domingo, janeiro 04, 2009

Há 49 anos morria Camus, o filósofo do absurdo

Albert Camus, autor de "O Estrangeiro" e "A Peste": morto em um acidente de automóvel, com uma passagem de trem no bolso.
Albert Camus (Mondovi, 7 de novembro de 1913Villeblevin, 4 de janeiro de 1960) foi um escritor e filósofo nascido na Argélia. Na sua terra natal viveu sob o signo da guerra, fome e miséria, elementos que, aliados ao sol, formam alguns dos pilares que orientaram o desenvolvimento do pensamento do escritor.
Filho de um francês e de uma descendente espanhola, cedo Camus já conhece o gosto amargo da morte. Seu pai morreu em 1914 na batalha do Marne durante Primeira Guerra Mundial. Sua mãe então foi obrigada a mudar para a cidade de Argel, para a casa de sua avó materna, no famoso bairro operário de Belcourt onde, anos mais tarde, durante a guerra de descolonização da Argélia houve um massacre de árabes.
O período de sua infância, apesar de extremamente pobre é marcada por uma felicidade ligada à natureza, que ele volta a narrar em o "Avesso e o Direito". Mas também em toda a sua obra. Na casa, moravam além do próprio Camus, seu irmão que era um pouco mais velho, sua mãe, sua avó e um tio, um pouco surdo e tanoeiro. Profissão esta que Camus seguiria se não fosse pelo apoio de um professor da escola primária M. Germain, que viu naquele pequeno pied-noir um futuro promissor. Sua família no começo não via com bons olhos o fato de Albert Camus seguir para a escola secundária, fazendo parte de uma família pobre, o próprio Camus diz que no começo foi difícil para ele essa decisão, pois ele sabia que a família precisava da renda do seu trabalho. E que ele deveria ter uma profissão cedo, e que trouxesse frutos, como a profissão de seu tio. No fundo Camus também gostava do ambiente da oficina onde seu tio trabalhava. Há um conto que escrito por ele que tem como cenário a oficina, e no qual a camaradagem entre os trabalhadores é exaltada.
Sua mãe trabalhava lavando roupa para fora para ajudar no sustento da casa. E durante o segundo grau, ele quase abandonou os estudos devido aos problemas financeiros da família. Foi neste ponto que um outro professor foi fundamental para que o ganhador do prêmio Nobel de 1957 seguisse estudando e se graduasse em filosofia: Jean Grenier. Ambos os professores ganham livros dedicados à eles. Jean Grenier por exemplo tem "O Homem Revoltado" dedicado a ele. A tese de doutoramento de Albert Camus, assim como a de Hannah Arendt, foi sobre Santo Agostinho.
Mas, neste momento, o absurdo da existência se manifestou mais uma vez na vida de Camus. Após completar o doutoramento e estar apto a lecionar, sua saúde lhe impediu de se tornar um professor. Uma forte crise de tuberculose se abateu sobre ele nesta época. Ele era tuberculoso havia já algum tempo. Esta doença lhe deu a real dimensão da possibilidade cotidiana de morrer, o que é fundamental no desenvolvimento de sua obra filosófica /literária. A tuberculose também o impediu de continuar a praticar um esporte que tanto amava e lhe ensinou tanto: Camus era o goleiro da seleção universitária. Conta-se que um bom goleiro. E seu amor para com o futebol seguiu-o durante toda a vida. E uma das coisas que mais o impressionou quando da sua visita ao Brasil em 1949 foi o amor do brasileiro pelo futebol. Conta-se que uma das primeiras coisas que Albert Camus fez ao pisar no Brasil foi pedir para que o levassem para assistir a uma partida de futebol. Um pedido bastante incomum para um palestrante.
Sob estas diretrizes, não é sem sentido que sua obra (filosófica e literária) tenha o absurdo como estandarte. A grosso modo, seus livros testemunham as angústias de seu tempo e os dilemas e conflitos já observados por escritores que o precederam, tal como Franz Kafka, Dostoiévski. Esta proximidade entre Camus e estes dois autores evidencia uma cadeia que se estende até os dias atuais, indica a fonte de um movimento heterogêneo - abrange arte, teatro, literatura, filosofia -, que por conveniência poderemos identificar como a estética do absurdo. Alguns ilustres filiados a este movimento cujo foco é o absurdo são eles: Samuel Beckett e Eugène Ionesco.
Conhece Sartre em 1942 e tornam-se bons amigos no tempo de pós-guerra. Conheceram-se devido ao livro "O Estrangeiro" sobre o qual Sartre escreveu elogiosamente, dizendo que o autor seria uma pessoa que ele gostaria de conhecer. Um dia em uma festa em que os dois estavam, Camus se apresentou ao Sartre, dizendo-se o autor do livro. A amizade durou até 1952, quando a publicação de "O Homem Revoltado" provocou um desentendimento público entre Sartre e Camus.

A Morte em um acidente de carro
Camus morreu em 1960 vítima de um acidente de automóvel. Em sua maleta estava contido o manuscrito de "O Primeiro Homem", um romance autobiográfico. Por uma ironia do destino, nas notas ao texto ele escreve que aquele romance deveria terminar inacabado. Ao receber a noticia da morte de seu filho Catherine Hélène Camus apenas pode dizer: "Jovem demais." Coincidentemente ela também morre no ano de 1960. No seu bolso de Albert Camus constava um bilhete de comboio para sua viagem para fora do país, sob razões até hoje nunca esclarecidas.
Uma curiosidade sobre o acidente de automóvel: Camus não deveria ter feito a viagem para Paris de carro junto com os Gallimard (Michel, Janine e a filha deles Anne). Ele iria fazer esta viagem com o poeta René Char, de trem. Mas por insistência de Michel ele resolve ir de carro com eles. Char também foi convidado, mas não quis lotar o carro, além de já haver comprado sua passagem (Camus também já tinha seu bilhete de trem comprado quando foi convencido a ir de carro). No acidente de automóvel o Facel-Véga de Michel se espatifou em uma árvore. Apenas Camus morreu na hora. Michel morreu no hospital 5 dias depois. O relógio do painel do carro parou no instante do acidente: 13:55h. (Wikipedia)

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