quinta-feira, julho 17, 2014

O Grande Templo e as mentes paralíticas

A anunciada inauguração do novo templo dessa igreja dos bispos em São Paulo, construção que pode abrigar 10 mil pessoas sentadas,  e a proliferação de inúmeros programas religioso-comerciais nas emissoras da tevê aberta, me fazem lembrar de uma frase de Kafka: "A religião é a muleta das mentes paralíticas". Não sei se ele disse ou escreveu isso, textualmente (estou citando uma citação), mas se vivesse hoje, com tudo que está aí, na telinha e fora dela, certamente reforçaria o que disseram que disse. Também me lembrei de H. L. Mencken e do que ele escreveu sobre a exacerbada religiosidade norte-americana nos anos vinte. Para Menken, que não acreditava em nenhum Deus pessoal (e nem impessoal), ser religioso era ter "a crença ilógica na ocorrência do improvável".
Aí também me lembrei de um sujeito, dono de bar popular, que conheci em em Santa Catarina - e que, a princípio, considerando o local e sua aparência, me pareceu um tipo bronco e primitivo, típico da fauna dos bares. Mas não era o que imaginei à primeira vista: me contou (não lembro como iniciou tal tipo de estranha conversa) que havia sofrido um gravíssimo acidente de carro anos antes e que vivera então a tal famosa experiência de morrer e voltar, ou de sair fora do corpo - essas que o Fantástico e aquele programa de domingo da Rede Record adoram exibir com destaque. 
Seja lá o que for, ele garantiu ter saído efetivamente do corpo e ter visto toda a cena da qual era vítima, incluindo o seu próprio corpo que jazia sem vida, lá embaixo, todo ensanguentado, em meio às ferragens retorcidas. Depois disso, socorrido, permaneceu meses em um leito de UTI, até voltar à ativa no jogo da vida.
Pois o sujeito ficou tão impressionado com aquilo que vira ou imaginava ter visto (segundo ele, foi barrado por pessoas do Além, que o mandaram de volta, alegando não haver chegada a sua hora de cruzar o portal divisório) que, mesmo meio anarfa, passou a procurar, comprar e ler livros sobre todas as principais religiões do mundo - cristianismo, islamismo, budismo, xintoísmo, o escambau. Fez isso durante anos, atrás daquilo que o personagem de Somerseth Maughan faz em O Fio da Navalha.
No final o sujeito - que ainda apresentava visíveis sequelas do acidente e tinha certas dificuldades em caminhar - me disse que, de tudo que lera, havia chegado a uma única conclusão: "Nenhuma religião organizada presta", disse-me ele, convicto e conclusivo, no interior mal iluminado daquele tosco buteco.
Penso agora em Mencken e Kafka, e principalmente nesse cara do bar de Floripa, quando vejo esse rebanho todo que segue teorias esdrúxulas e deixa suas parcas economias nas mãos de bispos, pastores, "apóstolos" etc., essa gente que vive à tripa forra e mantém contas no exterior e frotas de aviões em hangares particulares. É o tal do "me engana que eu gosto". (Vitor Minas)

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