sexta-feira, outubro 25, 2013

O "verão da lata" deixou saudades para muitos...

No dia 22 de setembro de 1987 um navio chamado Solana Star estava sendo perseguido pela Marinha Brasileira, apoiada por agentes do Drug Enforcement Agency ((DEA), órgão anti-drogas norte-americano. Acuados no litoral do Rio de Janeiro - Angra dos Reis - eles largaram toda a sua carga ao mar, a uma distância de 100 milhas marítimas do litoral e, em seguida, se dirigiram sorrateiramente ao porto do Rio, onde abandonaram o navio. A bordo ficou apenas o cozinheiro da embarcação, o norte-americano Stephen Shelkon - imediatamente detido e, depois, condenado a 20 anos de cadeia, cumpridos no presídio Ari Franco, do RJ.
O episódio do Solana Star virou lenda: navio procedente da Austrália (outros dizem que da Indonésia), com destino aos Estados Unidos, carregado com cerca de 20 mil latas de maconha (22 toneladas), (1,25 kg cada lata), das quais apenas 10% foram apreendidas - o restante foi jogado ao mar e acabou chegando às praias brasileiras, no trecho entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul.
As latas continuaram chegando à costa até o mês de março, fazendo daquele verão (1988) o "verão da lata". Acondicionados em latas de alumínio, fechadas a vácuo, com canabis sativa de altíssima qualidade, foram - dizem muitos - o "último suspiro hippie do Rio de Janeiro" ("A maconha vinha do mar, como dádiva de Deus", comentou um consumidor). O carregamento teria sido feito no porto de Cingapura - o Solana Star tinha bandeira panamenha.
O "verão da lata" jamais foi esquecido pelos apreciadores do produto, dentre os quais se incluem muitos gaúchos e catarinenses. Levada pelas correntes oceânicas, a maconha chegou com fartura ao litoral do Rio Grande do Sul e ensejou viagens alucinadas à sua procura. Muitos a revenderam e, ilegalmente, ganharam dinheiro com isso. A maioria, porém, apenas fumou uma erva de elevado teor de THC. O Verão da Lata acabou virando filme - com o diretor João Falcão - e livro ("O Verão da Lata", de Oscar Cesarotto, editora Iluminuras, 2005). Muitos comentam que "fora do País, ninguém acredita que isso aconteceu". Mas aconteceu. Veja o depoimento de alguns que viveram esse episódio e assumem que o fizeram.

"Eu encontrei em Cidreira, naquele tempo ia pros butecos todo dia. Encontrei uma lata, o restante do pessoal pegou o resto. Aí veio a Polícia Civil. Mas não tinha como segurar todo mundo. A maconha vinha vedada, totalmente vedada, se abria com abridor de lata. Da nossa turma só pegamos uma, mas a notícia se espalhou. Quem tinha automóvel em Porto Alegre saiu adoidado percorrendo a orla e se deu bem. A lata era amarelada. Foi a melhor maconha que até hoje entrou no Brasil".
Hélio, "Mão", 46 anos, morador do Jardim Botânico.


"Encontrei surfando, em Magistério. Vi a lata boiando, peguei e fui ver o que era. Fechamos dois e fumamos. Foi de dia. De noite é que soubemos da notícia. Era uma paulada. Coisa boa"
Alex, 40 anos, morador do Jardim Botânico


"Me falaram que tinha um bagulho forte na praia, em Pinhal. Fui de moto ver e encontrei. Trouxe umas cinco latas de lá. Era só camarão. Peguei um quase nada e ele molhou. Foi o melhor bagulho que eu fumei em 50 anos, dizem que era indiano, era melhor que manga-rosa e cabeça-de-negro. A cor do bagulho era amarela, tinha que abrir com abridor de lata. Dava um cheirão, era prensada a vácuo."
G.B., morador do Jardim Botânico


"Fumei a da lata. Daquele, nunca mais vai aparecer. Eram umas latas parecidas com azeite, amarelas. O efeito era melhor do que cocaína. Não existia coisa melhor. Era um tempo de curtição. Tinha gente que saía de carro daqui, para ir ao litoral, buscar".
C.P., morador do Jardim Botânico.
Hoje a socialite Narcisa Tamborideguy completa 47 anos

quinta-feira, outubro 24, 2013

Péssima telefonia adiou a chegada da Internet no Brasil: dezembro de 1995

Era dezembro de 1995, e o Brasil ainda enfrentava grandes dificuldade para entrar com tudo no mundo da Internet. A culpa - em uma época sem banda larga - era do precário sistema de telefonia do Brasil, que ainda não havia sido privatizado. O presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, e Sérgio Motta, o seu ministro das Comunicações.
A Internet não contava - vejam só - nem com 100 mil usuários.
Leia a matéria "Confusão na rede", transcrita de VEJA de 27 de dezembro de 1995.
 
"Houve até quem tentasse alcunhar 1995 como o ano de entrada do Brasil no mundo da Internet. Mas, com um número de usuários que não chega a 100 000, não colou. A partir de primeiro de janeiro de 1996, o sonho de se conectar ao universo da comunicação digital será jogado ainda mais para longe. Na entrado do ano novo, fecha-se uma das maiores portas de acesso à Internet no Brasil, a administrada pela Embratel. O prazo para a estatal interromper seu serviço de conexão de usuários à Internet foi dado pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em abril. Sua intenção era boa. Ele imaginava, à época, que no final deste ano a rede já estaria funcionando a pleno vapor e a Embratel poderia deixar a função de provedora de acesso para as empresas particulares e dedicar-se apenas ao trabalho de expandir a infraestrutura necessária.
 
"Sete meses depois, a situação é bem diferente da pretendida. A principal estrutura de fios e computadores, que deveria estar cobrindo todo o país em setembro, só ficou pronta há poucos dias. Mesmo assim, não está completa. Falta criar centrais de atendimento para receber as chamadas telefônicas dos usuários e encaminhá-las ao destino na rede Internet, seja ele nos Estados Unidos, seja na Austrália, seja no Amazonas. Por conta desse atraso, várias empresas interessadas em servir de porta de acesso à rede ficaram em compasso de espera. Agora, com a saída da Embratel dessa função, ainda não estarão aptas a absorver os 6 000 clientes deixados na mão, muito menos a captar novos.
"Jogo de Paciência - Mesmo com a infra-estrutura básica resolvida em breve, as provedoras terão de enfrentar outro obstáculo: a falta de linhas telefônicas. Não adianta a Embratel ter um sistema de transmissão para a rede internacional impecável, se as provedoras não tiverem linhas disponíveis para que seus clientes a acessem. Elas precisam de dezenas ou mesmo centenas de números de uma só vez. "A carência de linhas é tanta que, apesar de termos separado uma verba de 1 milhão de dólares para investir em telefones, não conseguimos estar nem na metade", lamenta Marcelo Lacerda, um dos diretores da Nutec, empresa provedora de acesso à Internet, hoje com 1 500 assinantes. "Se aceitarmos muito mais clientes com esse número de linhas, corremos o risco de deteriorar a qaualidade do serviço", diz Lacerda. Algumas empresas colocam até 200 usuários para disputar uma mesma linha de acesso, o que torna a entrada na Internet um jogo de paciência insuportável. "Tenho muita curiosidade, mas não consegui uma senha de entrada e tenho receio de ecolher um provedor de acesso de péssima qualidade", diz o analista de recursos humanos Roberto Santanna.

"Ao grupo de ansiosos por entrar na rede, no qual se inclui o analista, provavelmente se juntarão os clientes da Embratel. Isso só não acontecerá se a pressão que a estatal está fazendo para não largar o serviço der resultado. Em outros países, como a França, onde o sistema de telecomunicações também é gerido pelo monopólio estatal, a empresa cuida da infra-estrutura e também é provedora de acesso à Internet. Apenas seguem uma rígida regulamentação que tenta tornar justa a concorrência entre a iniciativa privada e a estatal responsável por traçar os projetos de expansão da telefonia. No Brasil, pelo ritmo em que as decisões sobre Internet andam, isso é assunto para 1997."

terça-feira, outubro 22, 2013

Em outubro de 1976, a inauguração do Condomínio Felizardo Furtado

Estava lá, na contracapa da edição de sábado, 30 de outubro de 1976 do jornal Correio do Povo, sob o título “Inaugurados Hospital da PUC e Bloco de 944 Apartamentos”:
“O Presidente da República presidiu, na manhã de ontem, os atos de inauguração do Núcleo Habitacional Felizardo Furtado, com 944 apartamentos, e o Hospital Universitário da PUC. Acompanhado pelo governador Sinval Guazzelli, pelo chefe do gabinete militar da Presidência da República, general Hugo de Abreu, e pelos ministros Rangel dos Reis e Arnaldo da Costa Prietto, o presidente chegou ao bairro Jardim Botânico, onde foi construído o núcleo habitacional, às 9 horas e 30 minutos, sendo aguardado pelo prefeito Guilherme Socias Villella, pelo diretor-superintendente do INOCOOP, Renato Eickstaed, e demais autoridades. Estudantes de todo o bairro e bandas marciais saudaram o chefe da Nação em sua chegada ao Núcleo Habitacional Felizardo Furtado. No local, o presidente Ernesto Geisel solicitou amplas informações sobre a obra que custou 130 milhões de cruzeiros, interrogando principalmente o diretor-superintendente da INOCOOP. A seguir entregou a chave de um apartamento a Eduardo Araújo, o primeiro morador do Núcleo”.

Na verdade o presidente Geisel havia chegado ao Estado na quinta-feira, seguindo imediatamente a Santo Ângelo, onde abriu oficialmente a colheita do trigo. Em seguida foi a Caxias do Sul e lá inaugurou o Centro de Tecnologia e Pesquisa da Universidade de Caxias do Sul, UCS.
Era, em essência, uma agenda política, pois estava-se às vésperas das eleições municipais (as únicas permitidas para cargos executivos) e Geisel queria dar “um empurrãozinho” no seu partido, a Aliança Renovadora Nacional, Arena. Ele também esteve em Estrela, sua terra natal, e em Bom Retiro, onde inaugurou outras obras e fez um discurso sobre a importância de “se votar bem”.
No Conjunto Felizardo Furtado, Geisel e comitiva descerraram a placa de inauguração, conheceram um apartamento e depois seguiram para o Hospital da PUC.
Durante a inauguração do conjunto habitacional, o Presidente da República foi saudado pelo presidente da Cooperativa Habitacional que construiu o “núcleo” (INOCOOP), Gilberto Rodrigues. Segundo transcreveu o Correio do Povo, Rodrigues, ao se referir à obra e ao presidente Geisel, falou em “libertação” dos trabalhadores:
“Esse momento, consagrado com a presença de Vossa Excelência, significa a libertação de 944 famílias de trabalhadores que passam da condição de inquilinos e peregrinos de tetos alheios, a proprietários da casa própria”.
Na verdade o Conjunto de 944 unidades, 8 prédios, 62 mil metros quadrados de obras (iniciadas em fevereiro de 1974), beneficiava famílias com renda mensal de cinco a oito salários mínimos – ou seja, era um condomínio para a classe média baixa. As prestações eram relativamente suaves (menores que o aluguel correspondente) e longas, o que atraiu um grande número de interessados.
A maioria dos apartamentos, de um, dois e três dormitórios (poucos), havia sido vendida na planta, antecipadamente. Um empreendimento dessa magnitude, é claro, atraiu a atenção do mercado imobiliário e de muitos especuladores que viram uma boa oportunidade de lucrar com a revenda dos imóveis, como se pode ver pelos anúncios classificados do Correio do Povo (o maior jornal da época). No domingo, 31 de outubro, lia-se no CP:
“Transfere-se vários apartamentos com um, dois e três dormitórios, living, banho social, cozinha e área de serviços. Conjunto novo com play-graud, estacionamento e área verde. Conj. Residencial Felizardo Furtado. Chaves em nosso poder. Diversos preços e condições. Tratar Riachuelo, 1513, s/loja, f.244471.” Outro anúncio, na mesma edição, dizia: “Preciso urgente de um apto no parque residencial FF. Negócio direto. Tratar f. 255004”. Dezenas de anúncios desse tipo – bem antes da data oficial da inauguração – saíam regularmente na imprensa.

Neusa Brizola teve uma vida marcante e sofrida


Ela foi a grande companheira de Leonel Brizola (falecido) - e, em toda a sua vida, habituou-se a conviver com o poder. Isso, porém, não a impediu de ter uma existência sofrida, cheia de altos e baixos, e de, por uns tempos, tornar-se alcoólatra.
Neuza Goulart Brizola, mulher do ex-governador gaúcho e fluminense - o amado e odiado homem que garantiu a Legalidade e a posse de Jango, seu irmão - faleceu em 7 de abril de 1993, uma quarta-feira, aos 71 anos de idade, na clínica Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde morava. O laudo atestou infecção generalizada e sérios problemas respiratórios. Foi enterrada em São Borja, assim como Jango, assim como Getúlio Vargas (que foi seu pardinho de casamento), assim como Leonel, também falecido (sem ter nunca ter realizado o seu sonho de se presidente).
Elegante, discreta, bonita, Neuza conheceu Leonel em uma convenção do Partido Trabalhista Brasileiro, em São Borja, onde nasceu, ainda nos anos quarenta. Conta-se que trocou um outro pretendente rico por um jovem engenheiro em início de carreira política. Quando casaram-se, ela tinha 28 anos - e nunca se arrependeu da opção: a união dela com o temperamental Brizola parece ter sido amorosa, senão apaixonada. O marido chamava-a de "queridinha", era seu confidente e amigo. Foram apaixonados por toda a vida e tiveram três filhos - João Vicente, João Otávio e a problemática Neusinha - recentemente falecida.
Não era para menos: ao lado do líder trabalhista, Neuza suportou muitos anos de exílio (15 longos anos) e perseguições políticas em terras estranhas, sem jamais esmorecer. Antes, quando Brizola era governador do Rio Grande do Sul, chegou a doar uma de suas sete fazendas - que herdou dos pais - para a reforma agrária que seu marido promoveu no Estado, e vendeu outras quatro para garantir o sustento da família, no período da Ditadura, quando viveram no Uruguai e depois em Portugal e nos Estados Unidos. Vendeu mais uma, quando voltaram ao Brasil, em 1979, para comprar o apartamento na avenida Atlântica, em Copacabana - o QG de Brizola, e onde morou até a sua morte.
DEPRESSÃO - Os primeiros seis anos de exílio foram duros. No frio Uruguai, viveram em um apartamento sem calefação ou ar condicionado. Depois a família mudou-se para uma fazenda, a 250 km de Montevidéo - lá não havia energia elétrica ou telefone. Mulher prendada, pela primeira vez obrigou-se a cozinhar. Disse mais tarde, sobre isso: "Só quem passou pelo exílio sabe como é triste ser brasileiro fora de sua pátria".
Em 1983, no Brasil, tratou-se durante 75 dias, nos Estados Unidos, de uma crise de depressão, algo cada vez mais comum - sequer chegou a asistir à posse do marido no Palácio Laranjeiras. Mais tarde internou-se em uma clínica para recuperação de alcoólatras, na Espanha.
Em 7 de janeiro de 1993, em Nova York, foi internada às pressas em um hospital, com uma úlcera perfurada. Permaneceu dois meses na UTI, sedada. Carinhoso, Brizola a visitava duas vezes por dia e passava longas horas à beira da cama, afagando seus cabelos. Alguns dias antes da sua morte, sem poder falar, trocava bilhetes com o marido.
Talvez por tudo isso, Neuza abusava dos calmantes e antidepressivos, bebia muito e fumava. Em 1986, ela e Leonel combinaram de parar de fumar - o que ele conseguiu, ela não. A esse tempo já havia se submetido a uma operação para a retirada de um tumor em um dos seios. Sofreu também com as brigas entre seu marido e o irmão Jango - reconciliados enfim em 1976, pouco antes do presidente deposto morrer.
Seu maior sonho, no entanto, nunca aconteceu: voltar e envelhecer junto ao marido, na sua São Borja, de preferência bem longe da política.

segunda-feira, outubro 21, 2013

Paulo Francis: exagerado, ególatra e polêmico, está fazendo falta

Quem não lembra dele, com aquele óculos fundo de garrafa, a fala afetada, dizendo poucas e boas, não raro mentindo e não raro acertando na mosca?

Um dos jornalistas mais cultos e mais lidos do Brasil (escrevia inicialmente na Folha de São Paulo, passando depois para o Estado, que distribuía sua coluna para dezenas de outros jornais brasileiros), considerado arrogante e direitista por muitas, lúcido por outros, Paulo Francis tinha um humor ranzinza - e talvez seja este humor que esteja fazendo falta hoje, anos depois da sua morte, em 4 de fevereiro de 1997, em Nova Iorque, aos 66 anos.

Francis - nascido Franz Paulo Trannin Heilborn, em uma família de classe média alta do Rio de Janeiro - nunca fez curso superior, foi trotskista na juventude, dos 14 aos 27 anos leu em média seis horas por dia, participou dos áureos tempos do Pasquim, foi preso pela ditadura militar, ofendeu todo mundo (inclusive Roberto Marinho, que comparou a um emissário cloacal, o "robertoduto". Depois foi trabalhar para as Organizações Globo: Marinho não guardou mágoas do episódio) e, por essas e outras, morreu de infarto em seu apartamento na cidade que ele considerava a Capital do Mundo.

Também parecia não gostar de negros e nordestinos - certa vez chamou o Nordeste "desta região desgraçada do País." Quanto aos seus comentários culturais, era igualmente ácido e pretensioso - simplesmente desprezava o moderno cinema nacional e considerava quase todos os intelectuais como subservientes ao poder. Na esfera política, tornou-se célebre a denominação que deu ao senador Eduardo Suplicy (e sua fleuma) - "Mogadon", o nome de um remédio.

Paulo Francis vivia então (1997) um dos mais complicados períodos da sua vida: estava sendo processado pelo presidente da Petrobrás (do governo FHC), Joel Rennó, e mais outros seis diretores da estatal. Eles pediam nada menos do que 100 milhões de dólares por ressarcimento moral, uma vez que o jornalista havia dito, durante sua participação no programa Manhattan Connection, da Globosat, que`"os diretores da Petrobrás põem dinheiro na Suiça", "roubam em subfaturamento e superfaturamento", "é a maior quadrilha que já existiu no Brasil". Pior: disse isso tudo sem nenhuma prova consistente e certamente iria perder o processo e ter que pagar uma bolada grossa para os acusados. Aliás, já estava gastando os tubos com advogados - ele, o jornalista mais bem pago do Brasil, ainda assim não tinha como fazer frente às despesas com honorários (ele próprio calculou que o processo se arrastaria por uns cinco anos e lhe custaria, só com os advogados, no mínimo 200 mil dólares). Segundo Francis, o objetivo da ação era arruiná-lo financeiramente. Transtornado, passou a ingerir calmantes em doses maciças e a sentir dores nos ombros, o que julgou um sintoma da sua bursite e não de problemas cardíacos, os quais até seu médico desconhecia.

É de se imaginar que, se estivesse vivo hoje, o que ele não diria do governo Lula.

Uma palhinha de Paulo Francis:
"A morte deve ser como a anestesia geral"
"Bebi muitos anos. Para ficar bêbado. Não vejo outra razão. O bebedor social é coisa de pequeno-burguês" (depois parou completamente de beber)
"Fidel Castro é essencialmente um conservador feudal, um feitor de fazenda, a quem a idéia de inovações, de modernidade, horroriza"
"A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem"
"Acho que a tendência do intelectual é ser de direita. Ele é, por definição, um elitista"
"É preciso meter as mãos na cabeça raspada do Vicentinho língua-presa. Eu lhe daria uma chicotada para ver se reage docilmente como escravo."
"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. Crítica não é raiva. E crítica, às vezes, é estúpida."
"Nenhum filme brasileiro dá certo porque todos os cineastas tentam demagogicamente se colocar na posição de humildes. É falso, visceralmente. Sempre que vejo algum favelado em filme brasileiro tenho vontade de sair gritando: é um santo! É um santo!"
"O negro africano não tinha língua escrita, como notaram os exploradores da África do século XIX; logo não pode, pela ordem natural das coisas, possuir uma cultura como a entendemos."
"Quero que fique registrado que eu favoreceria o fechamento do Congresso ou qualquer outra dessas instituições reacionárias que impedem o progresso do País."

Salve Grêmio, campeão de 1949!



Em 1949 o Grêmio foi campeão da liga metropolitana. Em 1954 inauguraria o seu novo e grandioso estádio, o Olímpico, na época o maior estádio particular do mundo. Também em 1949, no final do ano, o glorioso time tricolor excursionaria pela América Central, enfrentando selecionados de vários países e voltando invicto, depois de vários jogos. A excursão do Grêmio às repúblicas centro-americanas foi "coroada de glória", como escreveram os jornais. Mas o time - em um "périplo" incrível - teve de enfrentar desgastantes e perigosas viagens de avião (imaginem o que era isso naquela época) e enfrentou a truculência e a violência, sem se deixar abater. Até revólveres foram usados para amedrontar o time.
Nesta reprodução do Diário de Notícias, o título de 1949.

sexta-feira, outubro 18, 2013

A Internet nasceu no Brasil faz 19 anos

A Internet hoje faz parte do dia-a-dia da população brasileira - queiram ou não, tudo gira em torno dela. Mas, 19 anos atrás, a rede mundial ainda era um sonho que somente uma meia dúzia de pessoas desfrutava. Veja nesta matéria da revista Veja, que é praticamente o certificado de nascimento da rede no Brasil.
* Clique em cima da imagem para ler a matéria perfeitamente.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Barão do Amazonas, mas pode chamar de Almirante Barroso

A rua Barão do Amazonas é a artéria central do Jardim Botânico e corta a Avenida Bento Gonçalves, com um comércio em expansão. Mas nem todos sabem quem foi, afinal, o Barão do Amazonas.
Barão do Amazonas é, na realidade, o Almirante Barroso, que ganhou tal título por ter sido herói na Guerra do Paraguai e se celebrizado ao vencer a Batalha do Riachuelo, que decidiu os rumos da Guerra em favor do Brasil. Estrategista destemido, ele ordenou aos comandantes dos navios que se jogassem diretamente contra o inimigo, abalroando-os. Fez o mesmo, inclusive, com o seu próprio navio, a fragata "Amazonas". Barroso gostava de lutar "de perto".
Nascido em Lisboa, Portugal, em 23 de setembro de 1804, com o nome de Franscisco Manuel Barroso da Silva, chegou ao Brasil com cinco anos de idade. Formou-se pela Academia da Marinha do Rio de Janeiro em 1821 e participou das campanhas militares do Rio da Prata e do Pará. Condecorado pelo governo imperial, recebeu a Ordem do Cruzeiro e o título de "Barão do Amazonas". Faleceu em Montevidéo, Uruguai, a 8 de agosto de 1882. Seus restos mortais foram transladados para o Rio de Janeiro.

terça-feira, outubro 15, 2013

Um pombo-correio unindo dois Estados

A comunicação usando-se os pombos foi algo comum no passado, e a criação e adestramento de pombos também, tanto que existia até mesmo uma sociedade de columbofilia no Rio Grande do Sul e, provavelmente, em outros Estados do Brasil. Nesta matéria, extraída do Correio do Povo, noticia-se um pombo que é solto em Vacaria, no Rio Grande, e viaja até Joinvile em apenas sete horas. Solto pelo saudoso ex-prefeito Marcos Palombini, foi recebido em terras catarinenses pelo futuro governador Pedro Ivo Campos, que também não mais vive.

O Último Tango foi censurado na Itália e seus atores condenados à prisão

Velhos tempos: apesar de ter sido lançado alguns anos antes, o Último Tango em Paris, com Marlon Brando e Maria Schneider, causou escândalo - até pela cena da manteiga. O certo é que o filme de Bertolucci gerou reações da sociedade conservadora daqueles anos setenta, e, mesmo na Itália, foi proibido e censurado. Aliás, seus atores e autores responderam a processo. Vejam só.
Esta notícia eu encontrei no Correio do Povo de janeiro de 1976 e achei que valia a pena ser transcrita. Da coleção do Arquivo Histórico de Porto Alegre.

segunda-feira, outubro 14, 2013

Galos maconheiros não perdiam as lutas

Dar canabis sativa a galos de rinha pode ser um tremendo doping para os bichos - isso no tempo em que as rinhas eram mais ou menos legais e não davam cana, como hoje. Pois foi o que fez, em 1975, um gaúcho muito experto, ou que pelo menos assim se julgava. Mas os outros concorrentes desconfiaram da euforia dos seus galos e a trama foi descoberta: o "galista" chapava seus bípedes para que vencessem todas as lutas.

O detetive Kojak em terras brasileiras: novembro de 1975

O cara fez sucesso, e muito. Ou melhor, o seu personagem, o tal do "careca charmoso" que permaneceu anos em exibição na telinha da Globo, naqueles anos setenta.  Com sua careca lustrosa, digna de um Esperidião Amim, Telly Savalas usava chapéu, chupava pirulito e encarnava, digamos assim, uma espécie de machão sensível. Kojak foi um dos seriados de maior sucesso da televisão brasileira.
No final de 1975 o ator veio ao Brasil, trazendo consigo um grupo de belas mulheres norte-americanas. Eles se exibiram no Rio e em São Paulo, em despretensiosos shows caça-níqueis que não deixavam de ser divertidos. Esta matéria é do Correio do Povo de novembro de 1975.

Usina nuclear será construída no Rio Grande do Sul

Quem pesquisas jornais antigos invariavelmente se depara com notícias impactantes, e que, no entanto, são apenas meros factoides que rendem manchetes - nada mais que isso. Em 1963, por exemplo, quando Ieda Maria Vargas conquistava o título de Miss Universo, o Grêmio era campeão gaúcho e o Brasil vivia uma fase de agitação e radicalização política que desembocaria no golpe de 64, saiu esta manchete no Correio do Povo, de Porto Alegre: uma usina nuclear a ser construída no Rio Grande do Sul... Somente na segunda metade da década de 70 é que isso aconteceu, e não foi no Rio Grande do Sul e sim no Rio de Janeiro, com as usinas Angra do acordo Brasil-Alemanha do general-presidente Ernesto Geisel.
Há muitos fatos assim - factoides depois esquecidos pelos próprios jornalistas, categoria de curta memória. Outro factoide que poucos lembram é o projeto de se abrir um canal, ligando Porto Alegre ao oceano Atlântico, na década de setenta, algo que encurtaria a distância para as viagens de navios, que não mais precisariam descer a Lagoa dos Patos e sair pela Barra de Rio Grande. Ou o túnel debaixo do Guaíba, que também chegou a ter um projeto técnico e teve a aprovação do presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1950. É claro que não saiu disso.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Há 62 anos, o colégio Julinho foi destruído por um misterioso incêndio


 Pesquisa e Texto: Vitor Minas

    Talvez hoje, em meio a tantos fatos ruins e à indiferença geral, a destruição de um grande colégio público não causasse comoção a Porto Alegre. Porém no início dos anos cinquenta o ocorrido com o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o “Julinho”,  consternou verdadeiramente os habitantes da Capital, zelosa dos seus valores e orgulhosa do alto padrão educacional de um estabelecimento modelo que simbolizava o que então o Rio Grande do Sul tinha de melhor: o seu mais avançado padrão civilizatório frente aos demais Estados e o genuíno orgulho que isso trazia ao povo gaúcho. Público e gratuito, com um ensino considerado de excelência, o colégio dava acesso direto ao terceiro grau e nele estudaram, entre tantos, nomes que depois de tornaram famosos ou notórios em muitas áreas, incluindo Leonel Brizola, Paulo Brossard, Paixão Cortes e Barbosa Lessa – uma elite intelectual e pensante vinda democraticamente das muitas camadas da sociedade gaúcha. Foi também no Julinho, em 1948, que iniciou o Movimento Tradicionalista Gaúcho, embrião dos milhares de CTGs que se espalham pelo mundo. 

    O incêndio foi marcado pela forte suspeita – na verdade, uma certeza – de ter sido um ato intencional e premeditado, “praticado por mãos criminosas”, como disse o Correio do Povo, ou por um “piromaníaco insano”, um “perigoso tarado que vê seus instintos doentios despertar em determinadas épocas do ano”, conforme escreveu o Diário de Notícias.  Era, desde 1947, o quinto grande prédio público (incluindo aí a Cooperativa dos Funcionários Públicos) a queimar de forma semelhante. Em nenhum deles o inquérito policial apontou a autoria e muito menos se estabeleceu uma ligação direta entre os fatos.

    A destruição daquela que era considerada a unidade de ensino mais avançada e democrática em todo o Estado aconteceu na primeira hora da madrugada de 16 de novembro de 1951, sexta-feira, em pleno feriadão da Proclamação da República, uma noite ventosa na cidade que ainda mal se recuperara do renhido combate eleitoral, no dia primeiro, entre Leonel Brizola (PTB) e Ildo Meneghetti (PSD) para o cargo de prefeito municipal – Meneghetti virou o placar e venceu ao final com diferença de apenas mil votos. Os dois, aliás, engenheiros formados pela Escola de Engenharia e ligados à história do Julinho (Brizola estudou nele). Curiosamente, naqueles dias uma greve geral mobilizava os estudantes universitários de todo o Brasil. Radicalmente politizado, o efervescente Julinho repercutia internamente isso tudo.

   Também naquele início do ano de 1951 os alunos haviam deflagrado uma greve pedindo o cancelamento da decisão de separar os rapazes das moças – um prédio da Rua Doutor Flores já teria sido alugado para abrigar as alunas, relatou o radialista, ex-vereador e então aluno Lauro Hagemann em depoimento para o livro “Julinho: Cem Anos de História”, organizado pelos professores Paulo Ledur e Otávio Rojas Lima (Editora AGE) no ano de 2000.

   Motivos ou pretextos à parte, o certo é que em poucas horas a imponente construção, inaugurada em 1908 na Avenida João Pessoa, defronte à Escola de Engenharia, ao qual era ligada, e à vizinha Faculdade de Direito, veio abaixo devido à espantosa rapidez das chamas. Os prejuízos, porém, eram ainda bem maiores para toda a cultura do Rio Grande do Sul, já que da biblioteca – com valiosíssimos e raros volumes de livros dos séculos XVIII e XIX – também nada havia restado. O mesmo aconteceu com o museu, um dos mais completos do Rio Grande.

    Dias depois o jornalista Wilson Müller, 22 anos, ex-aluno da instituição, publicou no Diário de Notícias uma crônica em que lamenta “o que nunca imagináramos pudesse acontecer”: “(...) Quem não conheceu o Julinho? Naquele casarão velho da João Pessoa formou-se a consciência democrática de milhares de gaúchos. A alma farroupilha vibrou dentro do Colégio Júlio de Castilhos, desde 51 anos passados, quando, no ofuscar do século passado e no dealbar do presente, levantou-se o nosso colégio como a barreira invencível do espírito indomável do estudante gaúcho. Quem por ali passou jamais o esquecerá. Quem viveu algum tempo no “Julinho” sempre dirá, com um orgulho que só nós podemos ter: “Eu estudei no Julinho”. Basta isso para endossar a vida estudantil de um homem. Assembleias barulhentas e tumultuosas. Greves contra os professores. Abaixo-assinados de protesto contra esta ou aquela medida. Discussões intermináveis sobre a teoria do conhecimento e sobre a quarta dimensão. Passeatas de regozijo e de protesto. Exames orais e escritos feitos sem conhecimento da matéria. “Colas” e provas anuladas. Colóquios amorosos nos corredores, às escondidas dos professores e perto dos professores. Fim do curso e uma sincera homenagem aos que nos guiaram lá dentro. Um vestibular. A faculdade. Um agradecimento eterno. Lodeiro, Melo, Marieta, Tristão, Abílio, Ripol, Ataualpa, Zilá, Damasceno, Morais, Orlando, Paixão e o Machadinho são nomes que ligaram nossa mocidade à vida futura e são a garantia do patrimônio moral do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Adeus, Julinho...” 

SINISTRO ANUNCIADO – Na realidade sabia-se que, mais cedo ou mais tarde, o colégio pegaria fogo – só não se poderia precisar em que circunstâncias isso ocorreria. Uma simples questão de tempo e de oportunidade.

   Com efeito, por diferentes vezes o Julinho esteve às voltas com malogradas tentativas de incêndio, a última das quais na quarta-feira, 14. À noite, nessa data, uma das serventes encontrou quebrados os vidros da porta da secretaria, situada ao lado do prédio principal. Dentro, jogado no chão, estava um pano embebido em gasolina que só não pegara fogo devido à forte umidade decorrente das chuvas caídas no dia anterior.

   Ciente do perigo que rondava a instituição, o diretor José Lodeiro solicitou policiamento às autoridades estaduais, algo que deu muito a falar nos dias seguintes: a Polícia Civil, em nota emitida por seu chefe-geral, Germano Sperb, confirmou que recebera o pedido e havia designado um guarda-civil para o policiamento do local, mas que este, dias antes, havia sido dispensado da tarefa pela direção, embora estivesse presente na noite do incêndio – tanto que teria sido o primeiro a comunicar o fato a policia e aos bombeiros. Lodeiro, por sua vez, desmentiu categoricamente tal afirmação, garantindo que, por sua própria conta, o vigilante deixara de comparecer ao serviço, fazendo com que ele, Lodeiro, costumasse vistoriar o colégio antes de dormir – o diretor residia nas proximidades. O Grêmio Estudantil, por sua vez, saiu oficialmente em apoio à direção e acusou a polícia de “ter colaborado positivamente com o incêndio”, conforme nota assinada pelo presidente do Grêmio, Onofre Quadros. Também o resultado do trabalho da perícia foi diferente da versão de muitas testemunhas e até mesmo dos bombeiros. Para os primeiros, o sinistro poderia ser, quem sabe, ocasional, enquanto direção e estudantes batiam-se pela tese única da intencionalidade – certamente a mais plausível. O certo é que a chave-geral da energia elétrica havia sido desligada durante o feriado, dia em que o prédio estava deserto, e isso afastava a possibilidade de um curto-circuito interno.

    Segundo testemunhas, o fogo foi avistado das ruas e residências vizinhas à meia-noite de quinta-feira ou aos quinze minutos da madrugada de sexta-feira, quando as chamas já tomavam conta do telhado, espalhando-se com incrível rapidez em virtude dos ventos que sopravam. As mesmas pessoas afirmaram ter visto três focos na cumeeira – nas extremidades e no meio da cobertura, onde se elevava a bela cúpula central. Mais tarde, em depoimentos aos jornais, alguns estudantes (dentre os primeiros a ver as chamas) negaram que isso fosse verdadeiro e asseguraram ter visto apenas um único foco. Em um “espetáculo contristador”, os repórteres anotaram que as folhas de zinco que cobriam as cúpulas “desprendiam-se em brasa sobre a cerca de grades de ferro pontiagudas.”

     Durante quatro horas cerca de 50 bombeiros vindos principalmente da estação da Avenida Júlio de Castilhos enfrentaram algumas dificuldades operacionais, já que o hidrante mais próximo mostrou-se dotado de pouca vazão de água e foi suprido pelos demais instalados na avenida, defronte ao necrotério e também na esquina da Rua Avaí. Quatro veículos da corporação foram posicionados nas imediações enquanto uma grande multidão, vinda de várias partes do centro, se comprimia em volta a fim de presenciar aquele momento histórico. Grossos rolos de fumaça chamavam a atenção dos transeuntes que passavam pela Avenida João Pessoa, nas proximidades da antiga Praça do Portão. Chefiando a operação de combate às chamas estava o oficial-aspirante Jesus Linares Guimarães – anos mais tarde comandante geral da Brigada Militar e participante das ações do edifício Renner em 1976.

   Depois de muitos esforços os bombeiros conseguiram isolar o local e evitar a propagação do fogo para a Escola de Engenharia – que teve apenas duas janelas atingidas. Linares disse ter estranhado a celeridade com que as chamas se espalharam por todo o segundo pavimento, mas deu graças pelo fato de um dos seus soldados ter escapado por pouco do desabamento de um dos tetos – se atingido, seria morte certa.

   Ao término de tudo dezessete salas de aula, mais a biblioteca e o museu, haviam se transformado em cinzas fumegantes. Por sorte quinze valiosos aparelhos de microscópio e outros de física, emprestados dias antes à Faculdade de Filosofia, escaparam ao cômputo dos prejuízos gerais, calculados em cerca de 10 milhões de cruzeiros. No dia seguinte, entre tantos curiosos ilustres, visitaram o local o governador Ernesto Dorneles, o secretário da Educação, Júlio Marino de Carvalho, o professor Mabilde Ripoll, superintendente do ensino secundário, e o reitor da Universidade do Rio Grande do Sul, professor Alexandre Martins da Rosa. O governador prometeu a imediata construção de um novo prédio para o Julinho (que já fazia parte dos planos), desta vez localizado na Praça Piratini, também na João pessoa. Enquanto isso as aulas passariam para o prédio do Arquivo Histórico do Estado, na Rua Riachuelo.

    Felizmente ninguém morreu ou saiu seriamente ferido em consequência do incêndio do Julinho naquela noite-madrugada de quinta para sexta-feira. Porém uma semana depois, no início da tarde de 26 de novembro, segunda-feira, o operário Antonio José Nascimento, 27 anos, branco, casado e residente no Passo da Cavalhada, na Capital, pisou em falso quando trabalhava na demolição do primeiro andar. Ele caiu de uma altura de cinco metros e morreu no Hospital de Pronto Socorro, minutos depois. 

quarta-feira, outubro 09, 2013

Implosão das Lojas Renner durou apenas 6 segundos e foi vista por mais de 200l pessoas

Pouco mais de um mês depois do grande incêndio que destruiu o edifício das Lojas Renner, no dia 27 de abril de 1976, terça-feira, técnicos de uma empresa paulista, contratada pela direção da rede de lojas para demolir o "esqueleto calcinado" da esquina da Otávio Rocha com a Rua Doutor Flores, no centro de Porto Alegre, protagonizaram a primeira implosão realizada no Rio Grande do Sul. Foi em uma manhã de domingo, 30 de maio, com cerca de duzentas pessoas formando uma curiosa assistência que enfrentou a chuva fina e o frio para testemunhar aquele momento histórico que durou apenas seis segundos. Na segunda-feira, 31 de maio, a jornal Folha da Manhã, da Companhia Jornalística Caldas Júnior, publicou quatro páginas a respeito, que reproduzo aqui. O velho prédio da Renner - palco da grande tragédia que matou pelo menos 41 pessoas - foi abaixo em um ruído seco, e com ele os restos mortais de muitas pessoas que ainda estavam lá, queimadas e soterradas.

Implosão das Lojas Renner durou apenas 6 segundos e foi vista por mais de 200 pessoas

Pouco mais de um mês depois do grande incêndio que destruiu o edifício das Lojas Renner, no dia 27 de abril de 1976, terça-feira, técnicos de uma empresa paulista, contratada pela direção da rede de lojas para demolir o "esqueleto calcinado" da esquina da Otávio Rocha com a Rua Doutor Flores, no centro de Porto Alegre, protagonizaram a primeira implosão realizada no Rio Grande do Sul. Foi em uma manhã de domingo, 30 de maio, com cerca de duzentas pessoas formando uma curiosa assistência que enfrentou a chuva fina e o frio para testemunhar aquele momento histórico que durou apenas seis segundos. Na segunda-feira, 31 de maio, a jornal Folha da Manhã, da Companhia Jornalística Caldas Júnior, publicou quatro páginas a respeito, que reproduzo aqui. O velho prédio da Renner - palco da grande tragédia que matou pelo menos 41 pessoas - foi abaixo em um ruído seco, e com ele os restos mortais de muitas pessoas que ainda estavam lá, queimadas e soterradas.

segunda-feira, outubro 07, 2013

Hoje a cantora Pitty faz 36 anos

A difícil vida de Isadora Duncan, a bailarina dos pés descalços


A "dançarina dos pés descalços", a "filha das flores", "a Divina". No início do século XX a Europa e o Mundo (à exceção dos EUA) renderam-se ao talento, à graça e à ousadia de Isadora Duncan, a iconoclasta da dança que rejeitou o balé rígido da época (achava que ele distorcia a forma humana), a primeira a "dançar a música e não ao som da música." Em certo sentido, foi uma das precursoras do movimento hippie, muito antes que este sonhasse em existir.

Dona de uma beleza exuberante, com cabelos vermelhos flamejantes e olhos cor de violeta, Isadora Duncan na realidade se chamava Dora Angela Duncan, a mais nova de uma família de quatro irmãos, nascida na cidade de San Francisco, na Califórnia, EUA, em 26 de maio de 1877. Logo após seu nascimento, seu pai abandonou a família e a mãe de Isadora obrigou-se a manter os filhos dando aulas de piano e tricotando luvas e mantas, que vendia de porta em porta. Aos 10 anos, "Dorita" abandonou a escola e passou a dar aulas de dança. Aos 15, era uma formosa mulher, de pernas longas e reconhecida beleza.

No final do século XIX seu talento já estava consagrado. Dona de um estilo único, ela saltitava pelos palcos usando apenas pedaços de gaze enrolados no corpo. Assim, seminua, encantava platéias e escandalizava muita gente - principalmente senhoras. Certa feita mais de 40 mulheres da sociedade retiraram-se da sala onde ela estava se apresentando, em protesto contra a sua "imoralidade". Nos Estados Unidos, sua terra, nunca foi aceita e nunca fez sucesso - isso era uma das suas maiores frustrações.

A estas alturas, porém, Londres, Paris e Berlim já estavam fascinados por ela. Isadora Duncan tornava-se um mito e seus rumorosos casos de amor davam o que falar, entre eles o com Paris Singer, herdeiro das máquinas de costuras Singer, com quem teve um filho. Cobrando preços altíssimos, a menina pobre então tinha o mundo a seus pés - era a "Divina Isadora". Mesmo assim, ou talvez por isso, não esquecia do seu passado e compadecia-se dos sofredores, tendo adotado 20 crianças pobres na Alemanha, onde fundou uma escola. "Quero dar-lhes uma vida melhor, a fim de que mais tarde possam semear alegria e beleza como um clarão sobre este mundo triste", justificou ela.

Em 1916 Isadora Duncan esteve no Brasil, dançando no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Tinha já quase quarenta anos e havia, três anos antes, vivido uma terrível tragédia pessoal. Foi no dia 19 de abril de 1913, quando seus dois filhos, um de sete e outro de apenas dois anos, viajavam de carro para Versalhes, juntamente com a governanta da família. Em uma curva perto do rio Sena o motor parou e, sem puxar o freio, o motorista saiu para verificar o problema. Nesse instante o carro pulou para e frente e mergulhou nas águas, que ali tinham uma profundidade de 12 metros. Somente uma hora e meia depois o veículo foi localizado.

Em 1922 Isadora casou-se com o poeta russo Sergei Esenin, 17 anos mais novo que ela. O relacionamento foi conturbado: Esenin, bêbado, espancava, roubava e até tentou matá-la. Por fim, suicidou-se em um quarto de hotel.

Extremamente supersticiosa, a dançarina acreditava que os melros, pássaros pretos, eram mensageiros da morte. Ela afirmava ter visto três deles perto do quarto dos seus filhos, pouco antes da morte deles. No dia 14 de setembro de 1927 - aos 50 anos de idade - Isadora, já pobre e quase esquecida - saiu a passear em um Bugatti, com um amigo e namorado, nos arredores da cidade de Nice, na Costa Azul francesa. Antes, ligou o gramofone - o que tocou foi o sucesso "Bye, bye, Blackbird" (Adeus, adeus, Melro). Ao entrar no carro, usando um longo xale vermelho enrolado no pescoço, disse aos amigos: "- Até à vista! Parto para a glória!." Foram suas últimas palavras. A ponta do xale enroscou-se nos raios da roda traseira e ela teve o pescoço partido, morrendo

quinta-feira, outubro 03, 2013

Hoje Giselle Itié completa 32 anos

O Senhor Diretas morreu naquele outubro de 1992, em Angra dos Reis. Era o fim de uma época.

Angra dos Reis, litoral do Estado do Rio. Segunda-feira, 12 de outubro de 1992, feriado da padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e Dia da Criança. O tempo está ruim, com chuvas, trovoadas e ventos naquela região da costa sul fluminense quando o deputado Ulysses da Silveira Guimarães, 76 anos, sua esposa Mora, e mais o casal Severo Gomes (ex-ministro, ex-senador) e Henriqueta partem de volta a São Paulo. Dirigido pelo experiente piloto Jorge Comeratto, o helicóptero de prefixo PT-HMK, emprestado pelo empresário paulista Jorge Chammas Neto (Moinho São Jorge), é avistado pela última vez meia hora depois da partida, por volta das 17 horas, voando baixo, a cerca de 50 metros acima do nível das ondas, costeando o litoral, abaixo de uma impiedosa chuva de granizo.

O industrial Arthur Vicintin Neto - que tem casa ali e pescava naquele momento - avistou a aeronave tentando romper a barreira das espessas nuvens que tomavam conta do céu: "O piloto ciscava, procurando um buraco no meio das nuvens", lembraria ele mais tarde. Naquele momento sopravam ventos de mais de 100 quilômetros por hora e só por milagre não aconteceria uma tragédia.
O milagre, porém, não aconteceu: as forças da Natureza foram mais fortes e em breve o Brasil saberia que o líder máximo das oposições durante o regime militar, o Senhor Diretas, o Anticandidato a Presidente da República, Ulysses Guimarães, estava morto, junto com todos os demais ocupantes do helicóptero.
A morte de Ulysses (até hoje o corpo, ou o que dele sobrou, não foi encontrado) representou, de certa maneira, o fim de uma era. Calvo, de voz grave, incisivo e destemido, o Senhor Diretor personificou a intransigente oposição ao regime de arbítrio que se instalou com o AI-5. Democrata, de tendências moderadas, o paulista Ulysses Guimarães elegeu-se deputado estadual em 1947, quando contava apenas 30 anos de idade. Em 1950 tornou-se deputado federal, também por São Paulo. Em 1956 foi escolhido presidente da Câmara Federal e, em 1961, no curto gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, tornou-se ministro da Indústria e Comércio. Com o golpe militar de 1964, Ulysses - que, discretamente, apoiou o movimento - parecia estar marchando para um direto apoio à chamada "revolução". Porém, ao constatar que a volta à democracia não estava entre as prioridades dos militares e que muitos atos de arbítrio já estavam sendo praticados, Ulysses - advogado por formação - imediatamente bandeou-se para as hostes oposicionistas - ele, que tinha sido do PSD, enfileirou-se com o recém criado Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Candidato por este partido (então rebatizado de PMDB) na primeira eleição direta do período da redemocratização, amargou o quinto lugar na contagem final dos votos, não tendo sequer ido ao segundo turno.
A morte de Ulysses - que havia ido passar o final de semana no litoral de Angra, mais exatamente na casa do empresário Luis Eduardo Guinle - encerrou uma carreira política de quatro décadas, com onze mandatos consecutivos, vigorosos pronunciamentos em favor da democracia e um estilo incandescente de oratória que marcou época. Com ele, no mesmo vôo, desaparecia outra figura destacada da oposição ao regime militar, regime ao qual, curiosamente, serviu em seu início - o ex-ministro da Agricultura do governo Castelo Branco, ministro da Indústria e Comércio de Ernesto Geisel, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do governo paulista de Fleury Filho, o ex-senador Severo Gomes. Udenista por formação, Severo desencantou-se com a Revolução de 1964 e, em 1979, bandeou-se para a oposição. Franco e direto, reconhecia ter mudado, "tarde, mas não demasiado tarde".

Celular, em 1991, era "telefone portátil"

Para vocês, que têm vinte e poucos anos, essa época parece inimaginável - alto pré-histórico, talvez. Mas,  não faz muito, telefone celular era uma grande novidade, e poucos tinham acesso a ele. Hoje são mais de 100 milhões de aparelhos - e até carroceiros o usam com a maior naturalidade. Garimpando os arquivos, o Conselheiro X. descobriu um exemplar da revista Veja de 8 de maio de 1991. O título era "O Mundo no Bolso", e noticiava a grande novidade que, pasmem, já tinha 3 mil usuários no Rio de Janeiro! - a telefonia celular, ou os "telefones portáteis". O sistema era caro e complicado, como se pode imaginar.
Vamos transcrever algumas partes dessa matéria "jurássica":

"A platéia não entendeu nada. Durante uma sessão do filme Três Solteirões e uma Pequena Dama, em cartaz no Cine Rio Sul, no shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, o toque abafado de um telefone ecoou numa das poltronas do cinema. Um dos espectadores, uma loira elegante, tirou um telefone da bolsa, atendeu a chamada e teve uma conversa rápida com um interlocutor. Era a socialite Aparecida Marinho, 38 anos, ex-mulher de Roberto Irineu Marinho, um dos herdeiros do império da Rede Globo. Aparecida levou ao cinema um telefone celular - um aparelho portátil que se comunica através de ondas de rádio - para conversar com sua filha, Maria Antonia, 13 anos, que não pode ir à matinê com a mãe. "Esse telefone é um estouro. Nunca perco o contato com os meus filhos, e, quando fico presa no trânsito, ganho tempo fazendo ligações", diz Aparecida.
"Os telefones celulares desembarcaram no Rio de Janeiro no final do ano passado e caíram no gosto de 3 000 assinantes na cidade - entre os quais empresários, políticos e colunáveis, que agora fazem ligações de dentro de carros, barcos, aviões, restaurantes ou à beira-mar. Facilitam bastante a vida de seus usuários - mas também fazem sucesso como símbolo de status da estação. (...)
"A vantagem mais óbvia dos telefones móveis - que chegaram aos Estados Unidos há sete anos e contam hoje com 5,3 milhões de assinantes - e que eles acabam com um castigo a que o usuário era submetido, o de ficar preso à mesa de trabalho ou em casa, para dar ou receber um telefonema. Agora, basta levar o telefone celular no bolso. "Ganhei liberdade", explica o executivo Richard Klien, vice-presidente da empresa de navegação Transroll, que comprou um telefone celular. Na semana passada, ele precisou fazer uma viagem a Brasília - e fechou um negócio milionário em pleno ar.
(...) "A grande desvantagem do sistema de telefonia celular no Rio de Janeiro são os preços salgados. Os assinantes têm que pagar uma série de taxas para entrar no sistema. De depósito para a Telerj, é preciso pagar 1167 131 cruzeiros. Depois de dois anos essa caução pode ser devolvida se o usuário desistir da linha. Para comprar um modelo de telefone celular, os preços variam de 250 000 cruzeiros a 600 000 cruzeiros por aparelho. O minuto de uma ligação comum custa menos de 6 cruzeiros. Apesar dos preços salgados, mais de vinte pessoas se tornam usuárias do sistema a cada dia."
(...)"O telefone móvel é um símbolo de modernidade que vem dar um grande charme ao Rio, diz o presidente da Telerj, Eduardo Cunha."

segunda-feira, setembro 30, 2013

Segundo americano, brasileiros têm horror ao trabalho manual e adoram uma boquinha no serviço público do Governo

Trechos do livro Vida no Brasil, do norte-americano Thomas Ewbank, que visitou o Rio de Janeiro em 1846, na época do império. O livro é delicioso e talvez o mais completo em observações aguçadas sobre a nossa terra e a nossa gente no século XIX.
Mais tarde, de volta aos EUA, Thomas se tornou uma importante personalidade, exercendo influentes cargos públicos. Quando visitou o Brasil, onde morava um irmão seu, tinha 54 anos. O livro foi editado aqui somente em 1973, pela editora Itatiaia, de São Paulo. 
Vamos lá: trabalho e escravidão. Ou melhor, escravidão dos negros e o horror ao trabalho (que não seja o serviço público governamental) dos nativos, na visao de Ewbank. Escrito em forma de diário, Vida no Brasil é um volume grosso e ainda nem acabei de lê-lo. No dia 21 de março, depois de quase cinquenta dias no Rio, o viajante anotou o seguinte:
 
"A tendência inevitável da escravidão por toda parte é tornar o trabalho desonroso, resultado superlativamente mau, pois inverte a ordem natural e destrói a harmonia da civilização. No Brasil predomina a escravidão negra e os brasileiros recuam com algo semelhante ao horror diante dos serviços manuais. Com o mesmo espírito que as classes privilegiadas de outras terras, dizem que não nasceram para trabalhar mas para dirigir. Interrogando-se um jovem nacional de família respeitável e em má situação financeira sobre porque não aprende uma profissão e não ganha sua vida de maneira independente, há dez probabilidades contra uma de ele perguntar, tremendo de indignação, se o interlocutor está querendo insultá-lo! "Trabalhar! Trabalhar" - gritou um deles. "Para isso temos os negros". Sim, centenas de famílias têm um ou dois escravos, vivendo do que os mesmos ganham.
"O dr. C. diz que um jovem prefere morrer de fome a se abraçar a uma profissão manual. Conta que há alguns anos aconselhou uma pobre viúva, que tinha dois filhos rapazes, um de catorze e outro de dezesseis, a encaminhá-los em ofícios. A viúva ergueu-se, deixou a sala e nunca mais falou com ele, embora tivesse fornecido seus serviços profissionais gratuitamente à família durante oito anos. Recentemente, foi abordado por um funcionário do Departamento de Polícia, que se deu a conhecer como o filho mais velho da viúva e revelou que possuía um cargo satisfatório, no qual ganhava trezentos mil réis por ano - 150 dólares. Ser empregado pelo governo, na Polícia, é honroso, mas descer abaixo de empregos do governo, mesmo para ser negociante, é degradante. Como exemplo do sentimento geral, serve o seguinte cujas personagens são conhecidos meus. Um cavalheiro de 18 anos foi convencido a honrar uma casa importadora com seus serviços de escritório. Um pacote, que não era maior do que uma carta dupla, foi-lhe entregue certo dia por um dos sócios da firma, com um pedido para que o levasse a outra firma, situada nas vizinhança. O jovem olhou para o pacote, em seguida para o negociante, tomou o pacote entre o indicador e o polegar, fitou novamente ambos, meditoupor um momento, saiu lentamente e, a alguns metros da porta da casa, chamou um negro, que carregou o pacote e o acompanhou até seu destino!
(...) "Ensinados dessa forma a fugir dos caminhos honrosos da independência, pode-se perguntar: como vivem? Vivem do poder público, sempre que podem."


Hoje Monica Bellucci faz 49 anos, Chacrinha completaria 93 e Daniel Filho faz 76.

domingo, setembro 29, 2013

Transmitida por Orson Welles, a "invasão dos marcianos" causou pânico naquele dia de 1938

Além de ator e cineasta genial, Orson Welles protagonizou um dos mais conhecidos episódios de pânico coletivo já registrados nos Estados Unidos. Foi em 1938, 30 de outubro, data que, nos EUA, é uma espécie de primeiro de abril brasileiro - o dia dos bobos, das brincadeiras e dos trotes.
No caso, levava-se ao ar a adaptação do famoso livro de H. G. Wells, The War of the Worlds, "A Guerra dos Mundos", publicado no ano de 1989 e um dos clássicos dos primórdios da ficção científica, narrando a invasão da Terra por seres alienígenas - marcianos, no caso. Na época acreditava-se na existência de uma civilização marciana e nos famosos "canais" do planeta vermelho.
Nesse dia, por volta das 8 horas da noite, a emissora Columbia Broadcasting System, CBS, de Nova Iorque, passou a transmitir ao vivo a adaptação do romance encenada no The Mercury Theatre. Super-realista, muito bem feita, a peça - uma adptação de Howard Koch - foi tida como um fato verdadeiro, embora vários avisos, antecedendo o programa e mesmo ao longo deste, avisassem que aquilo era apenas ficção. Não adiantou: mal o "Theatre Mercy" iniciou a sua introdução padronizada, tocando músicas de dança, muito ouvidas em hotéis e salões de baile, a música cessou e entrou a voz de um locutor: "Senhoras e senhores, interrompemos a nossa programação de dança para um boletim especial da Intercontinental Rádios News. Aos 20 minutos para as 8 horas, o professor Farrel, do Observatório do Monte Jennings, em Chicago, comunicou haver observado uma série de explosões de gás incandescente a intervalos regulares no planeta Marte. O espectroscópio indica que o gás é hidrogênio e se dirige para a Terra com fantástica velocidade (...)"
Minutos depois, a música seria interrompida novamente para outros boletins, dando conta de que o Governo norte-americano havia solicitado aos observatórios que viagiassem Marte, uma vez que um astrônomo canadense havia confirmado as explosões iniciais e que um abalo, "quase da intensidade de um terremoto" havia ocorrido perto de Princeton. Em breve as informações se tornaram mais alarmantes: "Informa-se que um enorme objeto flamejante, possivelmente um meteorito, caiu numa fazenda nas vizinhanças do Grovers Mill, Nova Jersey. O rastro de luz no céu foi visto num raio de centenas de quilômetros, e o impacto foi ouvido em Elisabeth, muito ao norte".
O pânico começou a se instalar entre ou ouvintes, que julgavam tratar-se de autênticos boletins jornalísticos, tanto que várias pessoas pegaram seus automóveis e saíram a procurar o local da queda, incluindo aí o próprio diretor do Departamento de Geologia da Universidade de Princeton. O próximo informe era ainda mais alarmante: "O flamejante objeto que caiu do céu não era meteorito, mas um enorme cilindro de 30 metros de diâmetro, semi-enterrado numa cratera. O professor assegura que o cilindro é, positivamente, extraterrestre".
Quando isso foi levado ao ar, os telefones da polícia e dos jornais de inúmeras cidades começaram a estrilar histéricamente, com multidões apavoradas perguntando se aquela história era verdadeira - só o Times recebeu 875 chamadas. O mesmo aconteceu com o escritório da Associated Press de Kansas City. As ligações vinham de diferentes cantos do país - Los Angeles, Salt Lake City, do Texas. Algumas pessoas asseguravam ter visto as chamas e um velhinho, vestindo apenas pijama, correr para a casa do vizinho, dizendo "não querer morrer sozinho." Em bando, congestionando todas as vias de saída da cidade, os nova-iorquinos amontoavam-se em seus carros para fugir da "invasão marciana". Alguns homens se ofereceram para lutar e "expulsar" o invasor e uma mulher tentou o suicídio ingerindo veneno - só não conseguiu pois o marido conseguiu tomar-lhe os comprimidos das mãos. Em algumas localidades do Alabama o povo se reuniu para rezar e centenas de médicos e enfermeiros se apresentavam para prestar serviços. Pessoas com crises nervosas, muitas delas em estado de choque, baixavam os hospitais - somente na localidade de Newark foram 15.
Nessas alturas o monstro marciano já tinha mostrado a sua cara e já fazia estragos incríveis. Conforme o programa "a batalha que teve lugar esta noite terminou com a nossa derrota (era a voz de um capital do Exército) (...) Sete mil homens esmagados pelos pés de metal do monstro ou reduzidos a cinzas pelo raio quente. (...) O monstro domina a parte central de Nova Jersey (...) As estrada para o norte, para o sul e para o oeste estão congestionadas pelo tráfego humano".
O invasor marciano era mesmo de aparência apavorante - uma espécie de serpente cinzenta, se arrastando sobre tantáculos, a boca em forma de V, "com as salivas pingando dos lábios sem borda, que parecem tremer e pulsar."
Orson Welles, apesar de já conhecido em seu País, ganhou notoriedade mundial com o episódio da "invasão dos marcianos". Ele contava apenas 28 anos de idade e ainda não havia feito o seu célebre filme - Cidadão Kane, de 1941. De qualquer forma a "invasão alienígena" de 1938 mostrou a que ponto as pessoas são influenciáveis e, de certa forma, como isso é contagioso.

Hoje Anita Ekberg faz 82 anos e Cid Moreira 86.

A lentidão mental dos brasileiros

"Esta uniformidade do calor tropical pode ser propícia à saúde e permitir a vida até elevada idade, mas creio que também provoca certa lentidão intelectual. Existe uma relação evidente entre a meteorologia e o cérebro; os espíritos enérgicos medram melhor onde se alternam o calor e o frio, as calmarias e as tempestades. Sinto uma crescente tendência à ociosidade, tanto mental quanto física, e posso compreender facilmente por que as pessoas que visitam os trópicos se cansem da verdura invariável e anseiam pela neve e o gelo, assim como pela renovadora influência da primavera setentrional."
 
Por acaso retirei da biblioteca municipal um livro chamado Vida no Brasil, do norte-americano Thomas Ewbank, que esteve no Brasil em 1846, durante o Império, quando tinha 54 anos. Quer dizer, esteve no Rio de Janeiro e anos depois, de volta à sua terra, escreveu e publicou suas impressões sobre a terrinha. O livro é, de fato, muito bom e fruto de observações inteligentes de um homem que não manifestava preconceito com o Brasil, país onde vivia um irmão seu, casado com uma brasileira, mas também não se furtava a observar as coisas sem medo de tocar nas feridas, inclusive as coisas ruins não percebidas pelos tupiniquins  (e que, vendo bem, são formadoras do caráter nacional e ainda subsistem em diferentes e várias formas, ainda que difusas). Por exemplo, a crueldade com os escravos da parte de senhores cruéis, a indolência tropical das classes superiores, a má vontade, ou mesmo ojeriza, para com os trabalhos braçais, os costumes, a paisagem, as festas religiosas e as superstições religiosas envolvendo os santos. Ainda não acabei de ler a obra, que não deve ser lida de corrido e sim saltando algumas descrições muito técnicas e  específicas sobre coisas brasileiras.
Em certo trecho do livro Thomas se surpreende com o hábito brasileiro de se retirar o chapéu na presença de pessoas importantes ou ao se entrar em uma casa de família, algo que ele considera uma coisa meio oriental e que o divertia. Depois disso comecei a notar que, realmente, nos filmes americanos ninguém tira chapéu em respeito a ninguém - se entra com ele em qualquer local, em casas, bares etc.
Apesar de ser uma obra de pimeira, muito bem escrita, só foi publicada no Brasil em 1973, mais de cem anos depois de ter saído na terra do Tio Sam. Só aí dá para perceber um pouco do nosso caráter e da nossa lentidão intelectual... Na página 66 da edição da editora Itatiaia, de São Paulo, encontrei o trecho acima, que assino embaixo.  Resolvi transcrever, por lentidão intelecutal... (V.M.)

sábado, setembro 28, 2013

sexta-feira, setembro 27, 2013

Caso Simpson: racismo às avessas?


Um caso de racismo - só que às avessas, desta vez beneficiando uma pessoa negra.
Assim, em linhas gerais, pode ser entendida a absolvição do ex-astro de futebol americano O.J.Simpson, 48 anos, na década de 70, uma espécie de Pelé do esporte mais popular dos EUA. Simpson - ou Orenthal James Simpson - jogou muitos anos no Buffalo Bills.O julgamento teve seu desenlace em 3 outubro de 1995, em Los Angeles, um ano depois da brutal morte de Nicole Brown Simpson (na foto, com ele), ex-mulher de O.J., e do amigo dela, Ronald Goldman, fato acontecido em 12 de junho de 1994.

O julgamento - na verdade um grande show - durou 372 dias até o veredito final e consumiu nove milhões de dólares do contribuinte norte-americano. Simpson teria gasto de quatro a sete milhões com a sua equipe de advogados e de especialistas - só um perito em testes sanguíneos cobrou 100 mil dólares para dar seu testemunho no tribunal. Calcula-se que 60 milhões de pessoas, somente nos EUA, acompanharam o julgamento pela televisão, incluindo aí o então presidente Bill Clinton. O resultado deixou muita gente estupefata, pois os jurados deram um veredito que contrariava todas as evidências. Tal resultado, no entanto, pode ter evitado a eclosão de novos distúrbios raciais na segunda maior cidade americana, um barril de pólvora sempre prestes a explodir.
A absolvição de Simpson foi comemorada pelos negros dos Estados Unidos, que viam na acusação contra o astro do beisebol mais uma atitude racista da polícia de Los Angeles. E foi a polícia que, em última análise, pôs tudo a perder - talvez até, por suas falhas, colocando em liberdade um assassino frio e calculista. A acusação alegou que Simpson matou sua ex-mulher por causa de um ciúme doentio - ele imaginava que ela estava tendo um caso com um dos seus amigos.O crime aconteceu na noite de 12 de junho de 1994, no jardim da casa de Nicole, uma ex-garçonete que dele se divorciou em 1992.
Ela morava em um dos bairros mais chiques de Los Angeles - cidade marcada por profundas divisões raciais (brancos, negros e latinos) e por uma incontrolável guerra de gangues na periferia. O assassino atacou as duas vítimas entre 22h15 e 23 horas, com uma arma que nunca foi encontrada - um instrumento contundente que deixou uma poça de sangue no local, constatando-se que as vítimas lutaram muito contra o agressor. Não houve testemunhas e todas as provas eram circunstanciais. Ron Goldman, o amigo de Nicole, aparentemente deu um tremendo azar, pois foi a casa desta apenas para devolver os óculos esquecidos pela mãe de Nicole no restaurante onde ele trabalhava, e acabou encontrando a morte. O..J. Simpson foi preso cinco dias depois pela polícia e formalmente acusado pelo crime.
Contra ele pesaram muitas evidências, especialmente suas reações imediatas após o fato: deixou uma carta na qual falava em suicídio e fugiu em um jipe, onde, no seu interior, havia uma barba postiça e o passaporte. Também os exames de DNA (que, em 1994, já era empregado como prova nos EUA) comprovaram a existência do sangue das vítimas na casa de Simpson. Além disso ele não conseguiu explicar direito onde estava no horário do crime - alegou que jogava golfe em casa. Pior: uma luva sua foi encontrada no quintal da sua própria casa, com o sangue das vítimas. Comportalmente, outro fato que chamou a atenção foram as manifestações obsessivas de ciúme e as repetidas surras que Simpson aplicava na sua mulher, sempre ameaçando-a de morte. Mesmo sendo negro - mas nem de longe militante da causa - ultimamente o astro do beisebol só namorava loiras, como Nicole.A seu favor contou o fato de alguns dos policiais que atenderam a ocorrência serem notoriamente racistas, sendo suspeitos de haver plantado as provas. Segundo se apurou depois, os policiais não coletaram o sangue devidamente, carregando o material durante horas (abaixo de um calor fortíssimo) antes de deixá-lo no laboratório. Um deles, Mark Fuhrman, era abertamente racista e neonazista - embora nunca ousasse reconhecer isso. A defesa apresentou uma fita em que o policial fala com desprezo dos negros e, a certa altura, diz que "quando se trata de um crioulo, primeiro você prende e depois faz as regras." Como o jurí, de doze pessoas, era formado majoritariamente por negros - entre eles havia apenas dois brancos e um hispânico - o fator racial foi decisivo.

O chamado "Caso Simpson" dividiu os Estados Unidos: logo após o julgamente uma pesquisa constatou que para 75% da população branca Simpson era o culpado, enquanto 78% dos negros acreditavam que ele era inocente. No total, 56% dos norte-americanos discordaram da absolvição, entre apenas 33% que concordaram.Provavelmente culpado, O.J.Simpson não tem do que reclamar: declarado inocente, ele ficou com a guarda dos dois filhos que teve com Nicole e ainda faturou muito dinheiro, vendendo entrevistas, reportagens e depoimentos sobre o caso. De qualquer forma, o caso Simpson chamou a atenção para as divisões raciais da sociedade americana, especialmente a de Los Angeles, cuja polícia é das mais violentas, racistas e corruptas dos Estados Unidos. (Texto e Pesquisa: V.M.)