sábado, novembro 27, 2010

A. tem 26 anos e uma irmã de 16. A. é uma nega linda, e sabe disso. Dizem que, não faz muito, parava o Morro de Santa Teresa quando subia. Quem me disse isso foi um polícia, que eu nem sabia que era polícia, num bar da avenida.
Ela estava comigo, radiante, brilhosa. É uma mulher cheia de vida, sem nenhuma grana, que vive como dá - fazendo programas, pedindo, às vezes achacando, essas coisas. É viciada em crack, ao contrário da irmã menor, que também faz programa, também faz as coisas que a outra faz, mas não fuma, não bebe (de vez em quando uma cerveja), mas frequenta os bares pé-sujo.
A. é mais bonita que a menor - que, por sua vez, é também uma nega muito bonita. A. sabe que é bonita. Tem classe, voz agradável, sabe conversar, sabe rir, não é vulgar. Eu disse a ela: "Cuidado, garota, que a beleza acaba".
Ela tem o rosto perfeito - se alguém do ramo a tivesse descoberta anos atrás, certamente seria modelo. É alta, corpo esguia e, apesar de todos os excessos, tem a pele perfeita. Tem furinhos no queixo - puro charme - e um sorriso que antigamente se chamava de "alvar".
Nega cor de ébano. Mas anda por aí, dando pra todo mundo, pra sustentar o vício. Vi ela fumando pedra: em vez de ficar alegre e extrovertida, ou falante, entra numa triste neura, acha que todos a perseguem e que todos são polícia.
Usa uma boina, estilo Che Guevara. Se eu tivesse uma boa grana sobrando, vestia essa nega com os melhores panos e mentia a todos que ela era uma modelo internacional. No meu entender, é mais bonita que a Naomi Campbell. Chama a atenção.
............................................................................................................
O Bahia voltou á primeira divisão do futebol brasileiro, depois de sete anos.
Morei - no início dos anos oitenta - próximo ao estádio da Fonte Nova (implodido, me parece) e lembro dos jogos do tricolor. A massa, em peso, tomava as ruas, num frenesi incrível, gente de toda a periferia de Salvador, fanáticos.
Naquela época Salvador tinha os "morcegos" que, acredito, não mais existam, pelo menos em quantidade. Eles se penduravam atrás dos ônibus, ou mesmo em cima, no capô, uma carona perigosa que muitas vezes terminava em morte.
Pouca gente pagava passagem no transporte coletivo de Salvador então. Era entrar, fazer um sinal para o cobrador, deixar a metade do valor da passagem nas mãos dele, e passar por debaixo da roleta, ou então por cima. Só os mais velhos e respeitosos pagavam a passagem integral. Grande parte - a garotada - embarcava na porta de trás (era a porta de embarque) e saía por ali, de fininho, na parada que desejasse, sem passar a roleta. Os cobradores não estavam nem aí.
Acho que as empresas de ônibus só não faliram porque, em troca, ofereciam um péssimo serviço, com ônibus velhos e superlotados. A rigor, não havia transporte coletivo urbano digno desse nome na capital baiana.
Como será que está hoje? Há tempos - uns quinze anos - não volto à Bahia. Imagino que a cidade esteja enorme, bonita, colorida.
Ah, e a noite da Bahia, com aquelas nuvens brancas contra a escuridão azulada do céu, a brisa, o cheiro de mar. E a cerração oceânica, na orla. E o porto da Barra - delícia que curti muito, nadando até a zona do Iate Clube. Águas mansas, tépidas, com uma temperatura média de 30 graus.
Imagine então agora as nossas praias aqui do Sul - do Rio Grande do Sul, melhor falando. Praias não - litoral. Praia é em Santa Catarina, não no Rio Grande. Ver aquela água cinzenta, suja de algas, fria e agitada, me faz olhar com ironia - e até um certo desprezo - para essa gente que veraneia por aqui. É muita falta de gosto - ou conformismo, ou exigir muito pouco.
Além de tudo uma hora a gente quer não ver gaúchos. Vemos gaúchos - nós gaúchos - o ano todo, e ainda vamos ver gaúcho durante as férias? Ah, é preciso uma trégua. Somos isolados demais, precisamos de mais convívio alienígena.
Aliás, gaúcho na praia é uma coisa esquisita e anômala - calções imensos, pele branca que há dez meses que não pega sol, um jeito desajeitado, uma estranheza com a areia, o sol e o mar.
E os argentinos, então: bom, acho que abandonaram aquele hábito ridícula de andar de meia soquete branca nas areias das praias. Esses sim não são da tribo oceânica.

Nenhum comentário: