domingo, setembro 29, 2013

A lentidão mental dos brasileiros

"Esta uniformidade do calor tropical pode ser propícia à saúde e permitir a vida até elevada idade, mas creio que também provoca certa lentidão intelectual. Existe uma relação evidente entre a meteorologia e o cérebro; os espíritos enérgicos medram melhor onde se alternam o calor e o frio, as calmarias e as tempestades. Sinto uma crescente tendência à ociosidade, tanto mental quanto física, e posso compreender facilmente por que as pessoas que visitam os trópicos se cansem da verdura invariável e anseiam pela neve e o gelo, assim como pela renovadora influência da primavera setentrional."
 
Por acaso retirei da biblioteca municipal um livro chamado Vida no Brasil, do norte-americano Thomas Ewbank, que esteve no Brasil em 1846, durante o Império, quando tinha 54 anos. Quer dizer, esteve no Rio de Janeiro e anos depois, de volta à sua terra, escreveu e publicou suas impressões sobre a terrinha. O livro é, de fato, muito bom e fruto de observações inteligentes de um homem que não manifestava preconceito com o Brasil, país onde vivia um irmão seu, casado com uma brasileira, mas também não se furtava a observar as coisas sem medo de tocar nas feridas, inclusive as coisas ruins não percebidas pelos tupiniquins  (e que, vendo bem, são formadoras do caráter nacional e ainda subsistem em diferentes e várias formas, ainda que difusas). Por exemplo, a crueldade com os escravos da parte de senhores cruéis, a indolência tropical das classes superiores, a má vontade, ou mesmo ojeriza, para com os trabalhos braçais, os costumes, a paisagem, as festas religiosas e as superstições religiosas envolvendo os santos. Ainda não acabei de ler a obra, que não deve ser lida de corrido e sim saltando algumas descrições muito técnicas e  específicas sobre coisas brasileiras.
Em certo trecho do livro Thomas se surpreende com o hábito brasileiro de se retirar o chapéu na presença de pessoas importantes ou ao se entrar em uma casa de família, algo que ele considera uma coisa meio oriental e que o divertia. Depois disso comecei a notar que, realmente, nos filmes americanos ninguém tira chapéu em respeito a ninguém - se entra com ele em qualquer local, em casas, bares etc.
Apesar de ser uma obra de pimeira, muito bem escrita, só foi publicada no Brasil em 1973, mais de cem anos depois de ter saído na terra do Tio Sam. Só aí dá para perceber um pouco do nosso caráter e da nossa lentidão intelectual... Na página 66 da edição da editora Itatiaia, de São Paulo, encontrei o trecho acima, que assino embaixo.  Resolvi transcrever, por lentidão intelecutal... (V.M.)

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