quarta-feira, julho 30, 2008

A enchente de 1941 paralisou o Rio Grande


O Mercado Publicou foi totalmente inundado, bem como toda a área central da cidade e inúmeros bairros. Loureiro da Silva (foto de 1961) era o prefeito de Porto Alegre. Em maio de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, todo o estado do Rio Grande do Sul foi castigado por uma enchente sem precedentes, proporcionalmente maior das que atingiram Santa Catarina nas últimas semanas, embora com menor número de vítimas fatais.
Foi, de longe, a maior calamidade natural que castigou o altivo Estado gaúcho, então com menos de 3 milhões de habitantes. As chuvas iniciaram em abril e se estenderam por mais de três semanas, deixando 25 mil quilômetros quadrados do Estado submersos e um contigente de 80 mil flagelados somente na Capital. O flagelo, no entanto - e ao contrário do que se pensa - atingiu todo o Estado. Grande parte das lavouras e mesmo do rebanho bovino se perdeu sob as águas. A Indústria Renner - então a maior da Capital - deu férias para seus mais de dois mil empregados, e podia-se andar de barco no interior de suas instalações na Zona Norte. Os casos de doenças (leptospirose, especialmente) foram reduzidos, graças a uma bem orquestrada campanha de saúde e de vacinação. A ameaça de uma epidemia de tifo e de febre tifóide não se concretizou.
Dezenas de cidades ficaram isoladas, faltaram alimentos, energia e água potável e praticamente todos os meios de transporte terrestre pararam. Todos os Estados da federação - incluindo o distante e humilde Piauí - mandaram donativos e auxílio para a população gaúcha. Os Estados Unidos, a Alemanha (o Brasil ainda estava neutro na Guerra), a Itália e até o Japão fizeram o mesmo, enviando recursos em dinheiro.
O auge da cheia, a "quinta-feira negra", aconteceu a 8 de maio, quando o nível do Guaíba passou dos 4,70 metros no cais do porto de Porto Alegre. Os jornais - Correio do Povo, Diário de Notícias, Folha da Tarde e mais uma meia dúzia de publicações menores - tiveram suas oficinas inundadas e deixaram de circular. Andava-se de barco pelo centro da cidade e a avenida Farrapos transformou-se em uma pista aquática.
Bancos, repartições públicas, comércio, indústria, serviços - quase tudo (pelo menos na parte inundada) deixou de funcionar e milhares de pessoas de uma cidade que contava menos de 300 mil habitantes permaneceu ilhada em suas casas ou acolhida em abrigos públicos. Depois da enchente veio um frio polar, de enregelar pinguim, seguido de fortíssimos ventos em determinadas regiões do Estado.
A enchente de 1941 vive até hoje na memória popular, embora não tenha sido expressiva em número de mortes, pouco mais de duas dezenas. O Governo do Estado, comandado pelo Interventor Osvaldo Cordeio de Farias, e o municipal, dirigido por José Loureiro da Silva (ambos, coincidentemente, de 39 anos de idade) mostrou grande capacidade de organização e, graças a uma série de providências corretas, evitou o pior. A população gaúcha, de igual forma, demonstrou estoicismo, sendo poucos os casos de saques e vandalismo. Ao contrário do que acontece em Santa Catarina, os governantes prenderam dezenas de comerciantes que, aproveitando-se da desgraça, majoraram os preços dos seus produtos ou tentaram escondê-los da população. A ajuda do governo de Getúlio Vargas, de igual forma, foi total e a tempo, com perdão de créditos e liberação imediata de recursos para ajuda aos atingidos.

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