sexta-feira, junho 07, 2013

Afinal, a Terceira Perimetral foi boa para os comerciantes localizados à sua volta?

Com seus 12 quilômetros de extensão, pistas largas que cruzam 20 bairros, a Terceira Perimetral, pode-se dizer, foi definitivamente concluída – depois de longos e conturbados anos de obras que exigiram o sacrifício da comunidade e, sobretudo, dos comerciantes situados à sua volta, estão faltando apenas detalhes para o desenlace. Orçada em quase 60 milhões de dólares – entre recursos municipais e financiamentos junto aos organismos internacionais – a mais moderna e rápida via expressa de Porto Alegre deu outra cara à nossa paisagem urbana.
Iniciando na Zona Norte, liga esta parte da cidade com a zona leste e, por fim, com a Zona Sul e o Extremo Sul da Capital, o que facilitou extraordinariamente o tráfego entre todas essa regiões, permitindo um rápido acesso ao Aeroporto Salgado Filho e às praias do Litoral Norte. Idealizada há vários decênios, tornou-se uma gradativa realidade a partir dos governos da Frente Popular, que priorizaram a iniciativa. Seu término aconteceu no governo de José Fogaça, com a conclusão do viaduto Celso Furtado – de passagem de nível – no bairro Teresópolis, onde, aliás, acaba oficialmente. Com a duplicação da avenida Juca Batista, ganhou ainda mais importância no sistema viário de Porto Alegre.
IMPORTÃNCIA - “A Terceira Perimetral é um eixo viário, um sistema de propulsão do tráfego de Porto Alegre”, explica o ex-secretário municipal de Obras e Viação, SMOV, Maurício Dziedriki.
“O intuito da obra é resolver o problema de deslocamento entre as regiões norte e sul e tem grande importância no crescimento da cidade, com estímulo aos estabelecimentos comerciais, é um projeto extremamente dinâmico”.
Dinâmico é, de fato. Por sua característica de via expressa, apresenta poucos pontos de interceptação e de parada – ou seja, prioriza-se a velocidade e os motoristas, algo bem diferente do que eram, por exemplo, a avenida Senador Tarso Dutra, a avenida Salvador França, a Coronel Aparício Borges e a avenida Teresópolis. Em decorrência desse fator, muitos comerciantes terão de se adaptar às novas características, o que nem sempre é fácil. Mesmo enfatizando o lado positivo da obra – entre os quais se inclui a valorização dos imóveis às suas margens – muitos deles queixam-se de que estão, até este momento, arcando com alguns prejuízos originados pelo trânsito rápido, pela falta de locais de estacionamento e pelo recuo forçado de seus territórios.
Um dos que se julgam prejudicados é um dos proprietários do Supermercado 3, Valcir Tres, instalado em Teresópolis há 30 anos. Embora não esteja às margens da perimetral, e sim um pouco adiante, na sua continuação, o comerciante diz ter observado uma queda no movimento de clientes. “Na realidade, paro o comércio a Terceira Perimetral foi muito ruim. Perdemos o estacionamento, que no meu caso já era pequeno, e ainda por cima não nos indenizaram”, conta ela. “Eu senti uma queda no movimento. Para o comércio, nenhuma via expressa é boa, ninguém para seu carro e, em consequência, acabamos ficando só com a clientela tradicional, a mais fiel, que mora muitas vezes aqui perto”.
O 3 é um típico supermercado de bairro cujo diferencial é o preço menor que oferece aos fregueses, fruto, diz Valcir, de custos menores que o arcado pelas grandes redes. Além deste ponto, na avenida, o Tres está presente em mais outros locais da Zona Sul. Mesmo assim, Valcir reconhece que a Perimetral “foi uma obra boa para o trânsito”.
Também em Teresópolis (avenida Teresópolis, 3111), Iara Ribeiro, proprietária da loja Iara Cabeleireiros, lembra os transtornos de mais de dois anos de construção, com a presença das máquinas, dos operários, do barulho e da poeira. Foi o período mais crítico, para ela.
“Muitas vezes faltava água aqui para nós, e um salão de beleza sem água não existe. Tivemos que negociar com o pessoal das empreiteiras, apelar para a colaboração deles que, felizmente, existiu.” “Mas valeu a pena”, argumenta. “Ficou bem mais bonito, não posso reclamar, estou nesse ponto há quase 30 anos, peguei isto aqui quando era uma faixa estreita. No meu caso, o movimento continua igual, não tive prejuízos, até porque os meus clientes moram no bairro, em sua maioria.”
Opinião reforçada por Margarete Woyda Seixas, dona da Voida, Moda Grande, uma poja de moda situado junto ao Supermercado Nacional. “Não senti nenhum prejuízo”, afirma ela, que tem outra loja na avenida Wenceslau Escobar, na Tristeza, também ampliada.
“Lá sim, foi ruim, as obras de duplicação causaram muitos transtornos e teve muita gente que fechou seus negócios”. Quem também mostra neutralidade é Jocemar, funcionário da Academia Power Center (avenida Teresópolis, 3621), presente há mais de 20 anos no bairro. “No nosso caso não teve nenhuma mudança, até porque temos estacionamento próprio”, afirma ele.
Ter estacionamento parece ser o nó central da questão – algo extremamente necessário e problemático. Como aumentou extraordinariamente a quantidade de carros em Porto Alegre, assim como o trânsito se torna a cada ano mais complicado, o estabelecimento comercial que não dispor de tal espaço para ofertar a seus clientes simplesmente deixa de existir para os compradores motorizados.
Como a obra de ampliação comeu alguns metros quadrados de muitos empreendedores, eles perderam uma boa gama de fregueses para seus concorrentes que dispõem desse serviço. É o caso da Cervofarma, uma drogaria localizada na avenida Aparício Borges, 539. Há mais de 20 anos no mesmo local, a farmácia sentiu uma leve queda em seu movimento. “O movimento deu uma diminuída por causa do estacionamento que ficou menor. O pessoal hoje corre o risco de ser multado. Antes dava para parar quatro ou cinco carros aqui, agora não dá mais, até porque estamos na esquina com a Oscar Pereira”, informa Alexandre, um dos atendentes.
Outra farmácia – esta mais recente – que sentiu os reflexos da via expressa é a SOS Farmácia, na Aparício, 1463, esquina com a rua São Miguel. Segundo Vinícius, um dos funcionários, a obra é boa e necessária. Contudo, a par das visíveis vantagens, ele se mostra relutante com a “tranqueira no horário de pico”, além de lamentar a falta de estacionamento. “Antes tinha mais circulação, mais facilidade”.
VEICULOS – Sonia Braga dos Santos, dona da Ipanema Veículos (Aparício Borges, 1187, a uma quadra e meia da Oscar Pereira) – compra e venda de veículos novos e usados - considera o excesso de velocidade um dos principais problemas da Terceira Perimetral e pede a instalação de “alguns pardais”. Ela também acha negativo o fato de se ter feito a calçada do passeio público muito estreita, o que, no seu caso, impede um melhor acesso ao pátio onde estão os veículos à venda.
“Eu não tenho onde meter o meu carro, quando chego, a não ser em cima da calçada, e até já fui multada pelos azuizinhos por isso”. Sonia acha que alguns clientes foram perdidos em função desses dois fatores. “Eu acho que a gente perdeu clientes pelo fato da faixa ser muito rápida, o pessoal olha e passa, acaba indo para outro local”. Assim como muitos outros comerciantes, ela tem clientes fiéis, o que é sempre algo positivo nesse caso, e, mesmo lamentando os transtornos – principalmente no período das obras – considera a Terceira Perimetral algo positivo:
“É um referencial para os clientes, um argumento de vendas que se pode colocar no cartão. Eu tenho muitos clientes do interior e sempre digo a eles que estou na Terceira Perimetral, com fácil acesso. Além disso é uma avenida bem iluminada, antigamente a gente tinha uma simples estradinha aqui”. Conforme tem observado, muitos clientes que haviam indo embora em função dos transtornos da construção agora estão voltando – e com ânimo redobrado.
BOTÃNICO - Mais adiante, em direção à Zona Norte, no bairro Jardim Botânico, a Terceira Perimetral trouxe um surto de progresso. O comerciante Paulo Silveira, que foi dono de um pequeno armazém e bar na esquina com a Valparaíso, lembra dos tempos em que a avenida Salvador França era uma faixa estreita e poeirenta – agora é uma larga e movimentada avenida.
“No meu caso, e acho que no de todos na volta, foi muito bom. Valorizou os imóveis, inclusive o meu, trouxe novos negócios, além de mais segurança e iluminação pública. Hoje a gente pode dizer que faz parte do mapa de Porto Alegre. Pra mim, tá tudo ótimo, nem quero falar do passado, que era uma estagnação só”.
De fato, os aspectos positivos dessa importantíssima obra viária superam amplamente quaisquer possíveis e passageiras desvantagens – aos poucos os empresários vão se adaptando às suas característicos e diminuindo seus leves lamentos, muito embora, em alguns casos pontuais, os prejuízos realmente existam.
“Quem acha ruim a Terceira Perimetral tem que ser internado no Hospital Espírita”, afirma, com veemência, Pedro Pandolfo, proprietário da Pedrocar (Praça Guia Lopes, 87) e líder comunitário. “Quem diz que é ruim é porque nunca acompanhou o processo. Para nós foi ótimo, valorizou os imóveis o bairro, além de ter sido uma discussão democrática na qual a comunidade foi ouvida e deu sugestões. É claro que tem gente que quer um retorno a cada quadra, o que chega a ser uma piada”, opina ele. Ex-presidente e ex-vice-presidente da da Associação Comunitária do Bairro Teresópolis, presente no bairro desde 1969, Pedro lembra as compensações que a comunidade teve com a via expressa. “Ganhamos um centro cultural, um posto de bombeiro e de policiamento, então não podemos falar em prejuízos”.
Imóveis se valorizaram
A valorizacão dos imóveis em sua área de influência foi um dos efeitos mais marcantes da Terceira Perimetral. Segundo Jairo José Dorneles, corretor que atua no Cristal, “o mercado melhorou, as pessoas procuram comprar imóveis com localização adequada para as suas necessidades, perto de faculdades, por exemplo”.
No caso da Terceira Perimetral, diz Jairo, não chegou a haver um acréscimo nos preços dos imóveis, porém a utilização da Perimetral como argumento de vendas não pode ser desprezada.
“É claro que eu uso isso como argumento de vendas. As pessoas, hoje, estão buscando facilidade de deslocamento e proximidade com faculdades, por exemplo, e a Perimetral leva as pessoas à PUC”, lembra ele.
Trabalhando há 35 anos no Cristal, Jairo vê a Zona Sul, hoje, crescendo a partir da avenida Juca Batista, principalmente. “O Cristal não tem mais como crescer, a tendência é crescer a partir da Juca em direção à Restinga, é ali que está o progresso”. Segundo ele, “se o camarada tem filhos na Faculdade, a gente explora esses argumentos, assim como a facilidade para se chegar ao aeroporto”. A Perimetral, no seu entender, trouxe facilidades de deslocamentos, entre tantas vantagens porém a Zona Sul, na sua visão, ainda tem muito a crescer. O que está mais se desenvolvendo hoje é a Juca Batista, em direção à Restinga”, opina ele.
Outra corretora que viu vantagens na conclusão da Perimetral é Ana Paula Matos, funcionária da imobiliária A3. Vantagens que não chegam a ser mensuráveis no momento, afirma ela, porém utilizáveis no convencimento do cliente.
“O acesso à Zona Norte, a facilidade de se chegar à PUC, às faculdades, tudo isso funciona como um excelente argumento de vendas”, reconhece. “”É claro que os preços não foram alterados, os valores, mas as pessoas valorizam as vias rápidas, as facilidades de deslocamentos, e a Zona Sul, por ser uma parte mais sossegada da cidade, tem atraído muita gente”.



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