terça-feira, março 03, 2009

Dicionário do mau digitador

Ernani Ssó

Digito bastante rápido, sem olhar o teclado, mas cometo um erro depois do outro. Esses erros, muitas vezes, são criativos — inúmeras palavras novas. Devo ter posto o Joyce no chinelo várias vezes. Pena que não anotei. Mas agora me baixou o caboclo anotador. Atenção, Aurélios e Houaiss, se segurem.
oOo Percebreu. Se dar conta da escuridão. oOo Métrodo. Um método para o uso do sistema decimal. oOo Etrapa. Etapa final, a do molambo.
Conterxto. Meio muito restritivo. oOo Tremática. Quando o assunto é a queda do trema. oOo Cesticismo. Total descrença nas cestas, talvez em jogos de basquete. oOo Desmonstrar. Não, não é tornar menos monstro. É dar exemplos que acabam com nossa argumentação. oOo Escreitor. Escritor que só escreve… bem, digamos, maus livros. oOo Intrenção. O que pretendemos fazer no trem. Não deve ser boa coisa, não. oOo Dexconfiança. Desconfiança que caducou, claro. oOo Semântrica. O mantra dos linguistas. oOo Expecialista. Um especialista caído em desgraça. oOo Documentias. CPF e RG de tias. Que amor! oOo Respostars. Respostas brilhantes. oOo Pararalisação. Nó na língua. oOo Especialistra. Aquele que entende do riscado, ou de pele de zebra. oOo Extapa. Etapa vencida. oOo Trécnico. Especialista em trecos. oOo Diamente. Diamante de vidro.
Você sabia?
O choro nos move 54 músculos, o riso 150 — se a gente não rolar no chão, nem dar tapas nos joelhos. Com dez gargalhadas por dia, quem precisa malhar?
Igualdade e igualdade
Thammy Gretchen, filha de Gretchen, disse: “Pra ser minha mulher tem que lavar minhas cuequinhas”. Essa macheza toda me lembrou de uma notícia que li sobre a onda reivindicatória que assola a Suécia. Vamos aos detalhes.
Um casal de lésbicas que tentava ter um filho através de inseminação artificial entrou na Justiça. Após três tentativas sem sucesso, uma das mulheres exigiu que a companheira também tivesse o direito de tentar a inseminação paga pela Saúde Pública. O juiz negou o pedido — porque um casal heterossexual não teria a mesma oportunidade de realizar uma dupla tentativa, uma vez que homens não podem engravidar.
Daí fiquei pensando besteira, como sempre: se essa mulher fosse a Thammy Gretchen, se a cena se passasse no Brasil? Se o juiz fosse um sujeito do tipo do Gilmar Mendes, com aquela cara de quem curte uma azia de estimação? Depois da sentença — um exemplo solene de imparcialidade —, ele diria, se inclinando sobre a escrivaninha, encarando a Thammy Gretchen nos olhos: “Conheceu, papuda?!”
Corretor politicamente correto
Esses dias o corretor gramatical do Microsoft Word 2003 me sugeriu trocar “veado” por “homossexual” ou “homossexuais”, errando o plural mais uma vez. Achei graça, porque eu me referia ao animal, que, é bem provável, ficaria ofendido de ser chamado de homossexual.
Encucado, escrevi puta. O corretor marcou como erro ortográfico, não gramatical, e fez várias sugestões, como pipoca, poeta. Respirei aliviado. Por um segundo temi que ele fosse me dizer: é a tua!
Qualquer palavrão o corretor ortográfico sublinha em vermelho. Se você manda adicionar o dito cujo ao dicionário, ele finge que sim, mas não adiciona. Se a coisa continua nesse passo, pensei, o corretor vai começar a fazer as correções à revelia do autor do texto.
Eu já andava pensando em voltar pra máquina de escrever quando foi lançado o Word 2007. Alguém teve a brilhante ideia de que um corretor ortográfico e gramatical não deve ser polícia moral.
Arte de amar
O amor devia vir com manual de instrução. Como uma dessas escrivaninhas que o freguês monta sozinho. (Coletiva.Net)

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