terça-feira, fevereiro 17, 2009

Macumbódromo

Ernani Ssó

O futebol tem os estádios, o carnaval a avenida, a corrupção é melhor nem falar, mas a macumba? Vai se contentar com qualquer esquina? Vai disputar ponto com prostitutas? Mais: os despachos ficam por aí, dias e dias, as galinhas apodrecendo, porque os lixeiros não são bobos, com essas coisas não se brinca. Mais ainda: os despachos correm o risco de ser chutados por algum gaiato que quer mostrar pra namorada o quanto é macho.
Por isso proponho, sem cobrar ou me candidatar a nada, apenas no interesse do nariz da comunidade e dos próprios despachantes desrespeitados, a construção de um macumbódromo. Isso mesmo. Digamos uma encruzilhada especial, com arquibancadas para turistas, seção para fotos com despachos legítimos ao fundo e venda de relíquias.
Galinha de despacho nem urubu encara. Mas isso, no fundo, é pura desinformação do urubu. Depois de um certo tempo os malefícios contidos no despacho acabam. Sem falar que o que para um urubu desconfiado não parece apetitoso ao sol do meio-dia, para um bêbado, às quatro da matina, em algum boteco por aí, pode ser uma festa.
Imagina o cardápio: Canja Mamãe Menininha, Frango Sincrético, Galeto al Primo Passe, Arroz de Preto Velho, Galinha de Terreiro, Coxinhas Abre Caminho, Miúdos com Encosto e outras babalorixazices com farofa. Do milho, pode se fazer canjica para sobremesa. As velas serão a iluminação ideal para um jantar romântico com economia de eletricidade. Ou, em caso de fracasso culinário, a galinha podia ser empalhada e vendida aos turistas. Seria bem mais original do que uma iquebana, por exemplo.
Os próprios macumbeiros deviam comercializar o despacho desativado. Ou, para fazerem uma média, doar a instituições de caridade. Para a coisa ficar mais oficial e burocrática, como se gosta tanto nestes terreiros tropicais, os despachos deviam ter um selo de validade, com data e tudo, como os produtos industrializados.
Começo a ficar francamente entusiasmado com meu tino comercial. Acho que vou pensar melhor naquele negócio de não cobrar ou me candidatar. Total, a comunidade faz muito pouco pelo próprio nariz.
Sonho americano
Segundo Homer Simpson, o sonho americano é matar o patrão e ficar gordo. Pode ser. Mas tem muito americano que prefere ser presidente e ir caçar gente no país dos outros.
Um sapo chamado Gerúndio
Tínhamos um cururu, na praia, que um amigo do meu filho batizou de Gerúndio, conhecido também, devido a sua imponência, por Dom Segundo Sombra. Esses tempos, escrevendo uma história infantil, chamei o sapo da bruxa de Gerúndio. Dias depois vi no Correio do Povo, na tira do André Macedo, um sujeito transformado em sapo por uma bruxa. Como ele se chama? Gerúndio. Fiquei embatucado: será que havia outro sapo chamado Gerúndio que eu, na minha santa e batráquia ignorância, devia conhecer? Os guris me juraram de pés juntos que toda a inspiração deles veio das aulas de português.
Enfim, eu estava pensando em trocar o nome do sapo pra Mais Que Perfeito, quando li no blog da Índigo, Diário da Odalisca, que ela topou com um livro infanto-juvenil inglês, escrito em 2004, com a mesma história que ela escrevia em 2008. Mais: o nome do personagem é o mesmo. Como sempre digo, o pior nas coincidências é que vêm sem legenda.
Folguedos acadêmicos
Segundo A. Cros, a retórica considera o preâmbulo como a parte inicial e de capital importância de um discurso retórico. Esses acadêmicos não são de nada. Eu, com a coragem que me caracteriza, considero o início a parte do começo. É pouco? Vou mais longe ainda: eu o considero de capital importância não apenas no discurso retórico, mas em tudo, até na hora de fritar um ovo, porque sem iniciar não dá pra começar. Tenho dito, se é que não me enrolei em minhas próprias palavras.
Trivialidade
Borges, lembrando os escritos da juventude: cifrava tudo por temer que o leitor se desse conta da trivialidade do que dizia. (Coletiva.Net)

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