domingo, dezembro 26, 2010

A sacanagem dos "concursos culturais"

Participei, nos últimos meses, de dezenas de "concursos culturais", aquele negócio de você escrever uma frase ou um pequeno texto a respeito de alguma coisa pedida, concorrendo a prêmios que vão de carros, casas e motos até coisinhas prosaicas e viagens para as praias do Nordeste. Uma loteria em que não custa nada acreditar.
Nunca tinha participado dessas coisas, e resolvi ver para crer, acreditando, a princípio, na seriedade dos propósitos dos organizadores.
Pois não é que descobri que a grande maioria é pura e simples picaretagem, incluindo grandes empresas, operadoras de telefonia, tevê, o escambau. Alguns nem dão os resultados - marcam o dia da divulgação dos premiados e simplesmente esquecem ou desprezam.
É um acinte, um desprezo total, uma prova de que este País é assim por essas e outras.
Vou divulgar alguns nomes nas próximas semanas, para dar nome aos bois. Hoje o que posso dizer deles é o seguinte: sacanas, pilantras, enganadores. Pegam o email, o RG e o CPF da gente, nos iludindo. Isso é muito suspeito. Será que não vem bomba em meu nome por aí? Como vou saber o uso que essa gente dá aos meus dados confidenciais?

O monstro Dedé

Amauri Júnior, aquele colunista social que está há tempos fazendo seus programas na televisão (agora está na Rede TV!), é, na minha opinião, um simpático picareta. Às vezes até simpatizo com ele - às vezes.
Fiquei tempos sem ver nenhum desses programas de "sociedade", que em geral aconteciam na madrugada - hoje infestaram todos os horários da grade, em praticamente todos os canais, e são uma praga quase comparável aos programas religiosos pagos.
Mas como a carne é fraca, de vez em quando assisto sim. Esses dias vi o tal Amauri Junior de novo e fiquei espantado com a aparência do sujeito. De tantas plásticas - isso é obviamente visível - ficou com a cara toda esticada e as bochechas reluzentes como as de um bebê. Além do mais pinta o cabelo, e o aspecto geral - em que pese ser ele, como disse, levemente simpático e até natural - faz a gente repudiar qualquer pensamento de um dia fazer o mesmo.
Mas tem coisa pior: aquele Trapalhão, Dedé, o único sobrevivente da antiga troupe, junto com Didi, fez tantas plásticas na lata, mas tantas, que virtualmente se transformou em um ET, um quase monstrinho. Tá tão repuxado que eu fico imaginando que deva até sentir dor. Não sei como funciona a coisa, mas desconfio que tais plásticas causem dor sim. Dor e feiura. É o suprassumo da breguice e da falta de sentido estético.
Os nobres ingleses se recusam a pintar os cabelos, quando estes ficam grisalhos ou brancos, por considerar isso prova de vulgaridade. Sabem das coisas.

terça-feira, dezembro 21, 2010

A velha e saudosa máquina de escrever

Das profissões, ou atividades, que se extinguiram, uma das que mais me chamam a atenção pela ausência é a exercida pelo velho, bom e chato vendedor de enciclopédias, muito presente na minha infância e adolescência no interior. Com a Internet e com as facilidades da vida de hoje, ele simplesmente sumiu - se existe, nunca mais o vi em lugar algum.
O vendedor de enciclopédias batia na porta das casas das famílias, ia no serviço da gente, ou nos pegava pelo braço na rua, apregoando as vantagens de se possuir aquele produto. Se o cara era estudante, ótimo, nada mais necessário que aqueles livros grossos e respeitáveis, "tem de tudo aqui", "é uma maravilha" etc etc. Se o cara era pai de estudante, aí sim é que deveria comprar para os filhos no colégio, para "pesquisa". Dentre as enciclopédias mais vendidas, estava a Barsa, a Mirador e a Delta Larousse, todas elas boas até hoje.
Pois esse ilustre profissional - que não largava do pé do sujeito enquanto não comprasse o seu produto (e era algo caro, que poderia ser financiado a prestações e que representava um investimento oneroso para a maioria das famílias) - desapareceu, como disse, assim como desapareceu o vendedor de bilhetes de loteria.
O vendedor de bilhetes de loteria geralmente fazia ponto nas rodoviárias do interior, e era um tipo inconfundível. Óbvio, não entendia de nada do que vendia, mas que chutava, chutava. Também percorria o comércio, os bares e especialmente as barbearias - tradicional ponto de se fazer uma fezinha. Hoje, com tudo modernoso e automatizado, o vendedor de bilhetes lotéricas (federal, estadual) - quase sempre um sujeito de certa idade, aposentado ou encostado - faz parte da história medieval. Muitos pais de família, se não sustentaram os lares, pelo menos deram uma boa melhorada na sua renda familiar exercendo essa tarefa.
Outro que foi para as cucuias é o engraxate - na maioria dos casos garotos pobres, das vilas, que faziam ou ganhavam uma caixa de madeira e saíam pelas ruas e pelo comércio para dar um belo lustro em um outro produto que, hoje, perdeu grande parte do seu espaço - o sapato. Restaram alguns, ainda, a maioria com ponto determinado, em praças, no centro das cidades. Porém, como profissão - ou ofício - a categoria pode ser considerada extinta.
Extinto mesmo, no entanto, é o velho linotipista de jornal e de gráficas. Esse sim está morto.
Lembro do primeiro jornalzinho em que eu trabalhei, no interior, em uma cidadezinha que não teria nem cinco mil habitantes na metade dos anos setenta. Chamava-se Atualidade, e ainda existe. Era um semanário municipal, o típico jornalzinho da cidade, feio, desengonçado, mas que muitos assinavam, por ser "o nosso jornalzinho" (era bem essa a expressão que eles usavam: "Colaborar com o nosso jornalzinho"). Composto a linotipo, tinha um sujeito que não recordo o nome, um alemão forte e que trabalhava quase sempre sem camisa, compondo as matérias naquela máquina imensa, preta, pesadíssima e resfolegante, a qual me fascinava observar.
A linotipo era pré-histórica - assim como, para muitas pessoas com vinte e poucos anos (adultos formados, portanto, e não crianças), é, hoje, a máquina de escrever.
Tive muitas, e mantive uma relação quase carnal, quase sexual, com todas elas. O legal da máquina de escrever era o carinho com que nos relacionávamos. Um bicho que nos sujava a mão com a tinta da fita, que as teclas acavalavam, que estragava frequentemente, e que por isso mesmo, por ser meio humano, era tão próximo de nós, os escribas e os escrivinhadores.
Com o computador de hoje é diferente: é uma coisa amorfa, sem vida, sem alma, sem personalidade, um conjunto de peças e chips eletrônicas que não nos inspiram nada. É como se fossem garotas de programa com quem fazemos sexo pago, e depois pagamos e saímos fora, sem sequer perguntar o nome. Simplesmente jogamos fora ou trocamos por outro, sem problemas, sem dilemas de consciência. Já a máquina de escrever - para quem era do ramo - era a namorada, a verdadeira namorada.
Ainda hoje, quando por acaso vejo uma delas (o que é raro), fico meio nostálgico e tocado por babaquices do passado. Lembro das minhas Olivetti (as preferidas) portáteis e da Lettera 32. Onde andarão elas? Terão morrido no ferro velho? Terão sido exportadas para a África? E recordo também dos velhos textos em papel, das folhas brancas, das laudas, das anotações que fazia, das folhas que amassava e jogava na cesta de lixo, das noites de trabalho, de café, de olhos vermelhos.
Ouvi dizer que os decoradores de hoje indicam máquinas de escrever como acessórios chiques e de bom gosto para as residências, um item que "valoriza" o ambiente. Bom, quanto a isso não restam dúvidas: máquinas de escrever, câmeras fotográficas e armas antigas estão entre os objetos de mais belo desenho que o homem produziu, na minha nada modesta opinião.(Vitor Minas)

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Calor abafado em Porto Alegre, o típico clima de beira de rio que caracteriza esta cidade neste período.
Ronaldinho no Grêmio? Sei lá, de início fui contra, agora já não sei mais nada. Talvez seja bom, talvez ruim. A princípio sou contra a volta de ex-jogadores, de jogadores voltarem. Paulo Nunes não deu certo, Renato Gaúcho também não - como jogador.
Ronaldinho ainda joga bem, ainda dá passes de incrível precisão, colocando o atacante na cara do gol. Vi isso esses dias, em um jogo do Milan.
Mas não será mais o mesmo - e trará dinheiro, como trouxe Ronaldo?
Sei lá, vamos ver. De qualquer maneira a bola está com a direção gremista.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Fui invadido por hakers. Sério mesmo. Essas duas fotos que estão aqui abaixo não foram postadas por mim. Mas como sou gremista, e como adorei a derrota do Inter, tá liberado: é África no pedaço, mano! Viu só como estou!
Tecnicamente é que me preocupa.
Viva a Mama África! Viva o Congo!!

terça-feira, dezembro 14, 2010

Ninguém merece

Há coisa mais ridiculamente asquerosa do que aquele "Doctor Rey" da rede TV, o tal cirurgião plástico-bichinho da goiaba que dá conselhos sobre tudo, vende toda espécie de produtos suspeitos e tem sempre uma mecha do cabelo de mauricinho caído sobre a testa?
Perto dele, aquele andrógino do "Ligue Djá!" que aparecia em tudo que é canal, uns dez anos atrás, ganha de dez a zero. Como é que era mesmo o nome dele, ou dela?

Bahia, campeão brasileiro

Encontro, por acaso, em um exemplar da revista Veja de primeiro de março de 1989 - o ano das eleições diretas para Presidente - uma matéria a respeito do Bahia - Esporte Clube Bahia, melhor dizendo. O time de Bobô e Charles, treinado por Evaristo Macedo, ganhou as finais contra o Inter, vencendo na Fonte Nova por 1 a 0 e ampatando em Porto Alegre.
O que achei estranho é que o jogo foi em março de 1989, decidindo o título da "Copa União" de 1988. Vê só a bagunça que era o campeonato brasileiro de então.
Diz a Veja a respeito do carnaval que tomou conta de Salvador: o prefeito Fernando José liberou o funcionalismo público e 20 mil pessoas lotaram o aeroporto 2 de Julho (que ACM depois rebatizou com o nome do filho morto). Os torcedores do Vitória se uniram à festa, que consideraram uma vitória do futebol baiano e não apenas do Bahia. Vejam se isso seria possível no Rio Grande do Sul!
A propósito: hoje - aliás, daqui a pouco - o Inter joga contra aquele time do Congo, pelo Mundial de Clubes. Não vou secar, propriamente, porque não adianta. Mas bem que eu gostaria que eles sifu. O colorado bicampeão do mundo será insuportável. Precisaremos mudar de Estado.
Pior que eles tiveram que nos aguentar por muitos anos, e olhe que nós éramos extremamente arrogantes e nojentos. Agora a roda girou e estamos nessa, infelizmente. Dá-lhe, Congo!

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Galinhólogo

Ari de Oliveira, 21 anos, com sólida e precoce reputação em serviços de gatunagem na praça paranaense, foi capaz de resistir às técnicas de interrogatório da polícia, mas sucumbiu às ameaças de desmoralização diante dos colegas de ofício, ao ser autuado como "ladrão de galinhas", quarta-feira passada, na Delegacia de Roubos e Furtos de Curitiba. E escolheu o próprio gabinete do delegado para rememorar as glórias de sua carreira - um ano e meio de detenção, incontáveis assaltos, alguns arrombamentos - e fazer a defesa de sua tradicionalmente desacreditada especialidade. "É preciso muita técnica e coragem", discursou Oliveira do alto do seu título de "Oficial do Roubo de Galinhas". Ensinou a apanhar primeiro o galo, porque "se a gente começa pelas galinhas, ele começa a gritar e acorda todo mundo"; a segurar os animais sempre pelo pescoço e as asas, "nunca pelos pés"; e por fim "colocar a cabeça da bichinha debaixo da asa que ela continua dormindo". Com essa requintada arte, visitou impunemente durante dois meses os galinheiros curitibanos. Agora, vai provavelmente estudar a etiqueta comercial, pois foi preso por vender aves abatidas acima da tabela da Sunab.
(Revista Veja, página 19, 4 de setembro de 1974)
Os Trabalhadores do Mar, romance de Victor Hugo: "A solidão faz gênios ou idiotas".
Comprei esse livro em 1977, na livraria Cultura, em Ijuí.

Lembranças de Pelotas

Estavam falando em Pelotas e nas peculiaridades da cidade, quando então perguntei se ainda havia por lá o bar Cruz de Malta, na rua XV.
Muito campari tomei ali, na época do Diário Popular, que fica quase em frente. Isso foi lá por 94, 95, quando o balcão ainda era de madeira.
O Cruz de Malta bombava todas as noites, especialmente nas sextas. Havia um outro Cruz de Malta, na avenida Bento, mas parece que não tinha nada a ver com o da XV.
Pelotas, nessa época, era uma cidade extremamente agradável, com mulheres bonitas e bem vestidas e uma vida noturna que nunca iniciava antes da uma hora da matina.
Não adiantava sair antes dessa hora. E a coisa mesmo só iria esquentar lá pelas três.
O Andrade era o editor do Diário Popular. Bon vivant, tinha um barco, em sociedade com um amigo que era delegado de polícia em outro município. O barco era uma espécie de matadouro, para usar a expressão machista.
Nunca cheguei a frequentar. Mas lembro do dia em que o Andrade, com uns uísques a mais nas idéias, meteu o seu carro na traseira de um caminhão parado no escuro, sem sinalização. Ficou alguns dias entre a vida e a morte, sendo que esta última prevaleceu.
Acho que ele não tinha mais que quarenta e dois ou três anos.
Figuraça, sempre vestido de preto, bonitão, cabelos grisalhes, bonachão, sempre brincando, foi ele quem me admitiu.
Trabalhar no Diário era ótimo. Empresa séria, dificilmente alguém era demitido dali - para isso teria que fazer muitas lambanças. Pagamento no dia certo, muitas vezes até antecipado, direito sociais garantidos, respeito. Boas lembranças.

Estrelas do mar

Na foto eu tenho três anos de idade, no início dos anos sessenta, e sou uma criança morena com os pés dentro da água do mar e um barco de pesca ao fundo. Mais adiante, casas e chalés de madeira.
Tá aqui a data - 1964. Local: praia de Itapema.
Itapema não era nada, então. Aluguava-se a casa dos pescadores por merrecas, e se ficava por lá o verão inteiro. Comprava-se peixe dos próprios pescadores e à noite não havia luz elétrica - só milhares de estrelas refulgindo contra o profundo céu escuro. Uma grande lua surgia de repente, e todos passeava na beira da praia, que era segura e silenciosa.
Havia muitas conchas, conchas enormes e lindas, além de estrelas do mar, também imensas. catávamos aquilo e trazíamos como souvenir para a nossa casa, em um posto indígena no interior do Rio Grande do Sul.
Hoje não há mais casas de madeira na beira mar de Itapema, e as conchas e as estrelas do mar praticamente desapareceram. Quem comprou terrenos e casas no litoral catariense, naquela época de simplicidade e barateza, hoje está rico.

Três vítimas

Já tenho três seguidores, o que me obriga a fazer postagens mais frequentes. Bobagens por bobagens, deixa eu me expandir.

Nova Idade do Gelo

Nova idade glacial em Porto Alegre na véspera da chegada do verão. Nesta madrugada de domingo para segunda a temperatura desabou por aqui. Hoje, ao acordar, liguei o rádio na Band News, como geralmente faço, e descobri que estava fazendo 13 graus na maior parte da cidade. Achei que era bola fora da repórter, mas, ao levantar e abrir a janela - com direito a uma visão panorâmica do Presídio Central ao longe - vi que fazia frio mesmo e que o negócio era botar uma jaqueta.
A propósito de radio, radialistas e jornalistas, a gente ouve cada coisa de doer: não é que a moça repórter da Band falava em algo que estava acontecendo na "Capital carioca".
Capítal carioca! Tá bom. E a capital fluminense fica aonde?
Lembro de um colega meu, que hoje mora e trabalha em Brasília, que, ao fazer uma matéria policial, com um morto caído, perguntou ao delegado "quem era o suspeito de ser a vítima". Bom, mas esse meu amigo era atrapalhado mesmo, e além do mais era fotógrafo e não repórter de texto. Aliás, gente boa, vacariano, fumava uma maconha que vou te contar - dizia que ajudava na hora de fotografar.
Uma vez, em Santa Catarina, quando o Esperidião Amim era governador, em pleno palácio, durante uma coletiva ou solenidade, ele deixou cair um tubo de filme, daqueles pretos, e o governador achou e abriu a tampa. Adivinhe o que tinha dentro? "É de alguém?", perguntou Amim. A história é lembrada até hoje por quem trabalhou em Santa nos anos oitenta.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Não sou eu

Descobri que tem um Vitor Minas, que não sou eu, no Twitter. O cara mora em São Paulo.

O ridículo dos Pardais de Porto Alegre

Porto Alegre é gozada.
Vejam o caso dos tais "pardais", aquela maquininha que fotografa a placa do veículo de quem ultrapassa a velocidade máxima em determinados pontos das ruas e avenidas da cidade.
Pois é, no meu modesto entendimento o tal pardal foi feito pra disciplinar e punir, para dar incerta nos motoristas, iguais aqueles guardas americanos que, sirena ligada, saem do nada para abordar e multar os infratores. Pardal só tem sentido, na verdade, se ficar escondido, amoitado, e de preferência mudar de local a cada semana, como de fato acontece na gloriosa capital gaúcha.
Só que nesta civilizada e amada cidade as nossas apedeutas e sifocantas autoridades divulgam exatamente os locais onde estarão tais pardais. Divulgam pelos jornais, pelas rádios, sites, por todos os meios de comunicação possíveis. Divulgam repetidamente, e divulgam até com um mês de antecipação, pra não dar erro ou prejudicar ninguém que anda sobre quatro rodas.
Vejam que coisa surrealista, ou burra e imbecil mesmo: você, motorista arrogante, o rei do carro, o Todo Poderoso, sabe com horas e até dias ou semanas de antecipação os locais onde estão os tais passarinhos eletrõnicos. Naturalmente, quando chega uns 300 metros antes do ponto marcado, diminui a velocidade, para não ser pego e pagar multa (se é que paga). Passado o local, uns 200 metros adiante, mete o pé no acelerador e volta a andar igual um louco, dando bananas a todos. Essa é a nossa cidade.
Pode? É, verdadeiramente, coisa de português de anedota, a coisa mais sem sentido que existe, um autêntico "me engana que eu gosto", enganação, engrupição, disparate, ofensa, piada.
E ninguém da imprensa fala a respeito, é claro, até porque a maioria é tapada mesmo, e também porque eles fazem parte da tchurma ou, quase todos, não moraram em outras capitais e acham o que se passa aqui natural, algo que faz parte da ordem das coisas.
Aliás todo mundo sabe que o motorista gaúcho - e bem especialmente o porto-alegrense - é o tipo mais boçal e ignorante do Brasil, que por sua vez é um dos piores do mundo.
Aqui, na Mui Leal e Valerosa, pedestre não vale nada, é animal para ser caçado e exterminado igual no filme Laranja Mecânica. Agora, com essa campanha da Prefeitura, melhorou um pouco. Mas o pedestre, repito e trepito, continua a ser caça em Porto Alegre e sua vida vale menos do que a de uma galinha ou de um cachorro sarnoso.

O envelhecimento do Casseta e Planeta

Em qualquer atividade, o cara tem que saber a hora de parar, diz o velho e surrado clichê. Li que o programa Casseta e Planeta sairá do ar no próximo ano, depois de muito tempo na tela da Globo.
Acho que eles estão certos, se tocaram: o Casseta envelheceu e perdeu grande parte da velha graça. A morte de Bussunda, é claro, contribuiu para isso, embora eu ache que tudo e todos tenham o seu ciclo, especialmente na tevê. Pensando bem, duraram muito, e duraram porque eram bons. Mas agora, com o Pânico, o CQC e outros programas do gênero humor proliferando em vários canais, as noites de terça na Globo já não nos atraem mais. O Casseta se tornou repetitivo e aquelas caras que nos divertiam hoje são manjadas demais. É assim que a coisa funciona, em qualquer parte do mundo.
Desses que estão aí gosto mais do Pânico, à exceção de alguns quadros. São ousados e representam um passo à frente em relação ao Casseta. E são, em quantidade, mais criativos e diversificados. Também pararam um pouco de humilhar, ou escrachar, os populares. Porem irão envelhecer também - e o Charles Henrique já é a prova. Se continuar naquela de narrar o currículo do artista entrevistado, e não criar algo mais, já era.
O CQC não me agrada muito. Não consigo gostar inteiramente de um programa de humor escrachado em que os apresentadores e humoristas andam de terno e gravata, como se fossem executivos. Aliás, o Tom Cruise disse isso a eles, quando foram entrevistá-lo.
Outra coisa: os caras são bobinhos demais. Bobinhos de classe média, infantis, garotões. Bom, é o que penso. Mas assisto a esses dois últimos e ainda dou boas risadas.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Hoje, pelo que lembro, é o dia em que os japoneses atacaram Pear Harbor, em 44.
Fizeram bem feito: oito horas da manhã (um pouco menos) de um domingo.
É um bom horário pra telefonar pros nossos amigos.
É, meus amigos, daqui a um mês esta cidade de Porto Alegre estará às moscas.
Hoje a avenida Ipiranga estava tapada de carros, como nunca vi antes. Passadas as festas de final de ano, esse povo todo se mandará para "as praias", como dizíamos lá no interior do cafundó do Locha.
Sobrarão os fudidos e os que por algum motivo mais forte não puderam tirar o time.
Verão em Porto Alegre ninguém merece: calor dos infernos, umidade. E o trem bala, hein? Bala em nós, e traçante.
E a filhota lá em Londres, num frio de lascar, neve caindo. Bom, nem tanto ao mar e nem tanto à terra.
Há um livro intitulado "Lima Barreto Toda Crônica", editado pela Agir em 2004, que é uma delícia de leitura. Para quem, como eu, nunca leu nenhum de seus romances ou novelas, só alguns contos, ler as crônicas escritas por ele no início do século XX, indo até até 1922, quando morreu, foi surpreendente. Até porque ele é, realmente, aquilo que eu pensava que é: bom. A linguagem ainda tem aqueles rebuscos antigos, mas não chega a comprometer. Quase todas as crônicas foram publicadas na revista Careta.
O cara denuncia todos os pernósticos da época e nutria implicante e recorrente ojeriza por Coelho Neto, um sujeito pomposo e que se achava. Tambén não gostava de Rui Barbosa e do Marechal Rondon, a quem dizia ter um "rosto cruel". Outras coisas que Lima Barreto ironizava era o futebol - ele, pelo visto, achava aquilo coisa da elite. E era, de fato, um esporte onde negro não tinha vez.
Procurem esse, aliás, esses livros, já que são dois grossos volumes. As crônicas mostram o que a gente já sabia: a merda sempre foi essa aí, as moscas é que eram outras.