terça-feira, agosto 27, 2013

Crachá e sinal da cruz

Esses dias eu estava pensando sobre as figuras que nós encontramos por aí, nas ruas, alguns tipos esquisitos ou prosaicos - um pouco mais ou menos como este que agora escreve. Justamente naquele momento eu estava na PUC aqui de Porto Alegre, onde vou seguidamente à belíssima biblioteca que lá existe e que vi surgir, faz alguns anos. Foi então que atentei a respeito de um tipo que julgo curioso,que é aquele sujeito que sai às ruas com um crachá pendurado no pescoço. Crachá geralmente de uma empresa, da empresa para a qual ele trabalha ou faz algum serviço.
Digo que acho esse hábito curioso pois é justamente quando está na rua, de folga, quase sempre no horário do almoço, que o sujeito pode e deve tirar o seu crachá de identificação, até mesmo para se libertar da tirania daquela canga. E é justamente a insistência em não fazer isso que me levou a teorizar a respeito. Pensei um pouco e concluí que o cara que usa crachá na rua é, em essência, um pobre diabo em busca de afirmação. Justificação: ele se orgulha daquele documento no pescoço, que, a seu ver, mostra a sua importância - por menor que esta seja. Também prova que ele não é um vagabundo e não está desempregado e que, obviamente, sua empresa é tão importante que manda confeccionar crachás para os seus pobre-diabos etc etc.
Outra figurinha que acho deverasmente curiosa é o do católico que, ao passar por uma igreja, a pé, de ônibus, de carro, a cavalo, se apressa em fazer o sinal da cruz, todo contrito.
Como sou um cidadão cético - cada vez mais cético, devo dizer - costumo lançar um olhar debochado à essa gente. Afinal, fazer o sinal da cruz por si só já é o fim da picada. Mas fazer isso por causa de uma igreja, então é o máximo do máximo. Ou seria da submissão ao Vaticano? 
Dizem que, na Espanha, no passado, as prostitutas costumavam colocar um pano sobre a cabeça das estátuas de santos que tinham nos quartos, para que eles não vissem o ato sexual, o que, no meu humilde entendimento, faz mais sentido do que sair às ruas com um crachá no pescoço ou fazer o sinal da cruz na frente das igrejas.
Mas por que estou falando desses assuntos tão triviais, eu não sei dizer. Deve ser esta melancólica e cinzenta tarde de terça-feira, em Porto Alegre, a coriza gripal e uma vontade de estar bem longe daqui, em alguma cidade à beira-mar, no belo ano de 1998 que tanto me marcou. (Vitor Minas)

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