe de advogados e de especialistas - só um perito em testes sanguíneos cobrou 100 mil dólares para dar seu testemunho no tribunal. Calcula-se que 60 milhões de pessoas, somente nos EUA, acompanharam o julgamento pela televisão, incluindo aí o então presidente Bill Clinton. O resultado deixou muita gente estupefata, pois os jurados deram um veredito que contrariava todas as evidências. Tal resultado, no entanto, pode ter evitado a eclosão de novos distúrbios raciais na segunda maior cidade americana, um barril de pólvora sempre prestes a explodir.
A absolvição de Simpson foi comemorada pelos negros dos Estados Unidos, que viam na acusação contra o astro do beisebol mais uma atitude racista da polícia de Los Angeles. E foi a polícia que, em última análise, pôs tudo a perder - talvez até, por suas falhas, colocando em liberdade um assassino frio e calculista. A acusação alegou que Simpson matou sua ex-mulher por causa de um ciúme doentio - ele imaginava que ela estava tendo um caso com um dos seus amigos.
O crime aconteceu na noite de 12 de junho de 1994, no jardim da casa de Nicole, uma ex-garçonete que dele se divorciou em 1992. Ela morava em um dos bairros mais chiques de Los Angeles - cidade marcada por profundas divisões raciais (brancos, negros e latinos) e por uma incontrolável guerra de gangues na periferia. O assassino atacou as duas vítimas entre 22h15 e 23 horas, com uma arma que nunca foi encontrada - um instrumento contundente que deixou uma poça de sangue no local, constatando-se que as vítimas lutaram muito contra o agressor. Não houve testemunhas e todas as provas eram circunstanciais. Ron Goldman, o amigo de Nicole, aparentemente deu um tremendo azar, pois foi a casa desta apenas para devolver os óculos esquecidos pela mãe de Nicole no restaurante onde ele trabalhava, e acabou encontrando a morte. O..J. Simpson foi preso cinco dias depois pela polícia e formalmente acusado pelo crime.
Contra ele pesaram muitas evidências, especialmente suas reações imediatas após o fato: deixou uma carta na qual falava em suicídio e fugiu em um jipe, onde, no seu interior, havia uma barba postiça e o passaporte. Também os exames de DNA (que, em 1994, já era empregado como prova nos EUA) comprovaram a existência do sangue das vítimas na casa de Simpson. Além disso ele não conseguiu explicar direito onde estava no horário do crime - alegou que jogava golfe em casa. Pior: uma luva sua foi encontrada no quintal da sua própria casa, com o sangue das vítimas. Comportalmente, outro fato que chamou a atenção foram as manifestações obsessivas de ciúme e as repetidas surras que Simpson aplicava na sua mulher, sempre ameaçando-a de morte. Mesmo sendo negro - mas nem de longe militante da causa - ultimamente o astro do beisebol só namorava loiras, como Nicole.
A seu favor contou o fato de alguns dos policiais que atenderam a ocorrência serem notoriamente racistas, sendo suspeitos de haver plantado as provas. Segundo se apurou depois, os policiais não coletaram o sangue devidamente, carregando o material durante horas (abaixo de um calor fortíssimo) antes de deixá-lo no laboratório. Um deles, Mark Fuhrman, era abertamente racista e neonazista - embora nunca ousasse reconhecer isso. A defesa apresentou uma fita em que o policial fala com desprezo dos negros e, a certa altura, diz que "quando se trata de um crioulo, primeiro você prende e depois faz as regras." Como o jurí, de doze pessoas, era formado majoritariamente por negros - entre eles havia apenas dois brancos e um hispânico - o fator racial foi decisivo.
O chamado "Caso Simpson" dividiu os Estados Unidos: logo após o julgamente uma pesquisa constatou que para 75% da população branca Simpson era o culpado, enquanto 78% dos negros acreditavam que ele era inocente. No total, 56% dos norte-americanos discordaram da absolvição, entre apenas 33% que concordaram.
Provavelmente culpado, O.J.Simpson não tem do que reclamar: declarado inocente, ele ficou com a guarda dos dois filhos que teve com Nicole e ainda faturou muito dinheiro, vendendo entrevistas, reportagens e depoimentos sobre o caso. De qualquer forma, o caso Simpson chamou a atenção para as divisões raciais da sociedade americana, especialmente a de Los Angeles, cuja polícia é das mais violentas, racistas e corruptas dos Estados Unidos.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Joelmir Beting, um ex-bóia fria do canavial.


Olhando hoje, quem imaginaria que o conceituado comentarista de economia, o homem de voz pausada, de rosto claro e "primeiro-mundista", o medalhão que fala sobre dinheiro com a naturalidade de quem sempre teve esse produto em fartura, quem imaginaria que ele, dos sete aos dezesseis anos, fosse um bóia-fria - aquele sujeito desvalido que corta cana nas lavouras do interior de São Paulo, ganhando uma mixaria por isso?
Pois é, Joelmir Beting - autodidata por formação, um dos mais bem pagos jornalistas do País, hoje fazendo seus comentários na Rede Bandeirantes de Televisão (depois de tantos anos na Globo, demitido por fazer a propaganda de um banco, sem autorização da emissora), 69 anos - foi coroinha e bóia-fria nas lavouras de cana-de-açúcar da região de Tambaú, interior de SP? Aos 16 para 17 anos, Joelmir mudou-se para a Capital paulista, iniciando, a duras penas, a sua escalada para o sucesso - ou coisa que o valha.
Outra informação que pouca gente sabe: no dia 5 de março de 1961, no estádio do Maracanã, em um jogo entre Santos e Fluminense, quando era comentarista esportivo, foi dele a idéia de mandar fazer uma placa em comemoração ao antológico gol de Pelé - aquele que resultou na famosa "placa de ouro": o Santos vencia a partida por 1 a 0 quando Pelé recebeu a bola no meio do campo e arrancou em direção à meta adversária, passando por dois, driblando mais três e chutando na saída do goleiro Castilho. Joelmir, que estava no estádio, impressionou-se com o lance e sugeriu ao jornal O Esporte, no qual trabalhava, que fizesse uma placa de bronze para registrar a beleza da jogada. O hoje famoso comentarista de economia pagou as despesas com dinheiro do seu próprio bolso pois o jornal encolheu-se na hora de saldar as despesas. "Nunca fiz um gol de placa, mas fiz a placa do gol", diria mais tarde o comentarista.
A propósito: católico fervoroso, discípulo do Padre Donizetti, o pai de Joelmir morreu quando ele tinha apenas sete anos de idade. Sebastião Beting caiu da carroceria de um caminhão que o levava para trabalhar na lavoura de cana e não restistiu aos ferimentos.
Palmeirense da gema, de olho no mundo real à sua volta, Joelmir Beting é, há muitos anos, respeitado pelo mundo empresarial e político não somente pela linguagem pedagógica que emprega nos seus comentários (ao contrário de tantos outros, que fazem questão do hermetismo) como pelos acertos realmente comprovados nas suas análises. Ou, como disse um político admirador seu, ele é daqueles que "só consegue explicar aquilo que entendeu". Justificando o seu estilo, cheio de metáforas e analogias, Beting, certa vez, disse o seguinte: "Para se fazer entender você precisa repetir uma mesma idéia até cansar. Por mais óbvia que ela seja".

terça-feira, agosto 29, 2006

Isadora Duncan e a superstição dos pássaros


A "dançarina dos pés descalços", a "filha das flores", "a Divina". No início do século XX a Europa e o Mundo (à exceção dos EUA) renderam-se ao talento, à graça e à ousadia de Isadora Duncan, a iconoclasta da dança que rejeitou o balé rígido da época (achava que ele distorcia a forma humana), a primeira a "dançar a música e não ao som da música." Em certo sentido, foi uma das precursoras do movimento hippie, muito antes que este sonhasse em existir.
Dona de uma beleza exuberante, com cabelos vermelhos flamejantes e olhos cor de violeta, Isadora Duncan na realidade se chamava Dora Angela Duncan, a mais nova de uma família de quatro irmãos, nascida na cidade de San Francisco, na Califórnia, EUA, em 26 de maio de 1877. Logo após seu nascimento, seu pai abandonou a família e a mãe de Isadora obrigou-se a manter os filhos dando aulas de piano e tricotando luvas e mantas, que vendia de porta em porta. Aos 10 anos, "Dorita" abandonou a escola e passou a dar aulas de dança. Aos 15, era uma formosa mulher, de pernas longas e reconhecida beleza.
No final do século XIX seu talento já estava consagrado. Dona de um estilo único, ela saltitava pelos palcos usando apenas pedaços de gaze enrolados no corpo. Assim, seminua, encantava platéias e escandalizava muita gente - principalmente senhoras. Certa feita mais de 40 mulheres da sociedade retiraram-se da sala onde ela estava se apresentando, em protesto contra a sua "imoralidade". Nos Estados Unidos, sua terra, nunca foi aceita e nunca fez sucesso - isso era uma das suas maiores frustrações.
A estas alturas, porém, Londres, Paris e Berlim já estavam fascinados por ela. Isadora Duncan tornava-se um mito e seus rumorosos casos de amor davam o que falar, entre eles o com Paris Singer, herdeiro das máquinas de costuras Singer, com quem teve um filho. Cobrando preços altíssimos, a menina pobre então tinha o mundo a seus pés - era a "Divina Isadora". Mesmo assim, ou talvez por isso, não esquecia do seu passado e compadecia-se dos sofredores, tendo adotado 20 crianças pobres na Alemanha, onde fundou uma escola. "Quero dar-lhes uma vida melhor, a fim de que mais tarde possam semear alegria e beleza como um clarão sobre este mundo triste", justificou ela.
Em 1916 Isadora Duncan esteve no Brasil, dançando no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Tinha já quase quarenta anos e havia, três anos antes, vivido uma terrível tragédia pessoal. Foi no dia 19 de abril de 1913, quando seus dois filhos, um de sete e outro de apenas dois anos, viajavam de carro para Versalhes, juntamente com a governanta da família. Em uma curva perto do rio Sena o motor parou e, sem puxar o freio, o motorista saiu para verificar o problema. Nesse instante o carro pulou para e frente e mergulhou nas águas, que ali tinham uma profundidade de 12 metros. Somente uma hora e meia depois o veículo foi localizado.
Em 1922 Isadora casou-se com o poeta russo Sergei Esenin, 17 anos mais novo que ela. O relacionamento foi conturbado: Esenin, bêbado, espancava, roubava e até tentou matá-la. Por fim, suicidou-se em um quarto de hotel.
Extremamente supersticiosa, a dançarina acreditava que os melros, pássaros pretos, eram mensageiros da morte. Ela afirmava ter visto três deles perto do quarto dos seus filhos, pouco antes da morte deles. No dia 14 de setembro de 1927 - aos 50 anos de idade - Isadora, já pobre e quase esquecida - saiu a passear em um Bugatti, com um amigo e namorado, nos arredores da cidade de Nice, na Costa Azul francesa. Antes, ligou o gramofone - o que tocou foi o sucesso "Bye, bye, Blackbird" (Adeus, adeus, Melro). Ao entrar no carro, usando um longo xale vermelho enrolado no pescoço, disse aos amigos: "- Até à vista! Parto para a glória!." Foram suas últimas palavras. A ponta do xale enroscou-se nos raios da roda traseira e ela teve o pescoço partido, morrendo instantaneamente. Na vitrola ainda tocava a música dos melros.

domingo, agosto 27, 2006

Edifício Andorinha, há 20 anos, um incêndio que poderia ter sido evitado



Fevereiro é, tradicionalmente, um mês propício a grandes incêndios, seja na área urbana, seja na rural, o que é explicável pela altas temperaturas do verão. Em 17 de fevereiro de 1986 - portanto, há 20 anos - a cidade do Rio de Janeiro viveu momentos de pânico e terror com a tragédia do edifício Andorinha, a qual matou oficialmente 21 pessoas, deixando mais 38 feridas - não se sabe quantas destas vieram a falecer depois. Foi o maior incêndio, em vítimas, da história conhecida do Rio de Janeiro. As cenas do edifício Andorinha, transmitidas ao vivo pela televisão, chocaram o País. Felizmente, depois dele foram poucos os sinistros dessa natureza que aconteceram no Brasil, e nenhum com tal intensidade e extensão.
Eram 13h30 minutos de uma segunda-feira quando o ar-condicionado instalado no escritório da multinacional General Eletric, no nono andar, sofreu uma sobrecarga de energia. A tomada explodiu e o fogo avançou rapidamente pelo carpete, atingindo uma potrona, logo queimando as cortinas. Dez horas depois, restavam os escombros calcinados do prédio, localizado no centro do Rio (cruzamento da Avenida Almirante Barroso com a rua Graça Aranha) e onde circulavam diariamente não menos do que 1700 pessoas.
E restava uma outra grande certeza: a de que não somente os prédios não foram construídos adequadamente para prevenir tais catástrofes como o Corpo de Bombeiros da Cidade Maravilhosa (e de quase todas as cidades brasileiras, diga-se) revelou-se pessimamente equipado. Faltou água nas mangueiras, não havia pressão nos hidrantes, os soldados do fogo dispunham de apenas doze máscaras de proteção contra a fumaça e não contavam com nenhum colchão de ar para amortecer o salto dos desesperados. Além disso, uma das suas seis escadas Magirus estragou logo no início da operação e as demais mostraram-se incapazes de chegar mais alto do que o décimo andar (quem estava nos andares abaixo deste pode se salvar sem maiores problemas, descendo pelas escadas). Foram tantas as deficiências que os Bombeiros receberam sonoras vaias da população aglomerada que assistia à cena.
Internamente, as coisas não correram melhores: a porta que conduzia ao terraço, ao final de uma escadaria, havia sido fechado a cadeado pelo síndico do edifício. As dez pessoas que chegaram ao terraço e que foram salvas graças a um helicóptero chegaram lá esgueirando-se por uma basculante. Duas pessoas, queimadas e em desespero - um homem e uma mulher - jogaram-se do alto para a morte instantânea no chão da rua. Críticas merecidas sobraram para todo o mundo, inclusive para o então governador Leonel Brizola - ele acusou a "multinacional" GE e até a "ditadura" como culpadas pelo ocorrido.
"Nem sei se valeu a pena me salvar, pois as cenas que vi jamais da minha mente", afirmou a recepcionista Isaura Calerin Iavecchia, de 32 anos. Diante das chamas de três metros de altura, ela havia ameaçado se jogar de uma das janelas do décimo andar mas finalmente, depois de mais de uma hora de desespero, conseguiu agarrar-se a uma escada Magirus.
Depois da tragédia do Andorinha, muito se falou, algumas coisas foram melhoradas e muitas outras continuam exatamente como estavam - à espera de um novo acontecido. Uma certeza ficou: se a prevenção tivesse sido feita conforme mandam as regras nada daquilo teria ocorrido e duas dezenas de vidas, no mínimo, teriam sido salvas.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Monstro de Loch Ness, a farsa que durou 60 anos



Foi uma brincadeira de cinco amigos, que certamente se divertiram muito. Quando o último deles estava para falecer, finalmente veio à tona uma das mais duradouras e fascinantes fraudes do século XX - a do "monstro do Lago Ness", ou "Nessie", uma criatura que teria sido avistada várias vezes ao longo dos últimos 1500 anos, nas Highlands. Pouco antes de morrer, Christian Spurling, o construtor do "monstro", revelou em detalhes como se construiu uma história fraudulenta que rendeu milhares e milhares de artigos, reportagens e até alguns filmes discutíveis. E que também rendeu muito dinheiro à indústria do turismo local.
O ancestral relato (na verdade, é da mitologia celta) de que, sob as águas profundas (em alguns pontos passa dos 220 metros) do Lago Ness, na Escócia, existiria um monstro nunca visto, provavelmente uma criatura pré-histórica, havia motivado o diário inglês Daily Mail, de Londres, a contratar o cineasta e "caçador de excentricidades" Duke Wetherell. Sua missão: encontrar evidências que provassem a existência de tal bicho. Em 1933, Duke seguiu para lá e concluiu que a "criatura aquática" realmente existia, com base em algumas pegadas que havia encontrado e fotografado. O jornal inglês estampou tais fotos como um furo sensacional, um furo mundial, o que desmoronou em poucos dias, quando se descobriu que aquilo provavelmente fosse as pegadas de um outro bicho ou simplesmente uma armação do "caçador".
Desmoralizado, Duke resolveu se vingar de seus antigos patrões: pediu a seu enteado Chistian Spurling, um especialista em bonecos, que fizesse para ele uma espécie de dinossauro aquático, ou uma serpente marinha. "Daremos a eles o que eles tanto querem", teria dito Wetherel.
Com o "monstro" já feito, ( material plástico, um boneco acoplado a uma bóia semi-submersa) este foi até o Lago, em companhia de seu filho Ian e lá fizeram a famosa foto que iria correr o mundo. Ao contrário do que muita gente pensava, a foto não era uma farsa - era apenas a foto verdadeira de um boneco criado. Aliás, por mais que os especialistas - fotógrafos, laboratoristas etc - tenham tentando encontrar evidências de fraude no retrato em branco-e-preto, nunca conseguiram provar que isso tivesse acontecido.
Com vistas a dar credibilidade à sua "espantosa" descoberta, Wetherell combinou com o ginecologista londrino, Robert Wilson (que estaria de visita ao local), para que este último assumisse a autoria do retrato, datado de abril de 1934. Wilson era considerado um homem acima de quaisquer suspeitas.
Talvez com dores de consciência, ou porque o houvessem pressionado, Spurling acabou confessando tudo em março de 1994, no leito de morte. Ele era o último sobrevivente do grupo de cinco fraudadores (Duke, Wilson, Spurling, David Martin, Alastair Boyd) - na verdade um bando de brincalhões que mostraram a que ponto chega a credulidade humana. Ponto a favor deles: conseguiram manter um segredo por tantas décadas e certamente deram boas risadas. Típico humor britânico.

terça-feira, agosto 22, 2006

Paulo Francis, assassinado pela Petrobrás?


Quem não lembra dele, com aquele óculos fundo de garrafa, a fala afetada, dizendo poucas e boas, não raro mentindo e não raro acertando na mosca? Um dos jornalistas mais cultos e mais lidos do Brasil (escrevia inicialmente na Folha de São Paulo, passando depois para o Estado, que distribuía sua coluna para dezenas de outros jornais brasileiros), considerado arrogante e direitista por muitas, lúcido por outros, Paulo Francis tinha um humor ranzinza - e talvez seja este humor que esteja fazendo falta hoje, nove anos depois da sua morte, em 4 de fevereiro de 1997, em Nova Iorque, aos 66 anos.
Francis - nascido Franz Paulo Trannin Heilborn, em uma família de classe média alta do Rio de Janeiro - nunca fez curso superior, foi trotskista na juventude, dos 14 aos 27 anos leu em média seis horas por dia, participou dos áureos tempos do Pasquim, foi preso pela ditadura militar, ofendeu todo mundo (inclusive Roberto Marinho, que comparou a um emissário de merda, o "robertoduto". Depois foi trabalhar para as Organizações Globo: Marinho não guardou mágoas do episódio) e, por essas e outras, morreu de infarto em seu apartamento na cidade que ele considerava a Capital do Mundo. Também parecia não gostar de negros e nordestinos - certa vez chamou o Nordeste "desta região desgraçada do País." (desgraçado não no sentido de pena, observe-se) Quanto aos seus comentários culturais, era igualmente ácido - simplesmente desprezava o moderno cinema nacional e considerava quase todos os intelectuais como subservientes ao poder. Na esfera política, tornou-se célebre a denominação que deu ao senador Eduardo Suplicy (e sua irritante fleuma) - "Mogadon", o nome de um remédio.
Paulo Francis vivia então (1997) um dos mais complicados períodos da sua vida: estava sendo processado pelo presidente da Petrobrás (do governo FHC), Joel Rennó, e mais outros seis diretores da estatal. Eles pediam nada menos do que 100 milhões de dólares por ressarcimento moral, uma vez que o jornalista havia dito, durante sua participação no programa Manhattan Connection, da Globosat, que`"os diretores da Petrobrás põem dinheiro na Suiça", "roubam em subfaturamento e superfaturamento", "é a maior quadrilha que já existiu no Brasil". Pior: disse isso tudo sem nenhuma prova consistente e certamente iria perder o processo e ter que pagar uma bolada grossa para essa gente. Aliás, já estava gastando os tubos com advogados - ele, o jornalista mais bem pago do Brasil, ainda assim não tinha como fazer frente às despesas com honorários (ele próprio calculos que o processo se arrastaria por uns cinco anos e lhe custaria, só com os advogados, no mínimo 200 mil dólares). Segundo Francis, o objetivo da ação era aruiná-lo financeiramente. Transtornado, passou a ingerir calmantes em doses maciças e a sentir dores nos ombros, o que julgou um sintoma da sua bursite e não de problemas cardíacos, os quais até seu médico desconhecia.
É de se imaginar que, se estivesse vivo hoje, o que ele não diria do governo petista, de Lula e companhia. Para esses, felizmente, ele morreu antes.
Uma palhinha de Paulo Francis:
"A morte deve ser como a anestesia geral"
"Bebi muitos anos. Para ficar bêbado. Não vejo outra razão. O bebedor social é coisa de pequeno-burguês"
"Fidel Castro é essencialmente um conservador feudal, um feitor de fazenda, a quem a idéia de inovações, de modernidade, horroriza"
"A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem"
"Acho que a tendência do intelectual é ser de direita. Ele é, por definição, um elitista"
"É preciso meter as mãos na cabeça raspada do Vicentinho língua-presa. Eu lhe daria uma chicotada para ver se reage docilmente como escravo."
"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. Crítica não é raiva. E crítica, às vezes, é estúpida."
"Nenhum filme brasileiro dá certo porque todos os cineastas tentam demagogicamente se colocar na posição de humildes. É falso, visceralmente. Sempre que vejo algum favelado em filme brasileiro tenho vontade de sair gritando: é um santo! É um santo!"
"O negro africano não tinha língua escrita, como notaram os exploradores da África do século XIX; logo não pode, pela ordem natural das coisas, possuir uma cultura como a entendemos."
"Quero que fique registrado que eu favoreceria o fechamento do Congresso ou qualquer outra dessas instituições reacionárias que impedem o progresso do País."

domingo, agosto 20, 2006

Rejeitada, a moça decepou o pênis do namorado

Aconteceu em Vitória do Espírito Santo e virou notícia na imprensa. A data: 4 de novembro de 1996. Nessa noite, no Motel Status, J.G.G.S., de 17 anos - descrita na imprensa como uma "loira belíssima de 1,70 metro e pouco mais de 50 quilos" - cortou o pênis do comerciante João Carlos Matos de Faria, de 27 anos. Motivo: ele já não queria mais nada com ela. Desprezada, a moça entrou em desespero, telefonando insistentemente para o comerciante e até ameaçando se matar caso a situação continuasse como estava. Finalmente, o rapaz concordou com uma última noite de amor, que aconteceu no melhor motel da capital capixaba, onde o casal chegou por volta das 22h30min, uma segunda-feira. "Se você não vai mais ficar comigo, também não fica com mais ninguém", teria dito a menor antes de decepar o pênis de João Carlos, fato que aconteceu às 5 horas da manhã.
Segundo a versão dos dois, por volta das 4h30min da manhã - depois de terem feito sexo a madrugada toda - João Carlos acordou a menina, já que pretendia ir embora. Nesse momento, enquanto ele se vestia, a menor começou a beijá-lo nas partes íntimas - sexo oral que acabou em um golpe de faca, seccionando o membro. Ferido, horrorizado e ensanguentado, o comerciante pegou o telefone e ligou para a portaria do motel. "Socorro, a mulher está louco, ela cortou meu pau", gritou ele.
João Carlos era um rapaz de 1,85 metro, 95 quilos, filho de uma família abastada, tendo estudado nos melhores colégios. Natural de São Paulo, residia em Vitória havia menos de três anos. Lá, a família mantinha uma loja no shopping e uma distribuidora de comidas e bebidas.
João Carlos, porém, teve sorte: ele apanou seu pênis e, levado para São Paulo em um vôo de urgência, submetido a uma operação no Hospital Nove de Julho, teve seu membro reimplantado. O pênis foi colocado em um saco plástico, com pedras de gelo tiradas do frigobar, e levada para o hospital. A operação, conduzida pelo urologista Nelson Garcia Forjaz Júnior e pelo ciurgião vascular Aldo Ferronato, foi considerada um sucesso (quatro horas de duração), embora dificilmente João Carlos volte a ter uma vida sexual normal.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Orson Welles e a invasão dos marcianos


Além de ator e cineasta genial, Orson Welles protagonizou um dos mais conhecidos episódios de pânico coletivo já registrados nos Estados Unidos. Foi em 1938, 30 de outubro, data que, nos EUA, é uma espécie de primeiro de abril brasileiro - o dia dos bobos, das brincadeiras e dos trotes.
No caso, levava-se ao ar a adaptação do famoso livro de H. G. Wells, The War of the Worlds, "A Guerra dos Mundos", publicado no ano de 1989 e um dos clássicos dos primórdios da ficção científica, narrando a invasão da Terra por seres alienígenas - marcianos, no caso. Na época acreditava-se na existência de uma civilização marciano e nos famosos "canais" do planeta vermelho.
Nesse dia, por volta das 8 horas da noite, a emissora Columbia Broadcasting System, CBS, de Nova Iorque, passou a transmitir ao vivo a adaptação do romance encenada no The Mercury Theatre. Super-realista, muito bem feita, a peça - uma adptação de Howard Koch - foi tida como um fato verdadeiro, embora vários avisos, antecedendo o programa e mesmo ao longo deste, avisassem que aquilo era apenas ficção. Não adiantou: mal o "Theatre Mercy" iniciou a sua introdução padronizada, tocando músicas de dança, muito ouvidas em hotéis e salões de baile, a música cessou e entrou a voz de um locutor: "Senhoras e senhores, interrompemos a nossa programação de dança para um boletim especial da Intercontinental Rádios News. Aos 20 minutos para as 8 horas, o professor Farrel, do Observatório do Monte Jennings, em Chicago, comunicou haver observado uma série de explosões de gás incandescente a intervalos regulares no planeta Marte. O espectroscópio indica que o gás é hidrogênio e se dirige para a Terra com fantástica velocidade (...)"
Minutos depois, a música seria interrompida novamente para outros boletins, dando conta de que o Governo norte-americano havia solicitado aos observatórios que viagiassem Marte, uma vez que um astrônomo canadense havia confirmado as explosões iniciais e que um abalo, "quase da intensidade de um terremoto" havia ocorrido perto de Princeton. Em breve as informações se tornaram mais alarmantes: "Informa-se que um enorme objeto flamejante, possivelmente um meteorito, caiu numa fazenda nas vizinhanças do Grovers Mill, Nova Jersey. O rastro de luz no céu foi visto num raio de centenas de quilômetros, e o impacto foi ouvido em Elisabeth, muito ao norte".
O pânico começou a se instalar entre ou ouvintes, que julgavam tratar-se de autênticos boletins jornalísticos, tanto que várias pessoas pegaram seus automóveis e saíram a procurar o local da queda, incluindo aí o próprio diretor do Departamento de Geologia da Universidade de Princeton. O próximo informe era ainda mais alarmante: "O flamejante objeto que caiu do céu não era meteorito, mas um enorme cilindro de 30 metros de diâmetro, semi-enterrado numa cratera. O professor assegura que o cilindro é, positivamente, extraterrestre".
Quando isso foi levado ao ar, os telefones da polícia e dos jornais de inúmeras cidades começaram a estrilar histéricamente, com multidões apavoradas perguntando se aquela história era verdadeira - só o Times recebeu 875 chamadas. O mesmo aconteceu com o escritório da Associated Press de Kansas City. As ligações vinham de diferentes cantos do país - Los Angeles, Salt Lake City, do Texas. Algumas pessoas asseguravam ter visto as chamas e um velhinho, vestindo apenas pijama, correr para a casa do vizinho, dizendo "não querer morrer sozinho." Em bando, congestionando todas as vias de saída da cidade, os nova-iorquinos amontoavam-se em seus carros para fugir da "invasão marciana". Alguns homens se ofereceram para lutar e "expulsar" o invasor e uma mulher tentou o suicídio ingerindo veneno - só não conseguiu pois o marido conseguiu tomar-lhe os comprimidos das mãos. Em algumas localidades do Alabama o povo se reuniu para rezar e centenas de médicos e enfermeiros se apresentavam para prestar serviços. Pessoas com crises nervosas, muitas delas em estado de choque, baixavam os hospitais - somente na localidade de Newark foram 15.
Nessas alturas o monstro marciano já tinha mostrado a sua cara e já fazia estragos incríveis. Conforme o programa "a batalha que teve lugar esta noite terminou com a nossa derrota (era a voz de um capital do Exército) (...) Sete mil homens esmagados pelos pés de metal do monstro ou reduzidos a cinzas pelo raio quente. (...) O monstro domina a parte central de Nova Jersey (...) As estrada para o norte, para o sul e para o oeste estão congestionadas pelo tráfego humano".
O invasor marciano era mesmo de aparência apavorante - uma espécie de serpente cinzenta, se arrastando sobre tantáculos, a boca em forma de V, "com as salivas pingando dos lábios sem borda, que parecem tremer e pulsar."
Orson Welles, apesar de já conhecido em seu País, ganhou notoriedade mundial com o episódio da "invasão dos marcianos". Ele contava apenas 28 anos de idade e ainda não havia feito o seu célebre filme - Cidadão Kane, de 1941. De qualquer forma a "invasão alienígena" de 1938 mostrou a que ponto as pessoas são influenciáveis e, de certa forma, como isso é contagioso.

terça-feira, agosto 08, 2006

Talidomida, o calmante monstruoso


As pessoas mais velhas e bem informadas ainda lembram bem deste nome: Talidomida. Prescrito como calmante e sonífero no final dos anos cinquenta e início dos sessenta, o medicamento (na verdade Talidomida é o seu nome químico e não o de vendas) transformou-se em um sinistro sinônimo da ganância monstruosa da indústria farmacêutica. Lançada sem a devida comprovação de seus efeitos colaterais, testada apenas em ratos, produzida em dezenas de países com nomes comerciais diferentes (Contergan, Distaval, Kevadon, Softnon, Talimol etc), a substância foi sintetizada pelo laboratório Chemie Grünenthal, de Nordrhein-Westfalen, na então Alemanha Ocidental e, dentro em breve, logo após o seu lançamento comercial, em 1956, (como anti-gripal e com o nome de Grippex), transformou-se em uma mina de ouro para a indústria, a qual investiu pesadamente na sua divulgação. Na verdade, a partir de tal substância, fabricava-se inúmeras marcas comerciais que, somente em um ano, na Alemanha, venderam a assombrosa quantidade de 14 toneladas. Mais de 20 outros laboratórios, em diferentes países de todo o mundo, foram licenciados para a sua produção. No Brasil, a Talidomida chegou em março de 1958, nas marcas Ectiluram, Ondosil, Sedalis, Sedim, Verdil e Slip, todas vendidas sem a exigência da receita médica. Era, então, considerado o melhor soporífero jamais inventado, passando também a ser utilizado contra a gripe, a nevralgia, a asma, a tosse e, sobretudo, como antiemético para as mulheres grávidas.
Foi justamente aí que ele fez história - uma tétrica história: receitado para muitas grávidas em início de gestação, ingerido em pílulas brancas, era um sedativo barato que provocava um sono rápido, profundo e natural, sem a característica "ressaca" da manhã seguinte. De igual forma, podia ser ingerido em doses maciças que não causaria a morte do paciente, nem mesmo se este quisesse praticar o suicídio. Ideal, e, como logo se viu, fatal, ou pior que isso, para os fetos em início de formação. Usado nos primeiros 40 dias da gestação, atuava como teratogênico - ou seja, produzia monstros, se é que, infelizmente, assim se pode falar de suas vítimas, calculadas em cerca de 10 mil em todo o mundo. As crianças nasciam muitas vezes sem dois, três ou até quatro membros, dentre tantos outros efeitos observados.
A má-formação dos membros tinha um nome científico: focomelia (do grego "phoke" - foca- e "melos" - membros), ou "membros de foca". Os braços dos recém-nascidos surgiam como tocos abaixo dos ombros, semelhantes às nadadeiras das focas. Também se observou deformação dos olhos, do esôfago e do tubo digestivo. De cada duas crianças nascidas assim, apenas uma sobrevivia. Sem entender o porquê daquilo, com problemas de consciência, algumas mães enlouqueceram e outras chegaram a praticar o suicídio. Em 1961, os casos de "focomelia" já eram tantos que se falava em uma "epidemia".
De início foi extremamente difícil descobrir-se a origem de tal fenômeno, o elo comum. Pensou-se nos alimentos, na água, até em poeira atômica. Porém, graças a duas pessoas precisou-se exatamente a Talidomida como o fator causador. Uma delas, o advogado Karl Schulte-Hillen, de 32 anos, não havia aceito a explicação "genética" como a causadora da focomelia do seu filho recém-nascido. Homem saudável e esclarecido, ele descobriu que, coincidentemente, um casal de amigos seus tivera um filho em condições idênticas. Intrigado e inconformado, Karl passou a fazer investigações por conta própria, conversando com as mães que haviam dado a luz a tais "monstros". Ao tentar chamar a atenção da comunidade médica para o que estava se passando, encontrou uma revoltante indiferença e ignorância. Foi então que surgiu em seu caminho o médico Widukind Lenz, um pediatra especializado em genética que aliou-se a Karl, encampando a causa. Lenz, por fim, achou o nexo causal.
No dia 16 de novembro de 1961, Lenz comunicou oficialmente à indústria fabricante dos efeitos nocivos dos medicamentes a base de Talidomida - Contergan, no caso da Alemanha Ocidental. Ele, pessoalmente, já conhecia 13 casos. A Chemie Grünenthal, porém, não retirou o remédio do mercado - o que de fato só ocorreu quando a história virou manchete de jornal. O Contergan era o carro-chefe das suas vendas, uma verdadeira "galinha dos ovos de ouro", rendendo milhões e milhões de marcos.
Sooou então o alarma em todo o mundo. Nesse tempo, às suas próprias custas, Schulte-Hillen contratou oito fisioterapeutas que, juntamente com ele, passaram a percorrer a Alemanha Ocidental, à procura de vítimas da Talidomida. Entre agosto de 1964 e dezembro de 1965, visitaram 1.600 das 3.000 vítimas vivas da substância. Com seu endereço publicado nos jornais, choveram cartas, narrando novos casos.
A maioria das vítimas da Talidomida estava na Alemanha e na Inglaterra. Nos Estados Unidos, graças a uma mulher, o medicamento (lá chamado de Kevadon), não chegou a causar tantos danos e sofrimentos (não mais do que 20 vítimas). A ser fabricado pela Merrel Co., uma empresa de Cincinati, Ohio (e que ainda hoje é uma das grandes do mercado farmacêutico), não chegou a ser liberado pela Secretaria de Alimentos e Remédios (FDA, sigla em inglês). Apesar das terríveis pressões da indústria, a médica responsável pela aprovação, Dra. Frances Oldham Kelsey, recusou-se a dar o parecer favorável, alegando que as provas de garantias de não havier efeitos colaterais deletérios eram insuficientes. Em agosto de 1961, quando o escândalo veio a público, ela recebeu do presidente John Kennedy a medalha por Destacados Serviços Civis, por reter a aprovação da Talidomida - medalha esta que é uma das mais altas condecorações daquele país.
NO BRASIL - A Talidomida chegou ao Brasil em março de 1958, com os nomes de Ectiluram, Ondosil, Sedalis, Sedim, Verdil, Slip. Em março de 1962, o Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia proibiu o uso da Talidomida em todo o país, mandou apreender os estoques e cassar as licenças de fabricação. A medida, no entanto, não surtiu lá grandes efeitos pois o medicamento continuou ainda a ser usado durante anos devido à falta de informação da população, do descontrole na distribuição e, sobretudo, graças à omissão do governo e ao poder econômico dos laboratórios. Em 27 de novembro de 1973 foi criada, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a Associação Brasileira dos Pais e Amigos das Crianças Vítimas da Talidomida, entidade declarada de utilidade pública.
Nos últimos anos o interesse pela Talidomida trouxe novamente o debate à tona. Conforme alguns testes - ainda não plenamente comprovados - ela teria eficácia na luta contra a lepra, contra a tuberculose e até para aumentar a resistência de pacientes aidéticos. A questão, entretanto, ainda está em aberto.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Vôo 254: Boeing da Varig perde-se em plena selva amazônica


Domingo, 3 de setembro de 1989. O Brasil estava em plena campanha eleitoral, nas primeiras eleições diretas para Presidente da República depois da redemocratização que sucedeu o regime militar. Nesse dia, às 9 horas da manhã, o Boeing 737-200, prefixo PP-VMK, da Varig, decolava para uma viagem (vôo 254) que se transformaria em um estranho desastre aéreo, matando onze pessoas. Partindo de São Paulo, o vôo tinha como destino a cidade de Belém do Pará, passando por Marabá, no sul daquele estado. A bordo, nessa última escala, estavam 48 passageiros. Muitos já haviam desembarcado antes, em aeroportos como o de Uberaba, Uberlândia, Goiânia, Brasília e Imperatriz do Maranhão - afinal, era um típico roteiro "ping-pinga".
Quando já estava começando a cair a noite o avião - pilotado pelo comandante César Augusto Padula Garcez, de 32 anos - sobrevoava a selva amazônica, onde não há pistas de pouso e qualquer problema se torna um grande problema. Naquele momento, sem saber, o piloto estava completamente perdido, sem saber o que fazer. Na verdade, ele havia cometido um erro grotesto em seu plano de navegação: em vez de acionar a rota de 27 graus norte, direcionou o avião para 270 graus oeste - o que, se levado a efeito, em linha reta, levaria o aparelho a sobrevoar a Cordilheira dos Andes, rumo a La Paz.
Acontece que, ao descobrir o erro, o piloto também descobriu que já não tinha combustível e o jeito foi mesmo tentar, em plena noite, sem nenhuma luz a orientá-lo, tentar uma aterrissagem em uma clareira da floresta amazônica, na região de São José do Xingu, no Mato Grosso, a 500 quilômetros da cidade de Carajás e 1000 de Belém do Pará.
Quase milagrosamente, e graças à maestria do piloto abilolado, o avião de 56 toneladas pousou corretamente na selva: o piloto reduziu a velocidade a 210 km por hora e, usando os flaps (freios aerodinâmicos), caiu de cauda e depois pousou o resto do corpo, o que amenizou o impacto. Quando, por fim, o inferno daquele momento passou, quando a maioria dos passageiros certificou-se de que estava vivo, quase uma dezena de passageiros estavam mortos. A maioria morreu esmagada pelas poltronas que se soltaram na hora da aterrissagem.
Naquele instante, para os sobreviventes, incluindo dezenas de feridos, iniciava um outro drama: esperar pelo resgate, o que só aconteceria na quarta-feira. Uma série de trapalhadas, descaso e incompetência das autoridades aeronáuticas e militares custou a vida de mais algumas pessoas que se encontravam feridas, em estado grave.

domingo, agosto 06, 2006

Shopping de Osasco, Hiroxima ao meio-dia


Para muitos do que lá estavam e tiveram a sorte de sobreviver, viveu-se uma explosão atômica, uma Hiroxima acontecida naquele 11 de junho de 1996, uma terça-feira, véspera do Dia dos Namorados. Em poucos minutos restavam 39 pessoas mortas e quase 500 feridas. Das vítimas fatais, quinze eram mulheres, outras quinze eram adolescentes de ambos os sexos, sete eram homens e mais duas crianças pequenas - uma de onze e outra de três anos.
As fotos aéreas do local da explosão impressionam pelo volume do estrago, como se um míssel fosse jogado sobre a imensa construção do Osasco Plaza Shopping, na cidade de Osasco, grande São Paulo: paredes desabando, ferros retorcidos, corpos mutilados, gritos de dor e um pânico indescritível. Causa da explosão: um vazamento de gás no subsolo, capaz de detonar uma construção sólida, com poucos anos de uso. Horário do acontecido: 12 horas e 15 minutos, exatamente no momento em que muitas pessoas, ao saírem do trabalho para almoçar, aproveitam para flanar nesses modernos templos de consumo e lazer que são os shoppings centers. Calcula-se que, naquele momento, cerca de 2 mil pessoas estivessem no local quando se deu o estrondo, "mais forte que um tiro de canhão": o chão tremeu e abriu-se em vários pontos. Uma lugada violentíssima de ar (velocidade aproximada de 340 metros por segundo, estimou a perícia) deslocou tudo à sua volta. Pessoas foram jogadas em todas as direções, paredes desabaram, o teto veio abaixo e de repente tudo ficou escuro e silencioso. Em poucos segundos, porém, já se ouviam os gritos, os gemidos e os pedidos de socorro.
A tragédia de Osasco não foi propriamente uma fatalidade e poderia, sim, ter sido evitada, conforme se apurou nos dias seguintes. Um projeto mal feito de instalação dos dutos de gás GLP utilizados nos restaurantes e lanchonetes da praça de alimentação do shopping acabou por resultar em acúmulo de gás sob o piso. Este misturou-se com o ar e, acionado por uma simples faísca, explodiu, causando as cenas de horror. O shopping - que não chegava a ser luxuoso mas recebia cerca de 50 mil pessoas por dia - estava localizado no centro da cidade e, segundo muitos dos funcionários que trabalhavam em suas lojas, era conhecido pelo cheiro ruim do GLP - o estopim da tragédia. Vistorias superficiais foram feitas nas semanas que precederam a tragédia mas nenhuma providência se tomou para sanar os problemas.
A explosão durou apenas 1 milésimo de segundo e teve o impacto de 140 decibéis, causando o rompimentos de tímpanos e hemorragias nos ouvidos de muitos sobreviventes. Alguns depoimentos das vítimas: Telma Cristina Rossetti, 16 anos, vendedora: "Abri a caixa registradora e a loja foi pelos ares. Voei um metro e meio de altura. Quando voltei a colocar os pés no chão, estava dentro de um grande buraco. A loja tinha sido sugada pela terra mais de 1 metro. Debaixo dos escombros, não conseguia entender nada. Achei que chovia, mas eram os vidros da vitrine que caíam sobre mim. " Outra - o músico e pintor Cliff Portugal, em depoimento aos repórteres da revista Veja: "Para cada lado que tentava fugir acontecia uma nova explosão. Até que fui atingido. Pensei na bomba de Hiroshima. O horror só estava começando. A poucos metros de mim, uma criança com um ferro no peito pedia ajuda. Não conseguia me mexer. Estava debaixo de blocos de concreto. Escutava gemidos por todos os lados. Então chegaram os saqueadores para roubar as vítimas."

Ana Paula Arósio e o namorado suicida


Um rosto lindo, uma carreira de modelo e de atriz em curva ascendente, um namorado obsessivamente ciumento e desequilibrado, um tiro na cabeça, um drama que completará 10 anos.

No dia 3 de novembro de 1996, um domingo, em São Paulo, a jovem atriz e já modelo consagrada, retratada em dezenas de capas de revista em todo o mundo, Ana Paula Arósio, então com 21 anos, viu o seu namorado, o empresário Luiz Carlos Leonardo Tjurs, de 29 anos, se matar à sua frente com um tiro na boca. Motivo alegado: ele acreditava que ela o traía com outros homens e afirmava não ter mais motivos para viver neste "mundo sujo". Ana Paula trabalhava então no SBT, onde fazia uma das personagens da novela Os Ossos do Barão.
O fato aconteceu apenas quarenta dias antes do anunciado casamento entre os dois, tanto que ela já escolhia as peças do enxoval e fazia planos para o futuro. Quanto ao seu noivo, era - segundo descreveram os próprios amigos - uma pessoa insegura, doentiamente ciumento, um homem bonito que mesmo assim era tímido e retraído, preferindo evitar as badalações tão comuns ao meio artístico. Descendente de imigrantes russos, de uma família que outrora fora muito rica, Luiz era proprietário de uma produtora de vídeo, uma revendedora de carros importados e havia, sem sucesso, gravado um disco independente (era vocalista). Ele, então, fazia uso de medicamentos fortíssimos como o Lexotan e o Rohypnol - remédios que, dizem os médicos, podem gerar quadros de alucinação, especialmente se ingeridos com álcool. Luiz acusava Ana Paula de tráí-lo com o apresentador Serginho Groissman - ouvido pela imprensa, após a tragédia, Groissman negou isso com veemência. Quanto à modelo, era descrita como uma moça de comportamento marcado pela discrição e seriedade. Não trocava de namorado todo mês, como não raro acontece em círculos badalados, e quase sempre tinha sua mãe a acompanhá-la.
No domingo, 3 de novembro, pela manhã, a modelo foi visitar o namorado, com o qual já havia se desentendido na noite anterior (ele, entre outras coisas, a seguia de carro com frequência, para ver aonde ia). Depois de muita discussão entre os dois (ele estaria transtornado), o rapaz sentou-se na cama, com um revólver calibre 38 na mão, e teria pedido a Arosio que o matasse. Em seguida escreveu um bilhete no qual explicava o porquê do seu ato. Apavorada, a modelo tentou tirar a arma da sua mão mas foi repelida por Luiz, o qual correu para o quarto da casa, enfiou o revólver na boca e disparou. Em estado de choque, Ana Paula Arósio passou dois dias abaixo de sedativos. Ao acordar, delirava, passando a pedir para experimentar o vestido de noiva do casamento que nunca se realizou. Superado o episódio, ela seguiu na carreira de modelo e de atriz de sucesso. Hoje é uma mulher de 31 anos, tão ou mais linda do que era dez anos atrás.


quinta-feira, agosto 03, 2006

Ulysses Guimarães: a última viagem do Sr. Diretas


Angra dos Reis, litoral do Estado do Rio. Segunda-feira, 12 de outubro de 1992, feriado da padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e Dia da Criança. O tempo está ruim, com chuvas, trovoadas e ventos naquela região da costa sul fluminense quando o deputado Ulysses da Silveira Guimarães, 76 anos, sua esposa Mora, e mais o casal Severo Gomes (ex-ministro, ex-senador) e Henriqueta partem de volta a São Paulo. Dirigido pelo experiente piloto Jorge Comeratto, o helicóptero de prefixo PT-HMK, emprestado pelo empresário paulista Jorge Chammas Neto (Moinho São Jorge), é avistado pela última vez meia hora depois da partida, por volta das 17 horas, voando baixo, a cerca de 50 metros acima do nível das ondas, costeando o litoral, abaixo de uma impiedosa chuva de granizo.

O industrial Arthur Vicintin Neto - que tem casa ali e pescava naquele momento - avistou a aeronave tentando romper a barreira das espessas nuvens que tomavam conta do céu: "O piloto ciscava, procurando um buraco no meio das nuvens", lembraria ele mais tarde. Naquele momento sopravam ventos de mais de 100 quilômetros por hora e só por milagre não aconteceria uma tragédia.
O milagre, porém, não aconteceu: as forças da Natureza foram mais fortes e em breve o Brasil saberia que o líder máximo das oposições durante o regime militar, o Senhor Diretas, o Anticandidato a Presidente da República, Ulysses Guimarães, estava morto, junto com todos os demais ocupantes do helicóptero.
A morte de Ulysses (até hoje o corpo, ou o que dele sobrou, não foi encontrado) representou, de certa maneira, o fim de uma era. Calvo, de voz grave, incisivo e destemido, o Senhor Diretas personificou a intransigente oposição ao regime de arbítrio que se instalou com o AI-5. Democrata, de tendências moderadas, o paulista Ulysses Guimarães elegeu-se deputado estadual em 1947, quando contava apenas 30 anos de idade. Em 1950 tornou-se deputado federal, também por São Paulo. Em 1956 foi escolhido presidente da Câmara Federal e, em 1961, no curto gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, tornou-se ministro da Indústria e Comércio. Com o golpe militar de 1964, Ulysses - que, discretamente, apoiou o movimento - parecia estar marchando para um direto apoio à chamada "revolução". Porém, ao constatar que a volta à democracia não estava entre as prioridades dos militares e que muitos atos de arbítrio já estavam sendo praticados, Ulysses - advogado por formação - imediatamente bandeou-se para as hostes oposicionistas - ele, que tinha sido do PSD, enfileirou-se com o recém criado Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Candidato por este partido (então rebatizado de PMDB) na primeira eleição direta do período da redemocratização, amargou o quinto lugar na contagem final dos votos, não tendo sequer ido ao segundo turno.
A morte de Ulysses - que havia ido passar o final de semana no litoral de Angra, mais exatamente na casa do empresário Luis Eduardo Guinle - encerrou uma carreira política de quatro décadas, com onze mandatos consecutivos, vigorosos pronunciamentos em favor da democracia e um estilo incandescente de oratória que marcou época. Com ele, no mesmo vôo, desaparecia outra figura destacada da oposição ao regime militar, regime ao qual, curiosamente, serviu em seu início - o ex-ministro da Agricultura do governo Castelo Branco, ministro da Indústria e Comércio de Ernesto Geisel, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do governo paulista de Fleury Filho, o ex-senador Severo Gomes. Udenista por formação, Severo desencantou-se com a Revolução de 1964 e, em 1979, bandeou-se para a oposição. Franco e direto, reconhecia ter mudado, "tarde, mas não demasiado tarde".

quarta-feira, agosto 02, 2006

Paulinho Paiakan, de vedete a estuprador


No final de maio e início de junho de 1992, quando, no Rio de Janeiro, acontecia a Eco 92, um fato surpreendeu e chocou os seus mais de 12 mil participantes: o cacique da tribo caiapó, da aldeia Aukre, no sul do Pará, Paulinho Paiakan, então com 37 anos, considerado algo assim como o "bom selvagem", o defensor da selva e do politicamente correto, foi denunciado por estupro de uma jovem branca, crime acontecido no final da tarde de uma terça-feira, 31 de maio.

Segundo a denúncia, Sílvia Letícia da Luz Ferreira, de apenas 18 anos, virgem (conforme apurou a perícia), vizinha da família do índio e que nas horas vagas ensinava as três filhas deste a ler e a escrever, foi barbaramente estuprada e seviciada por Paikan em um trecho escuro de uma estrada do município de Redenção (então com cerca de 150 mil habitantes), a menos de 800 km de Belém. Conforme se apurou, Paiakan - em conivência coma própria esposa e tendo uma filha de cinco anos a observá-los - parou o carro no qual deram carona à estudante, um Chevette. Selvagelmente, passaram a espancá-la. Em seguida Letícia foi estuprada no banco de trás. Depois do estupro, durante mais de uma hora, a vítima passou por uma sessão de tortura que, segundo o delegado que investigou o caso, de nome Barbosa, lembrava um ritual satânico, tanto que o carro ficou todo cheio de sangue, inclusive no teto. Letícia teve um mamilo dilacerado, escoriações por todo o corpo, sofreu uma tentativa de estrangulamento e foi mordida pela mulher do cacique, Irekran. Jogada em seguida para fora do carro, a moça foi salva providencialmente minutos depois por um caseiro branco das redondezas, que ouviu à distância seus gritos e foi até o local, munido de uma espingarda. Ele chegou na hora exata em que Paikan tentava enforcá-la com um pedaço de arame. Sob a mira da arma, o cacique foi obrigado a parar. O casal, segundo se soube, teriam consumido bebidas alcoólicas horas antes, durante um churrasco em um sítio, no qual Letícia também compareceu. Paikan e a família ainda permaneceram por dois dias na cidade, antes de fugir para a região da sua tribo a bordo de um avião monomotor, propriedade do próprio cacique e pilotado por este.
Com todas as suas implicações, e por ter acontecido durante o maior e mais importante encontro ecológico da década, a ECo-92, no Rio de Janeiro, o fato constrangeu a comunidade ecológica mundial, uma vez que Paiakan, até então, era uma espécie de vedete internacional, tendo recebido vários prêmios nessa área, além de ser capa de revistas importantes da Europa e dos Estados Unidos. Ele, por exemplo, havia ganho o Prêmio Global 500 da ONU e o diploma da Sociedade por um Mundo Melhor. Também foi homenageado nos salões do luxuoso hotel Waldorf Astória, em Nova Iorque, cerimônia a que compareceu ao lado do ex-presidente Jimmy Carter. Entre seus admiradores declarados estava o príncipe Charles e o cineasta Ridley Scott - que, inclusive, pensava em fazer um filme sobre ele e sua tribo. Paulinho Paiakan e a sua tribo podiam (e podem) ser considerados ricos: suas reservas (3,2 milhões de hectares) são ricas em recursos natural, especialmente o mogno, madeira nobre que, segundo se apurou, ao ser vendida aos fazendeiros da região, rendia milhões de dólares ao ano aos integrantes da tribo. Além da madeira, há ouro na área dos caiapós, em cujas casas de alvenaria se avistam antenas parabólicas e automóveis do ano nas garagens. Paulinho Paiakan, por exemplo, é dono também de uma caminhonete D-20.
Julgado e condenado pelo ato (faltam informações atualizadas a este respeito), ele e sua mulher permaneceram em "prisão domiciliar" - ou seja, foram proibidos de sair de sua reserva mas não acabaram encarcerados. O caso Paiakan, embora rumoroso, caiu em relativo esquecimento com o passar dos anos.

terça-feira, agosto 01, 2006

Astronautas da Apolo 11 levaram cianureto?


Pouca gente sabe, mas a missão Apolo 11 - aquela que chegou à superfície lunar pela primeira vez, em julho de 1969 - tinha grandes possibilidades de acabar em tragédia. Conforme um memorando encontrado nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, por ocasião dos 30 anos da conquista da Lua, havia o temor de que os dois astronautas que colocaram os pés no solo do satélite terrestre, Armstrong e Aldrin, não conseguissem mais retornar para a Nave Mãe, que ficou orbitando no espaço, com Collins no comando. Se houvesse algum problema com o módulo lunar Eagle (Águia), aquele que pousou na Lua com os dois astronautas e, duas horas e meia depois, voltou à nave principal, a ordem da Nasa é para que eles fossem abandonados na superfície lunar. Collins, então, deveria regressar à Terra, sozinho, já que não teria condições de efetuar uma missão de salvamento. Segundo os documentos, os três astronautas sabiam desse risco e estavam preparados para serem "heróis ou mártires".
O presidente Nixon, inclusive, já tinha preparado uma mensagem presidencial ao Mundo, falando da tragédia. Um dos trechos: "O destino determinou que esses homens que foram à Lua explorá-la em paz nela descansassem em paz para sempre. Outros exploradores seguirão rumo ao espaço e certamente encontrarão o caminho de volta. A busca humana não será abandonada. Mas esses homens foram os primeiros e eles permanecerão para sempre no nosso coração como os verdadeiros pioneiros."
Mais: se não conseguissem voltar, Armstrong e Aldrin teriam oxigênio para apenas 36 horas lá em cima e certamente experimentaram uma morte nada agradável, a 382 mil quilômetros de casa. Segundo informações não confirmadas, os dois carregavam consigo cápsculas de cianureto, a fim de abreviar o sofrimento.
O arquivo do memorando está arquivado sob o título "Na eventualidade de desastre na Lua" e foi redigido pelo então porta-voz de Richar Nixon, William Safire.
Para saber mais, consulte a revista Veja de 21 de julho de 1999, página 56 e 57, "Prontos para Morrer", de Daniel Hessel Teich.